JOÃO PEDRO SANTOS
Acontece neste domingo (25) a 28ª Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ em Goiânia. A partir do meio-dia, os participantes irão se concentrar no coreto da Praça Cívica, onde ocorrerão apresentações culturais e discursos. Também estarão disponíveis estandes e espaços para obter informações sobre educação, direitos e assistência social à comunidade LGBTQIAPN+.
O tema da edição de 2023 é “Transfobia Mata: Acolher, Proteger e Respeitar”, buscando destacar a importância de políticas públicas de empregabilidade, combate à violência e apoio na conquista por direitos para estes grupos sociais. A novidade deste ano é a visão sustentável do evento, a partir de uma parceria com uma cooperativa de reciclagem para recolher todo o lixo produzido durante o evento.
Visibilidade
“Infelizmente hoje, não temos uma política de inclusão dentro dos dados coletados pelo governo para saber a estimativa da população trans em Goiás. Não há, no Censo, a pergunta ‘Identidade de gênero e orientação sexual’”, afirma a presidente da Associação de Pessoas Trans (Unitrans) em Goiás, Cristiany Beatriz Santos. De acordo com ela, a falta de dados faz com que estas comunidades se sintam em uma posição desfavorável na sociedade, sendo necessária a aplicação de políticas públicas para que uma visibilidade maior a elas seja concedida.
Segundo Cristiany, a luta pelos direitos das pessoas trans em Goiás tem sido árdua, em especial na área da saúde, com o processo transsexualizador do Sistema Único de Saúde (SUS). “Um retrocesso que tivemos em 2022 foi com a desaplicação deste serviço para a população, que funcionava há 23 anos. Mas, em contraponto a isso, graças à resistência, somos um estado referência no quesito serviços de saúde, pois temos a política do processo transsexualizador implementada no HGG, assim como atendimento psicossocial em Senador Canedo e em Itumbiara, atendendo os municípios da região Sul”, diz.
A comunidade também tem uma excelente parceria com a Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), garantindo o direito à retificação de pronome e gênero, feito diretamente nos cartórios.
De acordo com a presidente da Unitrans em Goiás, um preconceito ainda latente direcionado às pessoas trans acontece no mercado de trabalho. Faltam oportunidades. “Hoje já existe uma abertura maior para essa população nas áreas de telemarketing, corte e costura e em salões de beleza. Mas a discriminação e os estereótipos criados ao redor da comunidade é o fator chave para que este mercado se feche em outras áreas”, afirma. Segundo Cristiany, a fonte de renda mais frequente deste grupo social em particular acaba sendo a prostituição, que as afasta da vivência sociocultural do estado.
O Brasil lidera o ranking de países que mais matam pessoas trans. Não por acaso, a importância do tema da Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ deste ano. “Um crime contra uma pessoa transexual, especialmente se for profissional do sexo, costuma não ter a investigação e a punição de seus assassinos. Isso funciona como um incentivador para que ocorra uma banalização da vida e dos corpos destas pessoas. O tema ‘Acolher, Proteger e Respeitar’ é exatamente o que precisamos fazer em relação a esta comunidade”, relata Cristiany.
“A expectativa (para a Parada) é que tenhamos mais de 100 mil pessoas nas ruas do centro de Goiânia, a um só grito de orgulho. Orgulho de sermos o que somos, de podermos vivenciar nossa identidade, e de poder reivindicar, nessa festa política, mais saúde, educação, trabalho e segurança pública aos nossos gestores e parlamentares”, finaliza.
400 mortes por ano
“A morte de LGBTs no Brasil, por serem LGBTs, gira em torno de 400 por ano. Aqui em Goiás, é em torno de 15 por ano”, diz o policial rodoviário federal Fabrício Rosa, um dos organizadores do evento. De acordo com um dossiê divulgado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Goiás é um dos 10 estados que mais assassinaram pessoas trans entre 2017 e 2022, com 33 homicídios. Além disso, o documento também revela que, dos 131 assassinatos cometidos em território nacional no ano passado, a região Centro-Oeste possui o terceiro maior percentual destes crimes, com 13% do total, ou seja, 17 casos.
Segundo as pesquisas da Antra, a maior parte das vítimas no País se encontra na faixa etária de 13 a 29 anos e são mulheres trans negras e pobres, que não costumam ter relação direta, afetiva ou social com o assassino. O dossiê informa que homens trans, pessoas transmasculinas e não-binárias têm 38 vezes menos chances de serem assassinados do que as mulheres trans. A fonte de renda mais frequente das vítimas costuma ser a prostituição, fato que acaba prejudicando a investigação criminal, devido aos estigmas e preconceitos negativos que pesam sobre estas comunidades.
Marcha
Às 16h, os participantes da Parada irão iniciar uma marcha pelas principais avenidas do Centro de Goiânia: a Araguaia, a Paranaíba e a Tocantins. A organização do evento tem como prioridade a segurança e o bem-estar de quem irá participar, implementando medidas em conjunto com a Polícia, o Corpo de Bombeiros, a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) e outras autoridades locais.
Além disso, a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) garantiu um reforço na operação dos ônibus nos Terminais Isidória e Praça da Bíblia, fazendo a conexão com a Praça Cívica. (João Pedro Santos é estagiário do GJC em convênio com a UFG)
RONOGRAMA
O quê: 28ª Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ - Transfobia Mata!: Acolher, Proteger, Respeitar
Data: domingo, 25 de junho
Local: Coreto da Praça Cívica
Horário: Concentração a partir das 12 horas, caminhada às 16h
12h - Concentração (trios elétricos começam a funcionar)
14h30 - Falas no palco
16h - Começa a caminhada (Av. Araguaia, Paranaíba, Tocantins)
18h - Retorno à Praça Cívica