GABRIELLA BRAGA
A taxa de ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) em hospitais da rede estadual de Goiás tem se mantido com média diária acima de 98% desde o início de abril. A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) aponta que a demanda elevada está ligada à epidemia de dengue e ao recente aumento de casos de síndromes respiratórias. Do total de 709 leitos instalados no Estado, cerca de 10 estavam disponíveis até esta sexta-feira (10), cenário visto com preocupação pela pasta.
Para calcular o porcentual de média diária, o jornal utilizou como base as taxas de ocupação nas unidades de saúde regulados pelo Estado desde o dia 1º de abril até esta quinta-feira (9). Em janeiro, para se ter ideia, a média foi de 91%. Com a alta busca por internações de pacientes, os hospitais têm atuado na capacidade máxima. A pasta diz que não há uma taxa mínima e máxima ideal, ponderando que é preciso olhar demais informações, como o tempo médio de permanência dos pacientes. Já a Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade de Goiás (Ahpaceg) aponta que a ocupação dos leitos deve se manter em 85% a 90%.
“O ideal é não passar de 90% para ter uma margem de segurança para internar aquele paciente que teve complicações, ou aquele que acabou de dar entrada no pronto-socorro. Então nunca é aconselhável atingir 100% da capacidade. Mas por que atinge? Porque, às vezes, a demanda é muito maior do que a oferta. Quando há um momento igual agora, em que se tem várias arboviroses e infecções respiratórias atuando no mesmo lugar, passa a ter, além dos pacientes atuais, novos pacientes. Assim, não consegue dar vazão (saída e entrada), e isso é um problema”, comenta o presidente da Ahpaceg, Haikal Helou.
Superintendente de Políticas e Atenção Integral à Saúde da SES-GO, Paula dos Santos explica que que a taxa de ocupação acima de 90% nos hospitais próprios da pasta, ou em unidades com vagas contratualizadas, é considerada alta, mas esperada pela abrangência destas unidades. “Mesmo hospitais com uma taxa alta de 90% a 95%, ou de até 99% que é o que temos vivido hoje no Estado, pode ser relativa (a taxa ideal) pela capacidade de giro desse leito. São hospitais que atendem os 246 municípios. Então a capacidade do leito desocupar para outro paciente entrar é o que muitas vezes é o nosso trabalho diário de otimização de uso do leito”, pontua.
Coincidência
Conforme ela, o cenário atual no Estado é de aumento das doenças respiratórias, o que também tem acrescentando na demanda por leitos de terapia intensiva e de enfermaria. “Temos observado queda no número de notificações de dengue, que já era esperada agora para essa época do ano, mas começaram a aumentar os casos de síndromes gripais, então já sabemos que vem por aí mais internações mesmo com a diminuição da dengue”, pondera.
O presidente da Ahpaceg, Haikal Helou, relata que o cenário atual na rede privada não está diferente da rede pública. “Emitimos um alerta essa semana de que há ocupação acima do normal, que pode gerar um risco à população. Acima de 85% a 90% da capacidade ocupada corremos riscos. Pacientes em espera, equipe que fica sobrecarregada, e a nossa dificuldade de manobras de acomodação por uma ocupação acima do esperado”, acrescenta o presidente.
Vale lembrar que o País vive uma epidemia de dengue. Em 2024, já foram 287,9 mil casos notificados, um aumento de 315% em relação aos registros de 2023. A maior incidência nos casos foi detectada entre fevereiro e abril. Agora, conforme a superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, o cenário é de diminuição no contágio. No entanto, explica, apesar da queda de casos, as internações ainda não apresentaram redução significativa.
No mesmo período de 2023, de janeiro a maio, a ocupação se manteve abaixo do que o registrado neste ano (veja quadro). Entretanto, vale destacar, ainda existiam leitos exclusivos de Covid-19 à época. Mas de acordo com Paula, o aumento em 2024 não tem relação apenas com mais pessoas doentes, mas também com o acesso aos leitos. “Esse ano temos uma coincidência de doenças, o que impactou na lotação de unidades. Mas outra questão é observamos uma diminuição de acesso a alguns leitos de gestão municipal, o que acaba gerando maior demanda para os hospitais do Estado.”
A superintendente explica ainda que a demanda é ainda maior para os leitos pediátricos. Apenas seis hospitais ofertam vagas de UTI destinadas a crianças. E, nestas, apenas uma possuía vaga até esta sexta-feira. Já para os leitos de adulto, há oferta em 31 unidades espalhadas em 22 municípios. Apenas cinco contavam com leitos vagos, sendo elas em Goiânia (2), Senador Canedo, Jaraguá, e Catalão. De acordo com a superintendente, o Estado estuda a instalação de mais cinco leitos pediátricos ainda neste mês para suportar a demanda de internações.
Conforme a SES-GO, a média diária de solicitações de internação em leitos de UTI e de enfermaria, tanto adulto quanto pediátrico, foi de 917 em abril. No caso da enfermaria, taxa de ocupação nesta sexta-feira estava em 94%. Mas nestes casos, conforme explica Paula, a rotatividade é maior diante dos casos de menor complexidade. “Gira mais rápido, e tem uma média de permanência menor, o que leva a maior abertura de leitos. Então a taxa mesmo estando alta a gente consegue triar e colocar paciente de forma mais dinâmica.”
Ela pondera ainda que há maior facilidade para novos leitos de enfermaria, ao contrário dos leitos de UTI, que demandam maior planejamento e investimento. “Precisa de equipe de profissionais, equipamentos, espaço físico, toda uma estrutura para que o leito seja de fato resolutivo. Não se abre e fecha com facilidade. Precisa de uma equipe mínima mesmo desocupado”, explica, ao acrescentar que o custo alto de um leito intensivo demonstra que a taxa de ocupação baixa também não seria o ideal, por gerar custos sem estar sendo utilizado.