Geral

Céu laranja: Entenda como queimadas mudam cor do céu

Reprodução/TV Anhanguera
Céu laranja em Jataí

Um céu laranja e um sol vermelho. Imagens do céu de Jataí, no sudoeste goiano, impressionaram pela cor forte e diferente do habitual. De acordo com o diretor da instituição de astronomia Plêiades do Sul, Ary Martins, o fenômeno acontece por conta do excesso de queimadas. “A elevação de fuligens e a própria poeira, típica dessa época do ano aqui em Goiás, manifestam esse tipo de céu alaranjado”, disse.

De acordo com o astrônomo, a cor do céu depende da dispersão da luz solar, que é composta por ondas com diferentes comprimentos e cores, como o azul. Respondendo a clássica pergunta ‘porque o céu é azul?’, Ary explica que a luz azul tem um comprimento de onda menor do que outras cores que compõem o céu, como laranja e vermelho. As ondas curtas do azul refletem sempre e "provocam a ‘azulidão’ típica do céu", segundo ele, mas outras cores também são espalhadas.

“Esse excesso de fumaça, excesso de partículas suspensas, bloqueia as ondas curtas com mais facilidade. Ondas que tendem ao azul, por exemplo. Então, essas ondas são filtradas melhor de modo que as ondas longas, que estão ali entre o laranja e o vermelho, conseguem chegar melhor e impactar a nossa visão. Por isso que a gente tem esse espectro tendendo para o laranja e para o vermelho, porque são as ondas que conseguem ‘perfurar’ [a atmosfera]”, explica ele.

O astrônomo pontua que isso acontece porque há mais “carbono molecular na atmosfera (fuligens), gás carbônico, monóxido de carbono e vapor d'água”, resultantes das queimadas e poluição. “Quando o céu está carregado desse tipo de pluma, provocado pela fumaça das queimadas e pela poluição, as ondas mais longas, como o laranja e o vermelho, se espalham muito. Então isso favorece o céu ficar mais alaranjado, sobretudo no início da manhã e no final da tarde”, afirmou. Ele explica que o sol e também a lua ficam avermelhados. 

Queimadas em Jataí

Uma queimada isolada nem sempre causa esse fenômeno, explica Ary, que associou o céu alaranjado ao excesso de queimadas. Em Jataí, onde o vídeo foi gravado na segunda-feira (9), foram registrados 168 focos de incêndio na região somente nesta data, de acordo com a Prefeitura. As imagens foram gravadas por volta das 11h45 pelo fotógrafo Tiago Araújo.

Ao Daqui, o fotógrafo relatou que andava pela Avenida Goiás, no Setor Central, quando percebeu o fenômeno. Mesmo com máscara, o cheiro da fumaça ainda era forte, segundo ele. “É um tanto assustador, parecia coisa de filme, muito triste. Eu ainda estava de máscara, e mesmo assim sentia o cheiro, junto também com o ar seco", descreveu. 

A Prefeitura de Jataí informou que suspendeu as aulas nas escolas municipais na zona rural. Além disso, afirmou que tem dado apoio com maquinário e caminhões pipas para conter os incêndios. Apesar disso, a gestão municipal não tem previsão de decretar estado de emergência devido às queimadas: "Na cidade estamos fazendo campanhas de conscientização junto à população".

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que Jataí é a que mais apresenta focos de incêndio neste começo de semana. Foram 244 registros apenas de domingo (8) para segunda (9).

Ranking de focos de incêndio de 8 a 9 de setembro:

Jataí - 244 focos, 20,1% do total
Rio Verde - 228 focos, 18,5% do total
Mineiros - 77 focos, 6,3% do total
Perolândia - 33 focos, 2,7% do total
Formosa - 31 focos, 2,6% do total

Alta do registro de focos

O Comitê Estadual de Gestão de Incêndios Florestais em Goiás registrou no último fim de semana 467 focos de incêndio em todo o estado. O número já supera todo o registro de setembro de 2023. A proporção de área queimada no município de Jataí, nesta segunda-feira (9), chamou a atenção dos especialistas que monitoram os incêndios.

Neste sábado (7), a pista da BR-364 foi interditada até que os focos de incêndio fossem controlados pelos bombeiros e a visibilidade melhorasse. Uma equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Jataí esteve no local para controlar o trânsito. De janeiro até setembro, a soma já chega a 8.623 queimadas e supera o ano passado, quando houve 2.029 incêndios em vegetação, de acordo com os dados do comitê.

Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI