O desmatamento do Cerrado pode reduzir o abastecimento e a qualidade da água em 119 municípios goianos, apontam pesquisadoras do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado). Segundo o levantamento, cinco bacias hidrográficas no Matopiba, região formada por áreas de Cerrado no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, concentram 74,5% do desmatamento no bioma.
As pesquisadoras explicam que a perda de vegetação nativa nas bacias dos rios Tocantins, São Francisco, Parnaíba, Itapecuru e Araguaia compromete a capacidade natural de absorção e distribuição da água em seis estados brasileiros, além de Goiás. Fernanda Ribeiro, pesquisadora no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e responsável pelo SAD Cerrado, explica essa relação.
“Garantir a proteção dos remanescentes de vegetação nativa do Cerrado e, ao mesmo tempo, recuperar áreas próximas a nascentes, rios e bacias, é essencial para a manutenção dos recursos hídricos que temos hoje e para o equilíbrio climático. Se o desmatamento continuar na velocidade e na extensão em que está, a disponibilidade hídrica será cada vez menor”, afirma a pesquisadora.
O SAD Cerrado verificou que 815.532 (ha) foram desmatados no bioma ano passado e detalha que só no Rio Araguaia foram 78.368 ha. O sistema ainda aponta Goiás como o segundo colocado no ranking de áreas desmatadas em 2023, o primeiro foi Bahia e o terceiro é Minas Gerais. O relatório revela alta de 82,5% no número de derrubadas neste ano aqui no estado.
A pesquisadora no IPAM e coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo, afirma que, além de afetar o abastecimento e a qualidade da água, o desmatamento do Cerrado torna o clima mais quente. “O Cerrado está ficando cada vez mais quente e seco, com menos água disponível. Este cenário acende o alerta para que tipo de planeta queremos habitar no futuro”, enfatiza.
Conforme relatório do SAD Cerrado, a transformação de áreas de vegetação nativa para pastagem e agricultura já tornou o clima no Cerrado quase 1°C mais quente e 10% mais seco. “Nos locais desmatados, a temperatura média anual pode subir até 3,5°C com queda de 44% na evapotranspiração, processo que contribui para a umidade do ar”, revela o sistema.
Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) afirma que a SAD Cerrado é uma plataforma que utiliza algoritmos automáticos para delimitar e mensurar a quantidade de alertas de desmatamento. Além disso, informa que executa e participa de projetos de reflorestamento com recuperação da vegetação natural, como o "Produtor de Água", que preveem pagamento por serviços ambientais.
Íntegra da nota da SEMAD
A respeito da solicitação feita pela reportagem, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) esclarece que:
O Matopiba é uma região que alcança territórios dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Goiás, portanto, não tem competência para fiscalizar e punir eventuais ações de desmatamento na área.
Com vistas à proteção e preservação de recursos hídricos no Estado todo, a Semad executa ou participa de projetos de reflorestamento com recuperação da vegetação natural, como o "Produtor de Água", que preveem pagamento por serviços ambientais (incluindo a recuperação de áreas degradadas).
Além disso, a Semad investe no cuidado e a ampliação das unidades de conservação e áreas de proteção de manancial, por entender que são ações extrema relevância para manutenção das recargas dos aquíferos e sustentação dos rios e reservatórios nos períodos secos.
Sobre o SAD Cerrado, é importante dizer que essa é uma plataforma que utiliza algoritmos automáticos para delimitar e mensurar a quantidade de alertas de desmatamento. É importante ressaltar que, no SAD Cerrado, esses alertas não são submetidos à validação individual de um analista. Essa informação consta na página inicial do próprio sistema. Ou seja: É altamente provável que as estatísticas utilizadas pela reportagem incluam os chamados falsos alertas.
A Semad dá preferência aos dados gerados pela plataforma Mapbiomas, por dois motivos: 1) o Mapbiomas trabalha com informações geradas por diversos repositórios, inclusive o SAD Cerrado, o que dá uma visão mais completa do cenário; 2) os dados do Mapbiomas passam por validação individual antes de serem disponibilizados. Por esse motivo, são mais fiéis à realidade.
Lista de municípios que serão afetados, segundo o SAD Cerrado:
Ãgua Fria de Goiás
Alto Horizonte
Alto Paraíso de Goiás
Amaralina
Amorinópolis
Aragarças
Araguapaz
Arenópolis
Aruanã
Aurilândia
Baliza
Barro Alto
Bom Jardim de Goiás
Bonópolis
Britânia
Buriti de Goiás
Cachoeira de Goiás
Campinaçu
Campinorte
Campos Verdes
Carmo do Rio Verde
Cavalcante
Ceres
Colinas do Sul
Córrego do Ouro
Crixás
Diorama
Doverlândia
Estrela do Norte
Faina
Fazenda Nova
Formoso
Goianésia
Goiás
Guaraíta
Guarinos
Heitoraí
Hidrolina
Ipiranga de Goiás
Iporá
Israelândia
Itaguari
Itaguaru
Itapaci
Itapirapuã
Itapuranga
Ivolândia
Jaraguá
Jaupaci
Jesúpolis
Jussara
Mara Rosa
Matrinchã
Mimoso de Goiás
Minaçu
Moiporá
Montes Claros de Goiás
Montividiu do Norte
Morro Agudo de Goiás
Mozarlândia
Mundo Novo
Mutunópolis
Niquelândia
Nova América
Nova Crixás
Nova Glória
Nova Iguaçu de Goiás
Novo Brasil
Novo Planalto
Padre Bernardo
Palestina de Goiás
Petrolina de Goiás
Pilar de Goiás
Piranhas
Pirenópolis
Planaltina
Porangatu
Rialma
Rianápolis
Rubiataba
Sanclerlândia
Santa Fé de Goiás
Santa Isabel
Santa Rita do Araguaia
Santa Rita do Novo Destino
Santa Rosa de Goiás
Santa Tereza de Goiás
Santa Terezinha de Goiás
São Francisco de Goiás
São João d'Aliança
São Luís de Montes Belos
São Luiz do Norte
São Miguel do Araguaia
São Patrício
Taquaral de Goiás
Trombas
Uirapuru
Uruaçu
Uruana
Vila Propício