Geral

El Niño afeta chuvas e vazão do Rio Meia Ponte reduz

Diomício Gomes
Captação de água da Saneago no Rio Meia Ponte, em Goiânia

O El Niño tem afetado a vazão do Rio Meia Ponte, responsável pelo abastecimento hídrico de aproximadamente um terço de Goiânia. O fenômeno climático tem provocado chuvas irregulares, que geram variações na vazão do rio.

Para se ter ideia, na última quarta-feira (6) a vazão era de 15.548,26 l/s. Quatro dias depois, neste domingo (10), ela estava em 5.870,83 l/s, menor vazão registrada nos últimos sete anos nesta data. Autoridades não consideram risco de desabastecimento a curto e médio prazo.

Neste ano, o Meia Ponte alcançou nível crítico I, quando a vazão é menor ou igual a 5.500 l/s, em 22 de setembro de 2023, data até posterior do que aconteceu em anos anteriores durante o período de estiagem. Entretanto, no dia 17 de novembro, voltou a entrar nesse nível. Na data, a vazão era de 3.925,33 l/s. Apenas quatro dias depois, no dia 21 de novembro, a vazão já era de 9.788,29 l/s. Menos de duas semanas depois, no dia 28 de novembro, a vazão alcançou 18.220,46 l/s.

Para se mensurar a rapidez da variação, ao longo da estiagem de 2023, o rio levou 87 dias para sair do nível de atenção, quando a vazão de escoamento era menor ou igual a 12.000 l/s, e chegar até o nível crítico I. Essa série de variações tiveram efeito sobre a vazão média do mês de novembro. Em 2022, ela foi de 13.540,31 l/s. Já em 2023, ela ficou em 7.656,56 l/s.

O gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim, afirma que essas variações acontecem por conta das chuvas irregulares que são diretamente afetadas pelo El Niño, fenômeno que altera a temperatura da água do Oceano Pacífico. “Em 2022, tivemos o La Niña. Ele contribuía para chuvas mais recorrentes. Neste ano, é diferente. Por isso experimentamos essas variações”, esclarece.

O secretário-geral do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte (CBH Meia Ponte), Fábio Camargo, lembra que a captação do Meia Ponte é feita de forma superficial. “Por isso, dependemos da chuva. O sistema é diferente do João Leite, que é um reservatório”, diz. Segundo ele, em torno de 5.000 l/s conseguem sanar as principais demandas do rio. “São em torno de 2.000 l/s para atender o abastecimento e outros 3.000 l/s para manter o curso d’água”, pontua.

É provável que a tendência de novembro permaneça ao longo deste mês. Até 10 de dezembro, todos os dias tiveram a vazão diária menor do que o registrado nas mesmas datas de 2021 e 2022. Atualmente, a vazão média do rio, que leva em conta os últimos sete dias, é de 10.733,5 l/s e está no nível de atenção.

Chuvas

O secretário-geral do CBH Meia Ponte conta que apesar de a estiagem deste ano não ter sido severa, tem percebido que a chuva tem ficado aquém do esperado desde o início do período chuvoso. “Entretanto, não há nada para se preocupar imediatamente”, destaca Camargo.

Em novembro, a climatologia esperava 217 milímetros (mm) de chuva em Goiânia. Entretanto, levando em conta a estação de monitoramento localizada no Centro, choveu apenas 157 mm. Entretanto, o gerente do Cimehgo enfatiza a irregularidade de precipitações na capital. A estação de monitoramento do Jardim Curitiba, por exemplo, registrou 271 mm de chuva no mês passado.

Amorim destaca que as ondas de calor que ocorrem desde o início do segundo semestre também podem ter contribuído para um volume menor de chuvas. “Acaba favorecendo uma redução (das chuvas)”, aponta. Segundo o Climatempo, uma nova onda de calor vai atuar sobre o Brasil a partir da próxima quinta-feira (14).

Para dezembro, é esperado que as chuvas aumentem nos últimos dias do mês, com a chegada do verão. A climatologia espera 290 mm de chuva para este mês na capital. Entretanto, o cenário já apresenta as mesmas irregularidades de novembro. Até agora, enquanto choveu apenas 44 mm no Centro, a região Leste já registrou 185 mm.

Segundo o secretário-geral do CBH Meia Ponte, o comitê tem acompanhado a situação e a expectativa é de que o volume de chuvas aumente nos primeiros meses de 2024. “E a chuva tem que ser perene. Não pode ser essa chuva forte, em que todo o volume vai para o rio e depois vai embora. De qualquer maneira, traçamos todos os cenários possíveis e temos estratégias prontas para serem adotadas caso a estiagem aperte”, afirma Camargo.

O gerente do Cimehgo esclarece que ainda é cedo para dizer se o cenário atual irá influenciar no período de estiagem de 2024, mas destaca que uma das preocupações é a tendência de o El Niño durar até maio.

“Quando ele estiver acabando, estaremos entrando na estiagem. Por isso, seguimos monitorando mês a mês”, pontua Amorim. Independentemente do período, o gerente destaca a importância de preservar os mananciais. “É um trabalho do poder público, mas também da população. Obrigação de todos”, finaliza.

Redação
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