As obras do BRT Norte-Sul completam oito anos em março, ao custo de R$ 81,9 mil por dia, considerando a data de início e a entrega prometida para junho deste ano. No total, serão mais de R$ 245 milhões gastos em 2.995 dias. O prazo já é quatro vezes maior que o prometido, o que tornou a construção R$ 51,8 milhões mais cara em um dos trechos.
A ordem de serviço do corredor exclusivo de ônibus foi assinada pelo prefeito Paulo Garcia (PT) em 19 de março de 2015. Um mês depois, em 18 de abril, as máquinas entraram nos canteiros. Em 2018, o projeto foi desmembrado nos trechos 1 (entre os terminais Isidória e Cruzeiro do Sul) e 2 (entre o Recanto do Bosque e Isidória). Os trabalhos avançaram apenas na segunda parte do corredor. Para o trecho 1, nova licitação ainda terá de ser realizada.
O valor desperdiçado com os seguidos atrasos, seria suficiente para comprar 69 ônibus aptos para operar no BRT ou um total de 12 milhões de passagens de ônibus.
O aumento de R$ 51,8 milhões é resultado de aditivos no contrato que foram realizados em razão do atraso. Esse valor está sendo usado para uma obra ainda incompleta com relação ao projeto original, já que em 2018 houve o desmembramento de trechos do corredor exclusivo. Na ocasião, uma negociação de um acordo com o Ministério Público Federal (MPF) para a retomada da construção, que estava parada desde julho de 2017, fez com que a licitação de 2014 fosse para construir apenas o trecho II, que corresponde ao trajeto entre os terminais Recanto do Bosque e Isidória.
Mesmo com 8 anos de obra e aditivos, ainda ficará faltando o trecho I, situado entre os terminais Isidória e Cruzeiro do Sul, este já em Aparecida de Goiânia. Com relação apenas ao período de atraso, que corresponde a 2.414 dias, a contar de novembro de 2016, e os aditivos, o custo da demora em entregar o corredor exclusivo de ônibus é de 21,49 mil por dia.
Economista e doutor em Transportes, o coordenador do Fórum de Mobilidade Mova-Se, Adriano Paranaíba, entende que a obra do BRT Norte-Sul já dura há tanto tempo que “corremos o risco das pessoas duvidarem do serviço e da segurança”. Para ele, devido os percalços que a construção gerou às pessoas de toda a cidade, tanto pela demora quanto pelos desvios no tráfego e outros problemas, os usuários do sistema de transporte coletivo metropolitano passarão a questionar, quando o corredor for entregue, se de fato foi feito da maneira correta ou fizeram de um jeito apenas para encerrar o serviço devido às críticas.
Paranaíba avalia que as demoras nas construções ocorrem ainda por problemas nas licitações. “Ficam tentando atender uma demanda emergencial, fazem um edital mal feito, querem fazer em menos prazo para tentar entregar a obra mesmo sabendo que não vai conseguir”, avalia. Ele cita como exemplo o fato dos períodos chuvosos serem bem demarcados em Goiânia, onde é possível planejar os serviços a serem feitos durante a seca, mas que isso não ocorre e depois os construtores recebem aditivos nos contratos sob o argumento de que a chuva impossibilitou a continuidade do trabalho.
Adequações no projeto
Para a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra), órgão responsável pela obra do BRT Norte-Sul, os principais motivos para a demora na entrega do corredor exclusivo de ônibus foram “a necessidade de adequações de projetos; desapropriações de áreas urbanas; imprevisibilidades de algumas interferências; aprovações dos projetos e autorizações do Iphan para execução de obras em áreas tombadas pelo Patrimônio Histórico e as alterações, solicitadas pelo Iphan, dos projetos das dez estações compreendidas entre a Praça Cívica e a Praça do Trabalhador”. A Seinfra cita ainda “o longo período da pandemia de Covid-19, que causou grande impacto na produtividade, falta de insumos pelo fornecedor e atraso na entrega”.
Ao todo, a obra iniciada em 2015 com a previsão de entrega no fim de 2016, passou por três paralisações totais e pelo menos outros três períodos em que a informação oficial foi de que havia um ritmo lento dos serviços. O último caso foi em fevereiro de 2022, quando houve uma diminuição nos trabalhos e até mesmo previsão de paralisação por atraso, de cerca de cinco meses, no pagamento do consórcio responsável pela construção e das empresas que realizam a supervisão da obra. Desde o segundo semestre do ano passado, no entanto, a estimativa de finalização do trecho II do corredor está para o fim de junho deste ano.