O custo mensal para usar um automóvel 1.0, mesmo que abastecido com etanol, pode chegar a até 58% do salário mínimo atual, o que inviabiliza a utilização do modal pela maior parte dos trabalhadores em Goiânia. Um estudo do Mova-Se - Fórum de Mobilidade levou em consideração os novos valores dos combustíveis, com desconto no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) anunciado na última semana, e mesmo assim verificou que a renda do trabalhador está sendo sacrificada para ir e voltar do trabalho. Contando com um deslocamento de 15 quilômetros entre a residência e a empresa, a opção da motocicleta chega a retirar 19,54% do salário mínimo e o ônibus teria o custo de 18,45% deste total.
Coordenador do Mova-se, o geógrafo Miguel Angelo Pricinote, autor da pesquisa, esclarece que os dados mostram que, mesmo com a queda no valor dos combustíveis, os trabalhadores não conseguem arcar com os custos do transporte. “Se deslocar está cada vez mais difícil, as pessoas vão ficar mais segregadas e não temos quem olha para as calçadas e ciclovias, que seriam os meios mais baratos de deslocamentos”, diz. O impacto diante do valor gasto com transporte público é percebido por trabalhadores e estudantes que precisam se locomover em uma média de três ônibus por dia.
“Esse mês o passe estudantil não caiu para mim e gastei cerca de 250 reais para ir até a faculdade, é mais de 20% da minha renda”, afirma a jovem Thalia Soares Gomes, que precisa sair do Setor Central até o campus Samambaia da Universidade Federal de Goiania (UFG). Neste cenário, o custo mensal com os ônibus pode ser amenizado pela disponibilidade de vale-transporte que as empresas e o governo oferecem, mas usuários do benefício ressaltam que não deveria ser um recurso visto como vantagem e, sim, como o básico a ser oferecido. “Trabalhar e estudar é nossa obrigação, então transporte é o mínimo e nem deveria ser cobrado pelo valor alto que é”, acredita Patricia Correia da Silva, que atualmente trabalha com marketing.
Além disso, o valor atual do ticket comprado para utilizar o transporte público não está equilibrado com o salário mínimo recebido, segundo a auxiliar de limpeza Roseane Batista Almeida, de 37 anos. “Antigamente os valores estavam melhores, agora tudo mais caro”, diz. A estudante Thalia enfatiza que o problema não é o valor do passe e, sim, o desajuste do salário mínimo em relação ao transporte e outras demandas, como alimentação. “O salário parece que diminui com tudo aumentando, é desproporcional.”
A tarifa do transporte na região metropolitana de Goiânia não é reajustada desde 2019, se mantendo no valor de R$ 4,30 e, mesmo assim, compromete mais de 18% de um salário mínimo. Pricinote ressalta que isso reforça o fato de o transporte coletivo ser o mais barato no custo mensal, mas que há variáveis intangíveis para verificar o que seria melhor para cada pessoa, como o tempo gasto no deslocamento e o conforto e segurança. Mas se manter apenas em relação ao custo, o geógrafo ressalta que o melhor meio de se locomover é com o Passe Livre do Trabalhador (PLT), que compromete até 6% da renda do funcionário.
O serviço iniciado em maio concede até 8 viagens diárias para o trabalhador a um custo de R$ 180 para a empresa. Pricinote reforça que o outro serviço lançado pelo sistema, o Bilhete Único, não se torna vantajoso financeiramente. “Ele ganha mais viagens em duas horas e meia, mas vai continuar pagando R$ 4,30 para ir e R$ 4,30 para voltar. No final, o custo é o mesmo”, afirma.
Economista avalia que transporte deve ser no máximo 10% da renda
O economista Marcus Antônio Teodoro explica que o ideal de gastos com transporte seria de 5% do total da renda do trabalhador, mas que até 10% ainda é aceitável. “No momento, é muito difícil conseguir isso. Não é só o combustível, tem o seguro que ficou mais caro, a revisão do veículo, o IPVA.
Os trabalhadores estão pagando muito por transporte e até por isso que o governo reduziu o ICMS, se não a economia ia parar”, diz. Teodoro indica que seria necessário avaliar qual meio de transporte utilizar, levando em consideração a conta real de qual o gasto de combustível por quilômetro rodado. “Às vezes compensa até pagar aluguel mais caro para morar perto do trabalho e não gastar com combustível. É algo que tem de ser avaliado”, diz.