Geral

Bariani Ortencio morre aos 100 anos

Wildes Barbosa
Bariani Ortencio em sua casa, na região central de Goiânia

O Cerrado retorcido, o Rio Araguaia, a construção de Brasília e o seu tão querido Bosque dos Buritis foram narrados por Waldomiro Bariani Ortencio, que viu de perto, com seu olhar aguçado, o crescimento de Goiânia pela janela de sua casa, localizada em frente à Praça Cívica. 

Pesquisou o que o goiano come, fala e cura. Morreu rodeado pelos filhos em sua residência, aos 100 anos. O corpo será sepultado neste sábado (16), a partir das 6 horas, no cemitério Jardim das Palmeiras. 

Em 2022, Bariani sofreu um AVC em sua casa, que serve de local para o instituto que leva seu nome. Desde então, passou os dias em reclusão no primeiro piso da residência, recebendo amigos e familiares. Não escreveu mais crônicas e outros textos, mas deixou um último livro de romance para ser publicado. 

O folclorista não nasceu em Goiás, mas escreveu como ninguém sobre as belezas e as pessoas que habitam o Estado. É natural de Igarapava, cidadezinha margeada pelo Rio Grande, divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Saiu de lá aos 15 anos com a família Ortencio para tentar a vida na então nova capital de Goiás em uma viagem de caminhão de oito dias. 

“Goiânia era pequena e hoje é um mundo. O importante é preservar a história, para que as pessoas no futuro possam reconhecer a identidade e a cultura de um povo”, exclamou o escritor em entrevista em 2020. Na época, primeiro ano da pandemia, o Bariani lutava pela preservação de sua casa, um exemplo da arquitetura modernista goianiense. 

História

“Manter e preservar a história da cidade é a garantia da nossa identidade, de quem somos e do lugar onde habitamos. Essa casa faz parte de algo maior”, refletiu. 

A residência, que também é o Instituto Bariani Ortencio, reúne uma biblioteca particular com troféus, medalhas, cassetes, vinis e CDs, além de uma estante que guarda mais de 3 mil tesouros literários únicos. 

Parte dos mais de 50 livros publicados ao longo da carreira de Bariani falam sobre as culturalidades do interior do Brasil Central. O primeiro livro publicado foi O que Foi pelo Sertão (1956). Depois, viriam mais outras obras emblemáticas com diversas temáticas relacionadas ao regionalismo. 

“Existem dois tipos de bobos: o que empresta livros e o que devolve”, brincou Bariani

Sebastião Nogueira
Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI