Detectado pela primeira vez no Brasil, o genótipo cosmopolita do sorotipo 2 do vírus da dengue foi identificado em Aparecida de Goiânia em fevereiro deste ano em uma amostra referente a um caso ocorrido no final de novembro. Presente na Ásia, Pacífico, Oriente Médio e África, a linhagem é a mais disseminada no mundo, mas nunca tinha sido encontrado no território brasileiro.
A informação foi divulgada nesta quinta-feira (5) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que contou com o apoio do Laboratório Central de Saúde Pública de Goiás (Lacen-GO) na detecção. A situação já foi reportada às secretarias municipal e estadual de Saúde e ao Ministério da Saúde.
Para os pesquisadores, a chegada dessa cepa ao Brasil preocupa, porque existe a possibilidade de ela se disseminar de forma mais eficiente do que a linhagem asiático-americana, também conhecida como genótipo 3 do sorotipo 2, que atualmente circula no país.
A linhagem, no entanto, de acordo com a equipe, não é a responsável pelo surto de dengue em Goiás e tudo indica que ela foi identificada rapidamente, o que pode ajudar no controle dessa cepa.
Em Goiás, uma média de 1.366 pessoas a cada 100 mil habitantes estão ou já estiveram com dengue este ano, o que torna o estado o de maior índice de incidência da doença no País. O número é 5,37 vezes maior do que a média nacional, que é calculada em 254,1 casos a cada 100 mil pessoas.
Origem
As análises feitas no Brasil mostram que a linhagem encontrada é semelhante a dois microrganismos isolados durante o surto registrado na província de Madre de Dios, no Peru. Porém, ainda não é possível dizer que o genótipo cosmopolita foi introduzido no Brasil a partir do país vizinho. A suspeita é que tenha chegado a partir da Ásia, por meio de viagens intercontinentais.
Os pesquisadores publicaram um artigo na plataforma de pré-print medRxiv e ressaltaram que entre as principais ações para conter a disseminação da dengue está a eliminação de depósitos de água parada, que podem se tornar criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença.
Além das ações de combate à dengue, os pesquisadores enfatizam a importância de intensificar a vigilância genômica do agravo para mapear a possível circulação da linhagem cosmopolita e compreender melhor as rotas de introdução do vírus no país.
Vigilância
A identificação do genótipo cosmopolita do vírus da dengue foi realizada a partir de um projeto de vigilância genômica de arbovírus em tempo real, liderado pelo Laboratório de Flavivírus do IOC/Fiocruz. Na iniciativa, os pesquisadores se deslocam para os Laboratórios Centrais de Saúde Pública dos estados (Lacens) e realizam a decodificação de genomas com equipamentos portáteis para sequenciamento genético. Desde 2020, o trabalho contempla também a vigilância genômica do Sars-CoV-2, causador da covid-19, recebendo o nome de VigECoV-2.
O projeto tem colaboração do Ministério da Saúde – por meio das coordenações Gerais das Arboviroses (CGArb) e de Laboratórios de Saúde Pública (CGLab) –, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) e dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), ambos dos Estados Unidos.