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Educação manda 10 mil alunos do ensino médio para a EJA em Goiás

Wesley Costa
Maíra Martins, mãe do aluno Isaac Gabriel Martins: jovem trabalha no período vespertino e se diz prejudicado

A Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) retirou ao menos 10 mil alunos do ensino médio regular e os remanejou para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) após o fechamento de turmas noturnas de escolas estaduais. A mudança teve início neste mês de maio, e tem sido implementada principalmente em unidades de Goiânia e Aparecida, em meio ao ano letivo.

Pais e professores ouvidos pela reportagem reclamam da medida e alegam surpresa. Conforme os relatos, alunos menores de idade, que faziam o ensino noturno, serão prejudicados devido ao tempo de permanência menor nas escolas. No ensino regular, são três anos para concluir o nível médio. O prazo é reduzido para um ano e meio na EJA, modalidade permitida apenas para maiores de 18 anos.

A pasta, por outro lado, argumenta que problemas como evasão e baixa frequência nas turmas noturnas motivaram a mudança. Conforme a Seduc, foi feita uma proposta e encaminhada às Coordenadorias Regionais de Educação (CRE) visando a reduzir os pontos problemáticos e incentivar os alunos a terminarem o ensino médio mais rapidamente. No entanto, alega que a decisão de fechamento de turmas foi das próprias diretorias.

Para o coordenador do Fórum Goiano de EJA, Lucas Martins, a medida está relacionada ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que atua como indicador da política educacional de cada estado. “Goiás faz muita propaganda de que é bom no Ideb, mas é faz de conta, é fazer os números, isso é muito fácil. Vai fazer uma avaliação qualitativa para ver se estão aprendendo”, aponta.

Martins explica que a Seduc encaminhou aos diretores das escolas “a meta que tem de ser alcançada no Ideb”. E acrescenta: “Chegou para as escolas também a informação de que a mudança pode ser parcial, só para a 3ª série, justamente o ano que realiza a avaliação do Ideb”, se referindo ao Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Reclamações

De acordo com ele, a situação tem causado inúmeras reclamações de gestores, que alegam que a medida foi “compulsória”, ao contrário do que diz a Seduc. Para Maíra Martins, de 40 anos, mãe de Isaac Gabriel, de 17, que estuda em um colégio estadual de Aparecida de Goiânia, também foi repassado pela direção da unidade que havia sido uma “determinação”.

Segundo ela, os pais e responsáveis foram chamados na escola há cerca de duas semanas e informados que a pasta adotou a medida para “extinguir o ensino médio” no período noturno. “Estamos no meio do ano letivo para a secretaria vir agora, mudar tudo, e não avisar ninguém”, reclama, explicando que Isaac ingressou nos estudos à noite após arrumar um trabalho no período vespertino.

Conforme Maíra, a realidade é a mesma a de outros estudantes. “Alunos do noturno são jovens que precisam estudar e trabalhar. Se trabalha é porque precisa”, acrescenta. Para ela, a solução poderia ser repassar o filho para o período diurno. “Mas tem vaga para de manhã? Não. Onde não é integral, não tem vaga, e onde é integral meu filho não pode. Na escola que ele está matriculado não tem”.

Estudante de um colégio em Aparecida, Giana Emanuela Ribeiro, de 17 anos, reclama que a mudança prejudica os estudantes. “Nós, desde a nossa 1ª série tivemos nosso ensino regular e mudar isso da noite para o dia não é bom para nenhum aluno. Eu sempre fui uma ótima aluna, e tenho um sonho muito grande de passar no Enem, conseguir um emprego bom”, destaca.

A adolescente explica que é do interior do Maranhão e veio para Goiânia procurando ensino de qualidade para entrar em uma boa universidade. “Sempre tive meu ensino regular e para chegar agora e mudar tudo. A gente está sendo muito desvalorizado, quem estuda à noite não é porque quer, é porque trabalha, tem curso para fazer. Não tem como estar mudando de turno”, complementa.

A preocupação é a mesma para Khetthemilher Alves, de 36 anos, mãe de Khayane, de 16, aluna da 2ª série de um colégio estadual em Goiânia. Ela conta que é professora, mas atualmente está desempregada, e a filha trabalha durante o dia para contribuir com as contas da casa. “Como vou tirar minha filha que ajuda nas despesas do trabalho?” diz, acrescentando que teria de tirar do próprio bolso “direto para pagar um cursinho pré-vestibular” para que a menina não tivesse prejuízo no desempenho do Enem.

A mulher aponta ainda que não há motivo para a filha ser colocada na modalidade de ensino para jovens e adultos. “Se ela tivesse atrasada com o ensino, aí sim entenderia. Mas ela está na fase regular do ensino médio, não tem porque ser acelerada para terminar um ano mais cedo”. E acrescenta: “Eu matriculei ela no início do ano para o ensino regular, não para a EJA”.

Professora de uma escola de Aparecida, Wilma Ferreira, de 62 anos, explica que ainda não há informação de como será feita a modulação dos servidores efetivos das instituições de ensino, mas já adianta que vai causar prejuízo também aos profissionais, professores e administrativos. Para ela, há diferença na carga horária e os perderiam conteúdo.

Conforme ela, das 32 horas/aula que precisa cumprir, 24h são no ensino noturno, e o restante no matutino. No entanto, com a alteração, ela reclama que poderia ter de cumprir parte do período em outra unidade de ensino, o que geraria mais desgaste. “Mexe com a vida da gente. Todo mundo perde”, aponta.

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