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BRT é executado com 12 alterações no projeto

Diomício Gomes
Ônibus em plataforma do BRT Norte-Sul na Rua 84, no Setor Sul, em Goiânia: início da operação está mantido para este sábado (31), com cinco linhas exclusivas para o modal

O BRT Norte-Sul (BRT NS) de Goiânia, corredor de trânsito rápido para o transporte coletivo, foi projetado em 2010 e licitado em 2014, tendo sua execução iniciada em abril de 2015 com previsão de término em 20 meses, mas durou 9 anos e 4 meses. A operação foi iniciada neste sábado (31) e, ao longo do tempo, ao menos 12 mudanças foram feitas no projeto ou na execução ou mesmo no que era pensado para a operação. As alterações mais visíveis e polêmicas se deram na Praça Cívica e na Avenida Goiás em relação às estações de embarque e desembarque. No caso da praça, eram projetadas estruturas de arquitetura Art Decò, por se tratar de um local tombado como patrimônio histórico.

As estações se assemelhariam ao Coreto, situado em frente a Avenida Goiás e também patrimônio histórico, com o teto ovalado e decorado. No entanto, a execução da obra se deu de modo que as estações ficassem padronizadas em estrutura metálica e em nada lembram o estilo arquitetônico que caracteriza a Região Central de Goiânia e os prédios presentes na Praça Cívica. Situação semelhante se deu na Avenida Goiás, que teriam 9 estações menores dispostas de forma alternada em cada lado da via, com o objetivo de manter a paisagem do canteiro central da Avenida Goiás. No entanto, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vetou a proposta original e aceitou o projeto de fazer três grandes estações que atendessem aos dois lados da via ao mesmo tempo.

A ideia era de que, embora com estruturas mais robustas, o espaço total atingido seria menor e mais concentrado, além de um menor quantidade de árvores a serem derrubadas na avenida. Com isso, a via passou a ter as maiores estações ao longo do BRT NS, que abrangem todo o canteiro central da principal via da capital em três trechos. A intervenção do Iphan também provocou alteração na execução do projeto na Praça do Cruzeiro, em que eram previstos dois cortes no local para a instalação das estações, de modo que os ônibus entrassem no espaço e permitissem que outros veículos utilizassem a via sem que fosse gerado um comboio.

Porém, a Praça do Cruzeiro foi tombada em um processo judicial em 2014, sendo ilegal a mudança do seu desenho e, logo, não foi mais possível realizar os cortes. A mudança fez com que as estações fossem colocadas próximas às vias, e para ter o espaço para a realização de ultrapassagens dos ônibus no local, foi necessário reduzir o tamanho das vias compartilhadas nas proximidades dos locais de embarque e desembarque ao BRT NS e a retirada de parte das calçadas. O mesmo ocorreu na Rua 90, nas proximidades das estações de embarque, com a redução de parte do espaço dos pedestres e dos postes de energia.

Via inutilizada

Outra mudança estrutural na realização do BRT NS de Goiânia se deu anos depois que um trecho da via exclusiva já estava até mesmo construída. Ainda na primeira etapa de construção do BRT NS, as pistas do corredor de ônibus nos sentidos sul-norte e norte-sul passariam circundando a Praça da Estação Ferroviária, logo em frente a Câmara Municipal da capital. Elas foram finalizadas ainda em 2016. No entanto, em 2019, com as obras da continuação da Avenida Leste-Oeste na região Central de Goiânia, foi necessário fazer uma adaptação no projeto do corredor de transporte coletivo, de modo que a via passou a ser na própria Avenida Goiás, entre as praças Estação e Trabalhador, com um cruzamento semafórico com a Leste-Oeste. A previsão é que esse semáforo dê prioridade aos ônibus.

Por outro lado, a pista que foi feita, a princípio, para os ônibus, foi incorporada às ruas da cidade, e é mais utilizada atualmente como estacionamento para os visitantes da Câmara Municipal. O BRT NS também teve de ter o projeto adaptado no cruzamento da Avenida Goiás Norte com a Avenida Nerópolis, já no Setor Jardim Balneário Meia Ponte. Isso porque o projeto do corredor exclusivo previa o uso de todo o canteiro central das vias, especialmente desta, que tinha o espaço extenso e capaz de receber as pistas exclusivas. Isso ocorreria com a extirpação de todas as espécimes arbóreas do local e a garantia de plantio de outras como compensação ambiental, tanto na divisa das pistas exclusivas com as compartilhadas como em outros locais da cidade.

