O ano de 2020, em Goiânia, foi o que teve a menor quantidade de diagnósticos de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) dos últimos 10 anos. Foram 131 pessoas. Os casos de infecção pelo vírus HIV também não eram tão baixos desde 2014: 446 soropositivos em 2020. Nesta quarta-feira (1º) se inicia o Dezembro Vermelho, destinado a conscientização para o tratamento precoce da Aids e de outras infecções sexualmente transmissíveis, e a Prefeitura irá promover um ‘Dia D’ com testagem, palestras e distribuição de preservativos no Paço Municipal, no Park Lozandes.
A enfermeira técnica em Vigilância de HIV e Aids da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Valéria Borba, diz que desde 2016 a pasta vem intensificando o enfrentamento à doença, por meio do aumento de campanhas educativas, testagem e distribuição de preservativos. O ‘Dia D’ promovido pela SMS nesta quarta ocorrerá entre 8 horas e 17 horas, e além do teste para HIV, também irá oferecer testagem para sífilis e hepatites B e C. “Quando detectamos os portadores do vírus, conseguimos quebrar a cadeia de transmissão”, afirma.
Mesmo com as restrições por causa da pandemia da Covid-19, a testagem na capital continuou ocorrendo normalmente. “Distribuímos cerca de 900 mil preservativos neste ano”, destaca.
Além disso, a enfermeira esclarece que a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) ao HIV, que é quando a pessoa toma remédios até 72 horas depois de ter se exposto ao risco de contrair o vírus para evitar a contaminação, e a Profilaxia Pré-Exposição (Prep), tomada diária de um comprimido que permite ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV e evitar que a doença se desenvolva, ajudam a diminuir os casos de pessoas soropositivas.
O infectologista Marcelo Daher aponta que a Prep é destinada para pessoas do grupo de risco como profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis e pessoas que têm relações sexuais sem preservativo. “Ela tem se mostrado uma das estratégias mais eficazes no combate à transmissão da doença. É importante que o poder público dê um enfoque nisso”, explica.
Apesar de o número de casos de Aids ter tido um leve aumento entre 2016 e 2019, a taxa de detecção da doença a cada 100 mil habitantes se manteve estável (veja quadro). Entre 2019 e 2020, houve uma queda abrupta. O número caiu de 13,1% para 8,5%. Valéria atribui essa queda ao sucesso no tratamento de pessoas com HIV na capital. “Se tudo for feito corretamente, os casos não evoluem para a Aids.”
A enfermeira explica que a grande estratégia para evitar a Aids são o diagnóstico e o tratamento precoces da infecção pelo HIV. Caso a pessoa perca o prazo de 72 horas para a profilaxia contra a doença, ela pode fazer o teste depois, nas unidades de saúde espalhadas pela capital. Caso ele dê positivo, o indivíduo já é regulado para seguir o tratamento da doença. “O médico deve pedir exames complementares e logo o tratamento medicamentoso para a redução da carga viral é iniciado”, diz.
O acompanhamento na rede pública é feito de seis em seis meses. Caso a pessoa siga o tratamento à risca, a carga viral pode ficar indetectável. “Isso também quer dizer intransmissível. Isso permite que mulheres tenham uma gestação tranquila e partos vaginais. Até mesmo a relação sexual sem preservativo é possível se a pessoa estiver nesta condição”, destaca.
Novo medicamento
Neste ano, o combate à epidemia da Aids completa 40 anos. Atualmente, existem dezenas de medicamentos para o tratamento da doença que são oferecidos gratuitamente pelo poder público. A SMS oferece as substâncias tenofovir e a lamivudina, que compõem um único comprimido, e a dolutegravir para o tratamento da doença. Nesta segunda-feira (29), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o tratamento da doença com apenas um comprimido, que é a combinação das substâncias lamivudina e dolutegravir sódico.