As pessoas que fazem o uso de cadeiras de rodas e dependem do transporte coletivo na Grande Goiânia estão enfrentando a intensificação de dificuldades diante da recorrência de defeitos nos elevadores instalados nos ônibus. Nesta semana, uma denúncia sobre a linha que liga Goianira à capital constatou que de dez veículos que atendem o trecho, cinco estavam sem o equipamento em funcionamento.
A denúncia sobre os problemas na linha foi feita por Diego Jesus, morador de Goianira que depende do transporte público diariamente. Ele conta que o problema já é antigo, mas que foi intensificado nas últimas semanas. “Antes era um sim outro não. De algumas semanas para cá se tornou impossível. Passam dois, três e os motoristas sempre apontando para baixo, falando que está estragado”, afirma Diego.
O relato de Silva foi protocolado junto à Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) por iniciativa do vereador de Goiânia Willian Veloso. Em resposta, a CMTC informou que a linha é atendida por veículos da Metrobus e Rápido Araguaia. Dos dois da Metrobus, um estava com defeitos no equipamento. Dos oito da Rápido Araguaia, quatro não estavam com o elevador funcionando.
A Associação dos Deficientes Físicos do Estado de Goiás (Adfego) diz que monitora dezenas de reclamações parecidas. O coordenador de Esportes da entidade, Johnathan Leal, diz que as questões são observadas em todos os tipos de ônibus, tanto nos articulados como nos convencionais. “Hoje a frota está sucateada, com mais de 12 anos e por isso os equipamentos vão estragando”, destaca sobre os elevadores.
Dificuldades
Diante dos problemas nos elevadores, Diego Jesus relata que em muitas situações os cadeirantes precisam ser embarcados por outros passageiros, o que traz constrangimento. “Só consigo subir e descer com a ajuda do pessoal. Não gosto de subir no ônibus nos braços das pessoas”, reclama Diego.
O vereador Willian Veloso, que é usuário de cadeira de rodas há 30 anos, diz que como parlamentar recebe relatos sobre esse problema de forma recorrente. “São equipamentos que estão ficando velhos, que precisam ser trocados. Com chuva, poeira e lama tendem a estragar mais, o que aumenta no período chuvoso”, avalia.
Para o vereador, esta questão representa um obstáculo a algo fundamental para as pessoas que dependem desses equipamentos. “Os ônibus têm total importância para essas pessoas. Você só vai ter acesso ao emprego, à educação, à faculdade, na maioria das vezes, por meio do transporte público. É o transporte público que faz com que a pessoa com deficiência seja notada e note as cidades”, diz Willian.
Dimensão
O Daqui entrou em contato com as duas empresas que tiveram problemas identificados em seus veículos na linha de Goianira. O questionamento principal era o número de outros ônibus com os equipamentos estragados para que o problema pudesse ser dimensionado. No entanto, tanto a Metrobus como a Rápido Araguaia não apontaram esse número.
A Metrobus informou que da sua frota em operação, atualmente composta por 52 ônibus, cerca de dez não possuem elevadores, mas não citou se há problemas identificados entre aqueles que são equipados. No entanto, garantiu que há testes regulares. “Todos os veículos em operação dotados de elevadores passam por manutenções periódicas frequentes”, afirma nota.
Ao destacar que eventuais problemas são corrigidos e que todos os motoristas são treinados para operar corretamente o sistema de acessibilidade, a Metrobus cita que, “infelizmente, identifica ações de vandalismos durante as viagens”, ao levantar a possibilidade de os problemas estarem também relacionados a esses atos.
Já a Rápido Araguaia, que teve o problema identificado em quatro de oito veículos, informou que não iria se posicionar sobre o problema.
A CMTC, responsável pela fiscalização, diz que todos seus técnicos realizam, mensalmente, vistorias em toda a frota do transporte público coletivo. “Os defeitos encontrados por nossos fiscais que colocam em risco a segurança dos nossos usuários são imediatamente enviados para as equipes que são responsáveis pela manutenção de cada empresa, tendo imediato retorno quanto ao recolhimento do veículo e execução da ‘Ordem de Serviço’ para o reparo do defeito encontrado. Os demais defeitos encontrados por nossos fiscais nos veículos são inventariados diariamente e após processamento interno notificamos as empresas responsáveis para o devido reparo”, diz.
Outros problemas persistem
No Brasil, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 45,6 milhões de cidadãos, ou 23,9% da população, possuem alguma deficiência, sendo que cerca de 13 milhões são deficientes físicos. Em Goiás, o porcentual de deficientes corresponde a cerca de 1,6 milhão de pessoas, sendo que cerca de 600 mil são deficientes físicos.
O representante da Adfego, Johnathan Leal, lembra que a Grande Goiânia segue com graves problemas estruturais que inviabilizam o direito à mobilidade das pessoas com deficiência. “Estabelecem lei, mas não há cobrança e por isso poucas pessoas aderem”, diz ao citar a lei que padroniza as calçadas e determina a instalação de piso tátil nas calçadas. “As calçadas estão esburacadas”, sintetiza.
Em maio do ano passado, o Daqui mostrou que, seis anos após a instalação de pisos táteis se tornar lei, diversos pontos da capital têm falhas no dispositivo de acessibilidade, o que inclui desgastes e peças quebradas. A deterioração somada a uma adesão lenta faz com que os benefícios da lei, nos moldes em que está, sejam colocados em xeque.
Na época, o vereador Willian Veloso destacou a necessidade de discutir a efetividade da lei. O parlamentar afirmou que, além das falhas na fiscalização, o goianiense não abraçou a importância dos pisos táteis. “Achava-se que após a lei haveria empatia, mas está constatado, até o momento, que sem provocação legal, a instalação e a manutenção não são feitas”, disse em destaque.