A divulgação pelo promotor de Justiça, Marcos Rios, da lista de vacinados de Ceres, município do Vale do São Patrício, vem causando muita revolta e indignação.
O representante do Ministério Público do Estado de Goiás disse à reportagem que viu o documento com “surpresas muito desagradáveis” e que vê responsabilidade por parte da administração local.
A lista revela que famílias inteiras, ligadas a donos de hospitais, simularam estar na relação de contratados para receber a vacina. Com 22 mil habitantes, Ceres é um polo de saúde regional e conta com oito hospitais privados, segmento importante da economia local.
Conforme o promotor, na lista estão pais de médicos, que são proprietários rurais, que aparecem como trabalhadores de serviços gerais, simulando a relação de emprego. Uma ex-primeira dama da cidade recebeu a vacina como “auxiliar de coleta”.
“São pessoas que andam de carros de luxo pela cidade e que todo mundo conhece.” Marcos Rios afirmou que essas pessoas usaram de um artifício criminoso e podem responder por vários crimes, entre eles peculato, com multas que podem chegar a R$ 50 mil.
Heloiza Dias Lopes Lago, coordenadora do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Ceres, responsável pela vacinação local, disse que entregou a lista de quase 900 vacinados nesta terça-feira (9) ao MP.
Na lista, estão os nomes indicados pelos hospitais de trabalhadores e profissionais de saúde que deveriam ser vacinados, além dos idosos que vivem num abrigo da cidade. A relação que está indignando os moradores de Ceres foi encaminhada pela direção dos hospitais.
“A gente não acredita que um dono de hospital vai expor um parente a uma situação dessas. Avisamos o tempo todo que a lista é publica e que o MP estaria de olho.”
Heloiza Lago confirma que a SMS de Ceres não conferiu as listagens. “Talvez por inocência nossa. Jamais poderíamos imaginar que agiriam de má fé. Agora diante da solicitação da promotoria esses vínculos terão de ser comprovados. Justamente por ser uma cidade pequena e quase todo mundo aqui trabalha em serviço de saúde, não tem como a gente imaginar que a pessoa está lá sem vínculo empregatício.”
O prefeito de Ceres, Edmário Barbosa (Cidadania) disse que também foi surpreendido com a lista “burlada”. Segundo ele, um dos hospitais trocou pelo menos seis nomes para incluir familiares e que vai aguardar as determinações do MP para tomar as providências.
O promotor Marcos Rios informou que as investigações ainda estão em curso, mas que em um único estabelecimento pelo menos 12 pessoas receberam a vacina de forma irregular, entre eles “um médico oftalmologista conhecido que nunca se aproximou de um paciente de Covid-19”.
Marcos Rios concluiu que os responsáveis pela vacinação terão de responder por improbidade administrativa, entre eles a secretária de Saúde, Marjuery Seabra de Brito, e a coordenadora de Vigilância Epidemiológica, Heloiza Lago.
Elas cometeram uma falta de vigilância. Receberam uma coisa que hoje vale mais do que ouro e entregaram na mão dos hospitais. Essas vacinas deveriam ser guardadas para vacinar o pessoal da linha de frente e, depois os velhinhos. A seleção tinha de ter sido feita.”