Contudo, uma espécime sobreviveu a este projeto. É uma gameleira localizada justamente no cruzamento da Goiás Norte com a Nerópolis. A árvore, até 2015 era apenas mais uma na capital, mas com o avanço das obras do BRT NS em sua direção, houve a aprovação na Câmara Municipal de uma lei que a tornava patrimônio histórico da cidade, com a justificativa de ser uma das primeiras espécimes da região e plantada por fundadores do bairro. A partir disso, as vias exclusivas do BRT NS tiveram que circundar a gameleira, que ficou isolada no local. A árvore chegou a ser alvo de um incêndio em julho de 2022, com a provável responsabilidade de um descuido de um morador de seu interior, visto que foi encontrado um fogareiro e roupas na árvore.

Já no cruzamento das avenidas Goiás Norte com Perimetral Norte, o projeto do BRT NS previa um viaduto diferente do que foi instalado no local. A ideia projetada era uma obra com três níveis, semelhante ao que se tem na Avenida Jamel Cecílio com a Marginal Botafogo. No caso, a pista do corredor de ônibus seguiria no nível normal da via, justamente para dar mais velocidade aos ônibus, sem ter que subir ou descer uma passarela. Enquanto que o tráfego da Goiás Norte seguiria na passarela e o da Perimetral seria no nível mais rebaixado. No entanto, houve desacordo com os imóveis do local que seriam desapropriados para dar espaço à construção e a solução mais viável foi fazer a passarela sobre a Perimetral Norte para os ônibus.

Operação do corredor já teve projeto para uso de apenas 1 linha

A operação do corredor de trânsito rápido norte-sul (BRT NS) em Goiânia já foi pensada de diversas maneiras antes de se chegar a ideia que passa a valer neste sábado (31) com cinco linhas em operação. No projeto original, a ideia era ter duas linhas, uma saindo do Terminal Recanto do Bosque e chegando até o terminal que seria (e foi) construído em frente à Rodoviária e outra que sairia do Terminal Cruzeiro do Sul, em Aparecida de Goiânia, e chegaria até a Praça Cívica.

O trecho entre a Praça Cívica e o Terminal Rodoviária (hoje feito e chamado de Paulo Garcia) seria feito por outras linhas, usando a Avenida Goiás, com a pista exclusiva já construída anteriormente e que seria apenas revitalizada. Já quando o BRT NS começou a ser construído, em 2015, essa ideia do projeto original já tinha sido substituída, com a intenção de ter apenas uma linha em toda a extensão, que faria a ligação entre os terminais Recanto do Bosque e Cruzeiro do Sul. Em 2020, a nova proposta seria novamente com duas linhas, mas desta vez ambas chegariam ao Terminal Paulo Garcia, onde seria feita a integração norte-sul.

Desta feita, já se sabia que o trecho entre os terminais Isidória e Cruzeiro do Sul não ficaria pronto ao mesmo tempo que do Recanto do Bosque ao Isidória e, assim, o trajeto das linhas seriam a partir destes últimos terminais citados. Já em 2023, a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) chegou a divulgar a operação do BRT NS, prevista, naquela época, para o segundo semestre do mesmo ano, com seis linhas, sendo a mesma premissa de ligação das regiões norte e sul com a central.

Na época, já se falava em prolongamento dos trajetos para locais que não teriam o corredor exclusivo, como do Isidória ao Veiga Jardim e do Isidória ao Setor Parque Atheneu. Este último nunca tinha feito parte do projeto do BRT NS e foi incorporado apenas recentemente. Por fim, restaram cinco linhas, retirando a que seria do Terminal Cruzeiro ao Paulo Garcia.

BRT entra em operação

Os primeiros ônibus do sistema BRT Norte-Sul da região metropolitana de Goiânia entram em operação às 4h21 deste sábado (31). O corredor passava pelos últimos ajustes no final da tarde e na noite desta sexta-feira (30). A reportagem de O jornal andou por toda a extensão do corredor construído, entre os terminais Recanto do Bosque e Isidória e todas as estações passavam por ajustes, como limpeza e instalação dos equipamentos. No Recanto do Bosque, por exemplo, novas catracas estavam sendo instaladas no terminal e folhetos informativos eram distribuídos aos usuários.

No entanto, para quem embarcava fora dos terminais na região noroeste da capital não havia informativos nos pontos e nem mesmo dentro dos ônibus da Linha 013, uma das que serão extintas. A informação, no entanto, corria boca a boca entre os passageiros, em que muitos não sabiam que a partir deste sábado (31) haveria mudanças no itinerário e nas linhas. Alguns usuários reclamaram da mudança, sobretudo pela distância que terá de ser percorrida a pé de casa até o corredor exclusivo. 

Isso ocorre porque os pontos de ônibus utilizados até então ficam instalados no interior dos bairros, mais próximos das casas, enquanto que as plataformas do BRT NS ficam nas avenidas, mais próximas dos comércios. Já nas linhas do centro em direção à região sul, onde há maior demanda, havia servidores da rede metropolitana informando sobre o início do BRT e fim de determinadas linhas, como 006 e 007, assim como também dentro dos ônibus.

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