Mães de crianças que estudam em Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis) e escolas da rede municipal de Goiânia reclamam da falta de professores. Diante da situação, parte dos estudantes está sem ir às unidades, outros que têm aulas em tempo integral estão permanecendo apenas meio período, e os demais estão sendo acompanhados por coordenadores e auxiliares. A Secretaria Municipal de Educação (SME) diz que trabalha em um processo seletivo para a substituição de servidores efetivos em licença.
O ano letivo de 2024, que começou nesta segunda-feira (22), tem iniciado com falta de professores, de vagas para novos alunos, e a demora na entrega dos kits de materiais escolares e uniformes. O DAQUI também mostrou na edição desta terça-feira (23) que os contratos de fornecimento dos materiais e vestimentas ainda não foi assinado, e deve ter atraso na entrega às famílias. Já o edital de contratação de temporários, anunciado em dezembro passado, ainda não tem confirmação de quando será publicado.
Enquanto o processo não é aberto, unidades de ensino precisam se reorganizar para o atendimento aos estudantes. No Cmei da Boa Providência, no Setor Boa Vista, região Noroeste da capital, algumas turmas estão sem atendimento nesta primeira semana de aulas enquanto aguardam a chegada dos profissionais. A informação compartilhada pela direção do Cmei foi recebida pela dona de casa Laura Gonçalves, de 26 anos, mãe de um menino de um ano matriculado na unidade.
Ela conta que conseguiu a vaga para o filho no início deste ano, mas ele não está tendo aula diante da falta de professores. “Não tem como funcionar se não tem profissionais, mesmo a direção se desdobrando”, aponta. Com a ida dele à creche, Laura já tinha planos para fazer um curso de instrutora de autoescola no intuito de voltar a trabalhar. “Agora não terá como começar. Já remarquei para próxima turma que ainda não tem previsão”, lamenta.
A promotora de vendas Lígia Pereira, de 27 anos, tem buscado alternativas para deixar o filho de um ano e seis meses enquanto não há previsão de quando serão retomadas as aulas na turma dele no Cmei Herdeiros do Futuro, no Bairro Capuava, também na região Noroeste. “Tivemos uma reunião de pais na sexta-feira (19) e falaram que o agrupamento dele não teria aula porque estava esperando a Secretaria mandar professores. Eles não deram previsão, por enquanto não tem”, comenta.
Para Lígia, que trabalha fora, a solução tem sido deixar o filho em um berçário, pagando diária para a unidade no valor de 50 reais. Em outros momentos, quando há a possibilidade, o menino fica com a avó materna. “Mas é complicado porque minha mãe já tem mais de 60 anos e fica complicado de cuidar de um neném de um ano e seis meses”, pontua ela.
Além dos Cmeis de Goiânia, a falta de profissionais tem sido registrada em escolas municipais. Mãe de duas crianças, uma de 4 anos e outra de 6, a costureira Isabella Oliveira, de 24, tem levado os filhos para o trabalho enquanto as unidades seguem com um fluxo de atendimento diferenciado. A filha mais velha estuda na Escola Municipal Ayrton Senna, no Jardim Curitiba, e o mais novo no Cmei Parque Tremendão, no setor homônimo, ambos na região Noroeste.
No Cmei, que funciona em tempo integral, as aulas têm ocorrido em meio período. Já na escola, os profissionais estão precisando juntar as turmas. “Só tem uma professora para o primeiro ano. Lá são quatro turmas”, comenta. E acrescenta: “A partir de amanhã (quarta-feira, 24), se não chegarem os professores, irá começar o rodízio. Alguns dias da semana terá aula, e outros não.”
Para a dona de casa Daniele Brito, de 27 anos, a ida do filho de quatro anos à Escola Municipal Maria Helena Batista Bretas, no Setor Urias Magalhães, na região Norte da capital, não tem sido afetada. No entanto, na unidade, a criança matriculada para dar início às atividades estudantis neste ano tem permanecido com auxiliares e coordenador pedagógico, diante da falta de professores. “Meu filho ficou lá só com a auxiliar, e a coordenadora está ajudando. Mas é ruim, porque tinha de ter uma professora”, lamenta.
O jornal apurou que ao menos dez escolas municipais, dois Cmeis e um Centro de Educação Infantil (CEI), unidades conveniadas à SME, estão buscando pedagogos e professores neste início de ano. Uma diretora de uma unidade, que não será identificada, confirmou que faltam seis professores para o período vespertino. Uma professora de Cmei também assegurou que faltam profissionais na unidade, mas as aulas seguem normalmente diante de ajustes internos para conseguir manter o atendimento integral.
Em nota, a SME diz que “trabalha na conclusão de um novo processo seletivo para a substituição de servidores efetivos que estão afastados por algum tipo de licença”. Além disso, destaca que “convocou 1.183 aprovados no último concurso público e avalia com responsabilidade fiscal novas convocações”. Sem citar quaisquer problemas com a falta de profissionais neste início de ano, finaliza: “As aulas e atividades presenciais na rede municipal de ensino foram retomadas nesta segunda-feira (22) e o atendimento segue conforme o programado.”
Processo seletivo segue sem data
Um novo processo seletivo simplificado para contratação temporária de até 454 profissionais da educação está previsto ao menos desde o fim de dezembro passado. O DAQUI mostrou na edição do dia 21 daquele mês que as vagas contemplam professores, pedagogos, agentes de apoio educacional, assistente administrativo e auxiliar de atividades educativas.
A previsão da Secretaria Municipal de Educação (SME) era dar início às convocações dos aprovados a partir do fim de janeiro deste ano. No entanto, ainda não houve publicação do processo seletivo, que será feito mediante análise de títulos e experiência profissional, sem a necessidade de prova ou outros processos avaliativos.
A nova seleção substituiria o último edital, ocorrido no final de 2021, tinha prazo para convocação até dia 21 de dezembro. Com o tempo vencido, não é possível mais chamar os aprovados naquele processo. Muitos atendiam vagas de profissionais efetivos afastados por motivos de doença, ou por outras licenças temporárias.
Conforme o DAQUI mostrou à época, a elaboração do novo processo seletivo é trabalhada desde maio deste ano, ainda sob a gestão do então titular da pasta, Wellington Bessa. Dois despachos já chegaram a ser publicados no Diário Oficial do Município (DOM) tratando do edital, em julho e novembro.
Nos documentos, o atual titular da SME, Rodrigo Caldas, apontou que o processo seletivo é de “inequívoca necessidade urgente” e de “excepcional interesse público”, além de destacar que o déficit de servidores tem provocado sobrecarga nos demais. As 454 vagas previstas já foram divulgadas no DOM, mas ainda não há previsão de quando o edital será divulgado e, tampouco, quando terão início às convocações.
A reportagem solicitou o quantitativo de servidores afastados, de contratos que estão em vigência e também os que foram encerrados no início de 2023. Até o fechamento desta edição, não obteve retorno.