Toalhas diversas com os rostos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estampam o cruzamento que liga a Vila Redenção ao Alto da Glória, em Goiânia. A polarização política que se desenha para a eleição presidencial deste ano motivou comerciantes goianos a investirem nas vendas dos artigos que fazem referência aos dois polos desse antagonismo.
Diferente do esperado, porém, as vendas ainda são tímidas em Goiânia. A esperança de alguns dos vendedores com quem a reportagem conversou é de que a arrecadação com as toalhas aumente conforme a data do pleito for se aproximando.
Nos itens em exposição, além do rosto dos pré-candidatos à Presidência da República, há frases que já foram lemas de eleições passadas de ambos os presidenciáveis, como “O Brasil feliz de novo”, de Lula, e “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”, de Bolsonaro.
No ponto há 13 anos, o vendedor Adão Ferreira conta que começou a vender bandeiras dos pré-candidatos há cerca de uma semana, mas diz que o movimento é fraco. “Está devagar. Hoje, mesmo eu não vendi nenhuma”, disse nesta quarta-feira (1º). Ele afirma que a última vez que vendeu uma foi na segunda-feira (30).
Cada toalha, seja de Bolsonaro ou de Lula, sai por R$ 30. Ferreira compra a R$ 16 e o lucro fica em R$ 14. A expectativa do vendedor é de que, quando a eleição se aproximar, as vendas subam.
Outra vendedora, Raimunda de Oliveira comercializa toalhas de Bolsonaro desde o ano passado, na época de uma das manifestações favoráveis ao presidente em Goiânia. Há 60 dias, ela decidiu vender também as estampadas com o rosto de Lula.
Assim como o concorrente, Raimunda afirma que as vendas dos itens estão estagnadas. Por volta das 14h45, ela também ainda não havia vendido nenhuma das toalhas. Na terça, vendeu duas.
“Eu vendo uma média de cinco a seis por semana. Depende muito, porque tem cliente que compra 10 de uma vez e aí você faz um preço mais barato”, conta Raimunda, que comercializa as toalhas a R$ 30.
Ela relata que há certas compras inusitadas, como quando vendeu toalhas de Lula e Bolsonaro para uma mesma pessoa. “Ela disse que iria levar para casa porque uma parte da família votava em um candidato e a outra metade no outro. Eu achei uma graça, porque às vezes o esposo vota em Lula e a esposa em Bolsonaro.”
Raimunda diz, porém, que nunca presenciou embates entre defensores de candidatos distintos. “Só o pessoal que passa buzinando, pedindo pra tirar um ou outro, mas, no geral, acho que é só pra fazer barulho”, conta.
No Parque Amazônia, Raimundo Pereira acabava de vender uma toalha infantil a uma mulher quando foi abordado pela reportagem. Ele diz que o movimento de venda das toalhas de Lula e Bolsonaro está abaixo da sua expectativa.
“O pessoal não está aderindo. As infantis estão saindo mais”, afirma. No fim do dia, ele diz arrecadar entre R$ 100 e R$ 120 com o comércio dos itens políticos, mas esperava conseguir ao menos R$ 300 por dia. Cada uma sai a R$ 35.
Neutralidade
Para evitar comprometimentos que prejudiquem suas vendas, ele tem uma estratégia: “O pessoal pergunta ‘o senhor é de qual?’. Eu digo que eu sou nulo, não posso falar de quem eu sou. Não posso puxar nem para o lado A nem para o B”.
Ele começou a vender os itens na semana passada e vendeu 30 até agora. O vendedor espera que o movimento aumente e cogita até comprar camisetas e bonés quando a eleição estiver mais próxima.
Clodoaldo Barbosa, que vende toalhas por R$ 40 no Jardim Goiás, foi o único mais animado com o comércio dos artigos políticos. Ele afirma que já chegou a vender R$ 1,2 mil em um único dia.
O cientista político Guilherme Carvalho considera que a chegada das toalhas ao comércio informal é um reflexo da previsão de especialistas de que esta tende a ser a eleição mais polarizada da história do Brasil. Para ele, já é um clima de segundo turno antecipado.
Por outro lado, Carvalho afirma que essa intenção não é suficiente para que a maioria do eleitorado comece a “ostentar símbolos”. “As pessoas estão, em certa medida, um pouco precavidas. E ainda tem aquele medo da violência por pura opinião política”, lembra.
Propaganda
Para o advogado eleitoral Luciano Hanna, que já foi juiz membro do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO), as toalhas podem, sim, significar propaganda eleitoral antecipada. “A mensagem implícita nessas vendas é de pedido de voto”, diz.
Ele lembra que as toalhas trazem conteúdo eleitoral e podem, por isso, violar o Artigo 3º da Resolução 23.610, de 2019, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que trata da propaganda extemporânea.
O Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI) mandou os vendedores recolherem toalhas com imagens de Lula e Bolsonaro das ruas de Teresina, capital do estado. A ordem foi dada após provocação do Ministério Público Eleitoral (MPE).
O juiz justificou que a medida servia para garantir o cumprimento da norma e o princípio da isonomia entre candidatos ou eventuais candidatos, além de evitar prejuízos à coletividade. Para Hanna, a decisão do TRE-PI é correta e serve como precedente.