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Casos de zika já são metade dos registrados em todo 2023

Wildes Barbosa
Pedro com a mãe, Eliane: garoto desenvolveu microcefalia após ela ter zika

Nas primeiras quatro semanas deste ano Goiás contabilizou 59 casos confirmados de zika. O número já representa 46,8% de todos os registros do tipo em 2023, quando o estado teve 126 apontamentos, a maioria deles no fim do ano. Ao todo, já são 120 casos notificados em 2024. Considerando as quatro primeiras semanas deste ano com o mesmo período de 2023, houve um crescimento de 380% das notificações. A doença representa um risco para as gestantes, já que os bebês de mulheres infectadas podem desenvolver microcefalia.

Os casos registrados até agora se concentram em Águas Lindas de Goiás, na região do Entorno do Distrito Federal (confira quadro). Todos os quatro casos de gestantes com zika em Goiás estão no município. Duas delas têm 35 anos e as demais 20 e 44 anos. Elas estão no primeiro e no terceiro trimestre de gestação. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), os casos foram fechados por teste rápido e a pasta já entrou em contato com o município para fazer uma nova coleta e encaminhar ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-GO). É necessário fazer um novo exame, pois o teste rápido não confirma caso de zika devido à reação cruzada com dengue.

Ainda de acordo com o governo estadual, as gestantes estão sendo acompanhadas pelo município. A SES-GO destacou que todos os casos de zika estão sendo monitorados pela coordenação estadual, mas que a pasta também tem reforçado junto às secretarias municipais a importância dos registros dos casos no sistema oficial de notificação. O número de casos da zika começou a crescer no fim de 2023. Na penúltima semana do ano foram 79 casos notificados, o que representa 16,5% do total de registros.

O aumento coincide com o crescimento dos casos de dengue e chicungunha em Goiás. A infectologista Juliana Barreto, que atua no Hospital Albert Einstein Goiânia, explica que a época do ano é propícia para o aparecimento da arboviroses. “Acabamos vendo um aumento de todas, mas claro que a dengue em maior proporção”, esclarece. A zika pode apresentar sintomas oculares, coceira acentuada e irritações na pele semelhantes à alergias. Já a dengue tem como um dos principais sintomas a dor muscular. No caso da chicungunha, prevalece a dor nas articulações.

A zika costuma ser benigna para a maioria das pessoas. O último óbito em Goiás foi registrado em 2022. Entretanto, a doença é um risco para as gestantes, especialmente para aquelas no primeiro trimestre de gestação. “A fase em que está sendo formado o sistema nervoso do bebê. A zika tem um ‘imã’ para essas células que ainda estão em formação e impede o desenvolvimento delas”, explica Thais Alarcon, infectologista da Maternidade Dona Íris. Na prática, isso significa que as grávidas podem passar a zika para os bebês, o que pode comprometer o desenvolvimento do cérebro deles. A gravidade do comprometimento vai depender de uma combinação de virulência e idade gestacional.

No caso das quatro gestantes de Águas Lindas, a SES-GO comunicou que assim que os bebês nascerem, os casos irão passar pela avaliação do comitê de investigação de casos e óbitos por Síndrome Congênita associada à infecção pelo vírus Zika (SCZ) e as crianças serão acompanhadas de acordo com o fluxo de atendimento pelos municípios e se necessário avaliação estadual.

Em 2016, o número de casos de zika explodiu em todo o Brasil. Somente em Goiás, foram 8 mil casos confirmados. Um deles foi o de Eliane Alves, de 44 anos. No segundo semestre daquele ano ela estava grávida de Pedro, que hoje tem 6 anos, quando teve o diagnóstico de zika. “Com aquele tanto de casos, eu morria de medo de pegar. Usava repelente. Porém, ainda assim aconteceu”, conta a morada de Goiânia.

Pedro nasceu em 2017, depois de uma gestação complicada por uma pré-eclâmpsia, o que levou a um parto prematuro. “Mesmo assim, ele saiu do hospital bem. Abaixo do peso, mas bem”, diz. Quando Pedro tinha por volta de sete meses de vida, Eliane começou a perceber que o desenvolvimento dele não estava de acordo com o esperado. Então, veio o diagnóstico da SCZ.

Atualmente, a criança faz acompanhamento no Centro Estadual De Reabilitação e Readaptação. O maior acometimento de Pedro foi motor. Ele não anda, mas consegue movimentar os braços e adora conversar. “Agora ele está na escola”, orgulha-se a mãe. Eliane deixou de trabalhar para se dedicar integralmente aos cuidados do filho. “É difícil, porque fazemos tudo de ônibus. Porém, não me arrependo. Vivo 100% para ele”, finaliza.

 

Grávidas devem usar repelente

O uso do repelente é a forma mais eficaz das gestantes se protegerem do mosquito Aedes aegypti, que transmite a zika. “É a prevenção possível”, destaca Juliana Barreto, infectologista que atua no Hospital Albert Einstein Goiânia. Atualmente, não existe vacina contra a zika, nem nenhum tipo de medicação que evite que uma gestante passe o vírus para o bebê. “O que conseguimos é tratar os sintomas, como febre e dor no corpo. Entretanto, não existem medidas específicas”, esclarece a especialista.

A infectologista da Maternidade Dona Íris, Thais Alarcon, também recomenda que as gestantes usem repelente e ainda alerta que aquelas que forem infectadas precisam dar seguimento em um pré-natal de alto risco. Juliana detalha que os bebês de mulheres infectadas precisam ter o desenvolvimento e acompanhamento por meio de ultrassom durante toda a gestação.

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