Um extenso corredor de cores cria uma experiência como se, quem passasse por ali, estivesse saindo do caos da Avenida Anhanguera com seu o estrondoso Eixão para adentrar a um mundo nutrido de imagens cheias de vida. A Viela Miguel Rassi, carinhosamente conhecida como Beco da Codorna, já figura entre uma das paradas obrigatórias para quem deseja fazer uma imersão ao bairro histórico de Goiânia. Agora de cara nova, o local passou por um projeto de restauro de seus grafites nos últimos dias, fruto de uma empreitada da Associação dos Grafiteiros de Goiânia.
Ao longo de quatro dias, cerca de 100 grafiteiros de todo o País se reuniram no Beco para estampar trabalhos com conceitos, técnicas e traços distintos. Há de tudo ali, desde o grafismo urbano, com letras e frases muito bem desenhadas, passando por pinturas 3D que invadem o piso do local, até rostos e olhos que parecem pular dos muros e criar vida própria. A ideia do Festival do Beco é promover a revitalização do ponto do Centro, além de passar para frente a cultura do grafite em Goiânia.
“É um grande encontro de artistas de todo o País que projetam grafites específicos para o local. Quem ganha, no final, é a cidade”, aponta um dos organizadores do projeto, o produtor CD Jota. Entre os artistas que foram selecionados pela curadoria do evento estão, por exemplo, Bruto, Jaman, Efixis e Max, do Rio de Janeiro, Nikol, Does e Shock, de São Paulo, Neros, Micro, Guga e Mudof, do Distrito Federal, e Rotka, do Chile. De Goiás, diversos profissionais participaram da ação, como Selon, Rubin, Irmãos Credo, Decy, Wes e Smile.
Retorno das atividades
O projeto de botar cor no Beco da Codorna marca o retorno das atividades da associação no local depois de seis anos. O último Festival do Beco, por exemplo, aconteceu em 2016, quando 70 artistas revitalizaram a viela. Neste ano, a ação teve apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás. “O desejo é ocupar os espaços urbanos, produzindo arte em sintonia com o que acontece com as transformações do grafite brasileiro. Costumamos chamar o evento de uma espécie de congresso, porque a troca de experiência é intensa”, explica CD Jota.
Com novos grafites, o Beco da Codorna agora já serve para palco de ensaios fotográficos, parada para observação de uma galeria a céu aberto, além de eventos menores, como feirinhas e oficinas. A ideia, de acordo com o produtor, é que todos da cidade, além dos turistas, possam usufruir da viela, localizada entre importantes pontos históricos de Goiânia, como o Teatro Goiânia, a Vila Cultural Cora Coralina, a Rua do Lazer e o Centro Cultural Octo Marques.
“Precisamos do olhar do poder público para zelar pelo espaço”, adianta CD Jota. Aos finais de semana, o Beco pode até ser um espaço para turismo e arte, mas durante os dias de semana o local serve como estacionamento para carros. Em 2019, na gestão do então prefeito Iris Rezende, CD Jota explica que até chegou a se pensar um termo de convênio para que a própria Associação dos Grafiteiros de Goiânia zelasse pelo espaço, mas a pandemia travou a reforma do local.
Ainda nesta semana, os coordenadores da associação têm uma reunião marcada com o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) para tratar de diversas pautas do grafite em Goiás. “Queremos levar o tema do fechamento do Beco para carros, que é muito importante para nós. Diversos grafites 3D, por exemplo, só podem ser feitos se não tiver automóveis no local. É preciso que dê suporte à área, como iluminação, limpeza. O Beco não pode ficar abandonado, ele precisa ser reconhecido como um importante ponto de turismo e cultura da capital”, argumenta CD Jota.