Inaugurado em novembro de 2020, o Centro de Bem-Estar Animal da Prefeitura de Goiânia segue funcionando de forma limitada. A promessa inicial incluía a realização de exames, castrações e parcerias com uma instituição para encaminhamento de casos complexos. Mais de 600 dias após a inauguração, os serviços oferecidos são insuficientes e um atendimento completo demanda, em muitos casos, a necessidade de uma clínica particular.
A unidade é exclusiva para animais de pessoas carentes, que precisam comprovar que são beneficiárias de programas sociais. Ainda assim, como o local realiza apenas avaliações, suturas e aplicação de alguns medicamentos, é necessário desembolsar com exames e cirurgias, caso haja necessidade. Quem procura atendimento e não pode arcar com esses procedimentos em uma clínica particular sai do local relatando frustração.
O centro funciona no antigo prédio do Centro de Zoonoses, no Jardim Balneário Meia Ponte. A reforma de R$ 341 mil, finalizada em 2020, adequou o espaço para ser um hospital veterinário, que seria equipado aos poucos. O evento de inauguração escondia a falta de equipamentos e até mesmo de mobiliários básicos como mesas e cadeiras. Na entrega, a Prefeitura anunciou o início imediato de consultas, suturas, aplicação de medicamentos e “outros procedimentos”.
A nova gestão municipal, empossada em janeiro do ano passado, anunciou uma reestruturação do local no mesmo mês da posse, apenas dois meses após a inauguração. O principal objetivo era viabilizar uma maior destinação de recursos, que serviria para aumentar a equipe de atendimento, então composta de apenas um veterinário. Mesmo com a contratação de mais dois profissionais, o local seguiu realizando apenas consultas e curativos durante oito meses. O primeiro lote de medicamentos só chegou em agosto.
Experiências
Neusa Lima, moradora do Recanto do Bosque, é dona da Madona, uma cadela de médio porte que tem cerca de 10 anos. Nos últimos dias, Madona começou a vomitar e a rejeitar comida. A dona procurou a unidade municipal. Conseguiu a consulta e diz que foi bem atendida, não tem reclamações. No entanto, precisou ir até uma clínica particular para realizar exames como hemograma. Ainda assim, ficou feliz com a atenção recebida pelos profissionais da Prefeitura. “Não demorou para conseguir atendimento, então eu gostei”, conta a tutora.
Em outras experiências, como a de Iara Khabieva, o atendimento limitado foi visto de forma negativa. “Esperava muito mais, por ser anunciado como referência no Centro-Oeste. A moça que me atendeu deixou claro que fazem somente consultas, ou seja, um pet shop faz esse serviço. Não realizam cirurgia ou qualquer outro procedimento, e quando perguntei se haveria um local que fizesse algo para salvar minha cadela, por não ter condições de levá-la a um hospital veterinário, não podiam falar”, conta em uma avaliação sobre a unidade.
A Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) diz que busca melhorias para o lugar e que atualmente está funcionando de acordo com o previsto para a primeira etapa do decreto que criou o centro. A promessa é de que seja lançado, nos próximos meses, um edital de contratação de uma organização social (OS) que deverá gerir o local e ampliar os atendimentos. “O processo já está em fase final, aguarda a nomeação da portaria, julgamento do processo e encaminhamento para Semad para o chamamento público”, informa a pasta em nota, que estima solução dentro dos “próximos meses”.
Esforços
A diretora do centro, Maria Edna Ribeiro, avalia que as condições de trabalho do local avançaram de forma surpreendente no último ano. “Nós sabemos que ainda falta (estrutura), mas existe vontade”, diz sobre as movimentações da gestão municipal e dos servidores do local. Entre os problemas reconhecidos está a falta de insumos como medicações e até soro. “Tudo envolve uma burocracia muito grande”, destaca sobre as dificuldades administrativas com compras.
A vereadora Luciula do Recanto também avalia que foram registrados avanços significativos. “Quando tomei posse como vereadora, em 2021, o centro foi o primeiro local que visitei e estava fechado. Só havia as portas, paredes e janelas”, conta a parlamentar. Desde então, ela busca diálogo com o Paço e afirma que tem sido atendida.
Ainda assim, mesmo o atendimento ambulatorial é realizado com dificuldades, que incluem a falta de medicações básicas. A Amma diz que essas faltas são pontuais e podem envolver questões como processos licitatórios e a falta do item no mercado. A vereadora Luciula, por sua vez, diz que recentemente diversos medicamentos ficaram em falta por mais de dois meses.
Para a parlamentar que se dedica à pauta animal, a contratação da OS deve solucionar a maioria dos obstáculos. Foi ela que sugeriu o modelo para o Paço após visitar o hospital público veterinário de São Paulo. “A gestão feita pela própria Amma envolve muita burocracia e isso é prejudicial. Uma OS deverá fazer tudo e a Prefeitura irá pagar no fim do mês. Agora sim esta unidade deve começar a se transformar em um hospital”, acredita.
A atual diretora da unidade diz que a perspectiva de ampliação dos atendimentos após a chegada da OS traz esperança para toda a equipe. “Nós estamos aqui pelos animais. EsTa era uma questão muito esquecida, então esses avanços são significativos”, pondera a servidora que deve deixar o cargo assim que uma OS assumir a gestão do estabelecimento.
Cirurgias devem seguir limitadas
Mesmo após a ampliação prometida, com a contratação de uma OS, os atendimentos seguirão limitados quanto a cirurgias. A partir da nova gestão haverá a disponibilidade de hemogramas, exames de imagem como ultrassom e raios X e a implementação de um centro cirúrgico exclusivo para a castração de animais. “O edital contempla a castração, sendo o controle populacional uma das principais metas do centro”, informa a Amma.
Sobre as demais cirurgias, a Agência do Meio Ambiente não informou se há estudos de implementação. Na época da inauguração a promessa era de que os casos que necessitassem de atendimentos de exames e cirurgias seriam encaminhados para o Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás (UFG). No entanto, a parceria não prosperou. “O convênio seria uma alternativa a ser avaliada. Com a não oficialização do acordo passou-se a tratar da viabilização de uma OS”, explica a Amma.
Atendimento
Atualmente o local atende animais encaminhados por Organizações Não Governamentais (ONG´s) cadastradas na Amma e por pessoas de baixa renda. O atendimento é feito com distribuição de senhas, que de início seriam 30 diárias, mas que passaram a ser 20.
O funcionamento vai das 9 horas às 17h, de segunda a sexta-feira. São dez senhas entregues no início da manhã e outras dez após o almoço. O telefone para contato é o (62) 3291-2202.