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Calor bate recorde em Goiânia e deve piorar nos próximos dias

Fábio Lima
Mulher tenta-se proteger com um guarda-sol no centro de Goiânia

Goiás não conseguiu escapar da onda de calor extremo que atinge a maior parte do Brasil. Nesta quarta-feira (20), Goiânia registrou a tarde mais quente do ano até o momento: 38,3°C. Segundo especialistas, o ápice das altas temperaturas ocorrerá nos próximos dias e o cenário só deve melhorar a partir da próxima quarta-feira (27), com a ocorrência de pancadas de chuva. As regiões mais afetadas são o Oeste, Sudoeste e Noroeste goiano (veja mapa). Até o final desta semana, a capital pode registrar 40°C e cidades como Nova Crixás podem alcançar os 42°C.

Uma onda de calor acontece por conta da presença de um sistema de alta pressão atmosférica na superfície terrestre, que atua como bloqueio para o avanço de sistemas frontais (massas de ar frio) e contribui com a formação de uma “bolha de calor” formada de ar quente e seco, o que aumenta as temperaturas e diminui a umidade relativa do ar. No País, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são os estados mais afetados.

Nesta terça-feira (19), duas cidades goianas entraram na lista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) das maiores temperaturas registradas naquele dia: São Miguel do Araguaia (39,5°C) e Aragarças (39,3°C). Ambas fazem divisa com o Mato Grosso. Na última segunda-feira (18), o Inmet liberou o alerta de onda de calor para Goiás.

“O que contribui para ser chamada de ‘onda de calor’ é a persistência de vários dias com temperaturas elevadas, com 5°C acima da média. Em Goiânia, por exemplo, a média de setembro é de 34°C. Ela tem ficado em torno de 37°C ou 38°C. A tendência é aumentar ainda mais (a temperatura) na sexta-feira (22) e no final de semana, podendo chegar até os 40°C”, esclarece Elizabete Alves Ferreira, meteorologista do Inmet em Goiás.

O Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo) prevê que locais como Aruanã, no Oeste do estado, podem alcançar os 43°C durante o final de semana. O gerente do Cimehgo, André Amorim, aponta que o cenário de calor extremo em Goiás só deve ser amenizado na virada de setembro para outubro.

“A chegada de uma frente fria vai ajudar a dissipar essa massa de ar quente que está atuando no estado”, explica Amorim. Entretanto, a chegada do período chuvoso ainda é esperada apenas para a segunda quinzena de outubro. “É quando teremos chuvas periódicas de novo”, destaca o gerente.

O Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais do Cerrado (Cempa-Cerrado) da Universidade Federal de Goiás (UFG) frisa que as altas temperaturas podem persistir até os primeiros dias da semana que vem. “É um bloqueio persistente. O movimento dele será difícil”, pontua Angel Domínguez, meteorologista do Cempa-Cerrado.

Domínguez esclarece que as ondas de calor não são incomuns no Brasil. Em novembro de 2020, Nova Maringá, no Mato Grosso, teve a maior temperatura registrada oficialmente no Brasil: 44,8ºC. “Dessa forma, percebemos que não faz tanto tempo assim que presenciamos um episódio como esse”, reflete.

Apesar de não ser atípica, o especialista explica que a intensidade desta onda de calor tem sofrido influência do El Niño, fenômeno que causa o aquecimento das águas do Oceano Pacífico. “Começamos a ver o impacto dele na atmosfera no final de agosto e início de setembro. Por conta desse impacto tardio, ele chegou de forma intensa, deixando o Norte e Nordeste mais quentes e secos e o Sul com mais chuvas”, destaca.

Impactos

Além dos danos para a saúde (leia abaixo), a onda de calor também afeta a agricultura. “Atrapalha a semeadura”, aponta Domínguez. As altas temperaturas somadas a umidade relativa do ar baixa, aumenta muito o risco de queimadas, sobretudo, no Cerrado e no Pantanal. “O cenário fica muito volátil”, enfatiza o meteorologista. Em 2023, de acordo com dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), já foram detectados 2,3 mil focos ativos de queimadas pelo satélite de referência em Goiás.

Por isso, é necessário tomar cuidados redobrados com o possível aumento das queimadas e os impactos na qualidade do ar e na saúde da população. “Um ambiente poluído pela presença de queimadas é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças respiratórias em humanos e também afeta a fauna e a flora da região”, finaliza Domínguez.

Saúde alerta para cuidados em período crítico

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, por meio do Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde (Cievs), fez uma série de recomendações para a população da capital enfrentar a onda de calor nos próximos dias. Segundo a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no domingo (24), a temperatura da capital pode chegar a 39°C e a umidade relativa do ar a 10%.

As populações com condições vulneráveis a agravos e doenças relacionadas ao calor são: idosos, portadores de doenças crônicas, acamados, pessoas com transtorno mental ou sofrimento psíquico e pessoas que utilizam determinados medicamentos, como anti-hipertensivos, antiarrítmicos, diuréticos, antidepressivos, neurolépticos, dentre outros.

Sintomas
No corpo humano, as altas temperaturas podem causar estresse térmico (quando a temperatura corporal está acima de 40°C e há a perda completa ou parcial de consciência e/ou capacidade mental reduzida), exaustão, desmaios, cólicas, brotoejas e inchaços.

“Os profissionais de saúde foram alertados da possibilidade de chegarem pacientes com sintomas de desidratação”, conta Marília Castro, diretora de Vigilância em Saúde da SMS.

Além de aumentar a ingestão de água e alimentos leves, as principais recomendações para a população são evitar a exposição direta ao sol, em especial, entre 10 e 16 horas, fazer o uso de protetor solar e outros equipamentos de proteção (guarda sol, óculos escuros, chapéus, dentre outros) e não fazer atividades físicas cansativas sob o sol.

“Nas escolas, principalmente durante o período vespertino, os professores precisam estar atentos às crianças com mal-estar”, completa Marília.

Redação
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