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Ataque em Brasília: patrimônio pode ser recuperado

Valter Campanato/Agência Brasil
Leandro Grass: “As imagens mostraram a violência e o ódio empregados na ação dos terroristas”

O presidente e um técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, afirmaram em entrevista coletiva nesta quinta-feira (12) que os danos causados ao conjunto arquitetônico dos prédios públicos de Brasília (DF) pelos atos golpistas de domingo (8) poderão ser revertidos.

Um levantamento em texto e fotos das avarias no Congresso Nacional, no Palácio do Planalto, no Supremo Tribunal Federal, no Museu da Cidade, no Espaço Lúcio Costa e na Praça dos Três Poderes deve estar em um relatório a ser divulgado pelo órgão ainda nesta semana.

Os prédios e a praça são tombados e ficam sob responsabilidade do órgão do patrimônio. De modo geral, disse Mauricio Goulart, analista de infraestrutura do Iphan em Brasília, os danos aos edifícios são reparáveis. Trata-se de trocar vidros quebrados e portas arrombadas, além de arrumar pisos danificados pelo espalhamento de pó de extintor de incêndio.

Ainda não há uma estimativa de quanto os restauros vão custar aos cofres públicos nem do prazo para a conclusão dos reparos, afirmou Leandro Grass, presidente do Iphan, ressaltando que o relatório, elaborado nos últimos dois dias, é preliminar e deve ser aperfeiçoado com o tempo.

O Iphan não é responsável pelo acervo dos edifícios, como obras de arte, esculturas e mobiliário, pois esses bens não são tombados. Tais propriedades ficam a cargo das instituições sediadas nos prédios e restauros devem ser custeados com recursos próprios ou doações. Segundo Grass, a Câmara dos Deputados já trocou parte do mobiliário destruído pelos bolsonaristas radicais.

Ainda de acordo com o presidente do Iphan, não se pode afirmar agora que os golpistas que causaram os estragos vão arcar com os custos dos reparos - como ele afirmou que gostaria que acontecesse -, porque esta decisão ficará a cargo da Justiça. Grass disse que o Iphan está recebendo oferta de ajuda profissional de todo o Brasil para os restauros.

O relatório deve trazer uma lista de ações emergenciais a serem tomadas para que os prédios restabeleçam seu funcionamento e citar ações de médio prazo, como o restauro de superfícies de mármore danificadas.

As edificações da praça dos Três Poderes - o Palácio do Planalto, sede do Executivo, o Congresso Nacional, sede do Legislativo, e o Supremo Tribunal Federal, sede do Judiciário - foram tombadas em 2007 pelo Iphan. Brasília, cidade planejada na década de 1950 durante o governo de Juscelino Kubitschek, foi inscrita pela Unesco em 1987 na lista do patrimônio mundial.

Logo após os ataques de domingo, autoridades e instituições ligadas à proteção do patrimônio se manifestaram. Em nota, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo classificou a invasão como um atentado grave contra “o primeiro conjunto urbano do século 20 reconhecido como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas”. O Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, o Icomos Brasil, afirmou que vai acionar instâncias internacionais para investigar o caso.

Em entrevista ao Correio Braziliense nesta quinta, Leandro Grass explicou que na terça-feira a equipe do Iphan esteve no Supremo Tribunal Federal, no Palácio do Planalto e estava dialogando com o Congresso Nacional para verificar de maneira mais detalhada o que foi destruído.

“Não foi pouca coisa. As imagens mostraram a violência e o ódio empregados na ação dos terroristas. Há uma equipe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional trabalhando nesse momento em cooperação com o STF, o Planalto e o Congresso, na identificação dos bens, das obras e das danificações também dos edifícios. É um cenário de guerra o que nós encontramos. De fato, tudo foi destruído, praticamente. Muita depredação, muita violência.”

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