Muitos dos produtos mais procurados para a ceia de Natal, como carnes nobres, queijos e frutas natalinas, estão carregando o peso da inflação acumulada nos últimos dois anos. Uma pesquisa feita pelo Procon Goiânia detectou reajustes de até 158,7% no preço do panetone e de até 74,3% na ave Tender, por exemplo.
Um dos motivos foi a alta nos custos de produção. Mas os valores atuais de carnes como pernil, leitoa e filé mignon, além do famoso bacalhau, estão obrigando muita gente a fazer adaptações nos pratos mais tradicionais para a festa.
A cesta de produtos para a ceia está, em média, 10,19% mais cara este ano no País, de acordo com uma pesquisa do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acima da inflação média de 6,76% acumulada nos últimos 12 meses, segundo o IPC (Índice de Preços ao Consumidor). Os maiores aumentos foram no azeite (17,52%), vinhos (16,95%) e frutas frescas (16,91%).
A empresária Ana Carla Souza Moreira, proprietária do Cantinho Goiano, que vende pratos congelados para a ceia, diz que tudo está mais caro. Além disso, alguns itens também estão mais difíceis de achar, como a leitoa. “Muita gente deixou de produzir este ano por causa do alto custo”, conta a empresária.
Com isso, o preço da leitoa inteira, que custava R$ 250 em média, hoje está em cerca de R$ 350. O frango recheado também passou de R$ 58 para R$ 75. “Praticamente todos os recheios estão mais caros, como os queijos”, lembra. Segundo ela, estes aumentos devem impactar as vendas este ano.
A empresária Edvânia Nogueira, do Empório Porto Cave, que produz pratos para ceias de Natal e vende cestas personalizadas e produtos muito consumidos na data, como vinhos e queijos, ressalta que ocorreram altas significativas nos preços de itens importantes como bacalhau, azeite, batata e legumes em geral, do ano passado pra cá.
“Os combustíveis puxaram os preços de muitos produtos pra cima este ano, que não recuaram. Além disso, as encomendas demoraram mais tempo pra chegar e tivemos de pedir com antecedência, o que elevou mais o custo”, explica.
Segundo Edvânia, produtos como bacalhau e vinhos importados também foram impactados pela alta da cotação do dólar, enquanto o azeite ficou até 15% mais caro por causa de problemas climáticos que afetaram a produção. Para reduzir os impactos para seus clientes, ela garante que o empório repassou o mínimo possível dos reajustes para seus preços, sacrificando suas margens de lucro.
“Um prato com bacalhau, por exemplo, passou de R$ 200 para até R$ 230”, conta a empresária, lembrando que o setor ainda teve uma forte alta do custo da mão de obra, que ficou mais cara e escassa.
Adaptações
Para reduzir o impacto dos reajustes nos preços de vários ingredientes usados no preparo dos pratos mais consumidos na ceia, empresas e consumidores estão adaptando seus cardápios tradicionais e priorizando matérias-primas mais em conta.
Luciana Rocha Lima, Da Amora Sabores Light, que produz pratos da ceia sob encomenda, avalia que os reajustes ocorreram em praticamente todos os itens, desde os básicos até os mais nobres. “Mas, este ano, não repassamos quase nada para os preços dos pratos para não perder clientes. Qualquer aumento, impacta as vendas.”
Ela conta que, hoje, praticamente só tem um prato com carne vermelha no cardápio. “Estamos nos reinventando com matérias-primas mais baratas. Já é possível fazer pratos muito bons usando acém, por exemplo, ao invés do filé mignon, que está muito mais caro”, explica a empresária.
Cortes de carne de porco também podem ser incrementadas com recheios e molhos especiais, que deixam o prato muito bonito aos olhos e muito saboroso para o paladar, além de bem mais acessível ao bolso, o que encanta o cliente. “Hoje, carnes mais nobres têm pouca procura. A grande maioria dos nossos clientes busca as opções mais em conta.”
Para o gerente comercial do Dolce Empório, Sandro Marcos, apesar de quase todos os insumos da ceia estarem mais caros este ano, desde os itens da cesta básica até os artigos mais nobres, o Natal ainda é o evento familiar mais especial do ano para reunir as famílias.
Por isso, os clientes têm optado por ingredientes de acordo com seu orçamento. “Ao invés de um pernil, muita gente opta por uma ave Chester. Ao invés de optar pelo tradicional bacalhau, encomendam uma costelinha ao molho barbecue”, conta Sandro.
O mais importante é não deixar de fazer a ceia, por ser um momento muito especial para as famílias. “Será o primeiro Natal sem restrições depois da pandemia e deve ajudar a aproximar mais familiares e amigos, que ficaram muito mais distantes nos últimos anos”, prevê o gerente comercial.
Este ano, a data deve ter um objetivo extra: refazer laços familiares e de amizade abalados pela polarização política das últimas eleições.
Mas, para o presidente eleito da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Sirlei Couto, na média geral, os preços dos produtos da ceia praticamente acompanharam a variação da inflação e do salário mínimo.