Faltando menos de 30 dias para o fim da campanha de vacinação contra influenza e sarampo, menos de 15% das crianças de Goiás foram imunizadas. Em 2022, apenas 14,2% recebeu a vacina contra sarampo que tem como meta 95% do público e 11,7% contra influenza, cuja meta do Ministério da Saúde (MS) é de 90%. Devem receber as doses contra sarampo: crianças de 6 meses a 5 anos e contra a influenza: de 6 meses a 6 anos. A vacinação acontece de forma gratuita em todos os municípios do estado.
Os alertas para possibilidade de retorno de doenças que foram inclusive consideradas erradicadas, como o sarampo, acontecem há anos. O Brasil recebeu em 2016 o Certificado de País Livre do Sarampo, concedido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Dois anos depois, entretanto, perdeu a certificação porque houve reintrodução do vírus no país.
No ano de 2019 foram registrados cinco casos em Goiás e assim, restabeleceu uma cadeia de transmissão da doença após 20 anos sem circulação do vírus. O surto seguiu até março de 2020, quando 20 casos da doença foram confirmados em Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Posse e Rialma. Nos anos de 2020 e 2021, os casos notificados em Goiás foram descartados mas a baixa cobertura vacinal pode mudar os rumos desse cenário.
Para o Ministério da Saúde, a meta é vacinar, no mínimo, 95% do público. A vacina que protege contra a doença é a tríplice viral, que também imuniza conta caxumba e rubéola. Em Goiás, a queda nessa cobertura acontece desde 2017, quando chegaram a 80,99%. No ano passado, a cobertura vacinal foi de 76,92% e na capital 83,3%. Em 2022, a meta é imunizar 425.748 crianças, mas até a última sexta-feira (6), apenas 62.834 crianças haviam sido imunizadas, o equivalente a 14,02%.
Influenza
A campanha de vacinação contra influenza começou no dia 4 de abril. Desde então, 52.546 crianças de 6 meses a menores de 5 anos foram vacinadas contra a doença em Goiás, o que representa 11,7% de cobertura ideal. Secretário estadual de Saúde, Sandro Rodrigues explica que a criança é suscetível à influenza devido à fragilidade do sistema imunológico e faz um alerta de forma generalizada. “Nos primeiros cinco anos de vida, os mecanismos de defesa do organismo ainda não estão desenvolvidos. Por isso, é fundamental a aplicação de todas as vacinas específicas às crianças previstas no Calendário Nacional de Vacinação”.
Difteria e paralisia
Nacionalmente, uma das maiores preocupações é a vacina contra a poliomielite e a possibilidade de retorno de casos de paralisia infantil. Os últimos registros de casos no Brasil aconteceram em 1989, mas a meta de 95% de imunização não está sendo alcançada. Em 2012, o índice de cobertura vacinal foi 101%. Em 2018, caiu para 85,54%. Já em 2021 foi de 71,60% no estado e 71,2% em Goiânia.
A difteria é prevenida por meio da vacina pentavalente e havia sido controlada com o último registro em 1998. Neste ano, entretanto, foi registrada uma ocorrência em Santa Helena de Goiás e outros quatro casos estão em investigação segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). Em 2021, a cobertura dessa vacina em crianças foi de 71,98% em Goiás e de 72,% em Goiânia.
Segurança, eficácia e comunicação
Titular da SES-GO, Sandro Rodrigues ressalta que as vacinas previnem a ocorrência de casos graves de doenças que sobrecarregam o sistema de saúde e pontua que as vacinas são seguras e que não há motivos para questionamentos. “Vacina é proteção, é segurança. Vacina salva vidas. Elas já foram estudadas, avaliadas e validadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) “, acentua.
Para a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo, vários fatores precisam ser analisados desde 2015, principalmente. Entre os pontos, o aumento das mães no mercado de trabalho e a ausência, muitas vezes, de funcionamento dos postos de vacinação fora dos horários comerciais. Mas ela ressalta, entretanto, que o recente discurso que questiona segurança e eficácia de vacinas contra a Covid-19 pode ter ampliado a insegurança do brasileiro de forma geral.
“O brasileiro não é contra a vacina, mas uma parcela da população pode ter começado a questionar as demais vacinas quando a segurança e a eficácia de uma foram colocadas em cheque”, completa Bravo. A diretora da SBIm também acredita que a comunicação precisa ser ampliada. “A comunicação está sendo falha. A gente liga a televisão e não vê. O Ministério parou de comunicar com eficácia. Vou dar um exemplo. Ontem eu andei de Uber e conversando com a motorista falamos de vacina. Ela tem um filho de 4 anos e disse que não sabia que estávamos em campanha. As pessoas precisam saber, precisam ser comunicadas de forma efetiva”, acrescenta Flávia.
Vacinação nas escolas
Cada município e estado decidiu sua melhor forma de atuação. Esta também é uma discussão presente quando o assunto é imunização infantil. Flávia Bravo, da SBIm, explica que países como o Chile utilizam da parceria entre Educação e Saúde para a imunização das crianças e que há sucesso na cobertura.
O Brasil possui um Programa Nacional de Imunização (PNI) que disponibiliza, pelo SUS, as principais vacinas e é considerado um dos mais completos do mundo. Para Flávia, o sucesso do programa é também uma das causas da queda na adesão às vacinas. Isso porque, como diversas doenças não são mais vistas como paralisia e sarampo, há também uma diminuição da preocupação sobre as consequências. “Infelizmente, o sucesso da vacinação afasta a noção de risco e pessoas não valorizam a necessidade da vacina”, finaliza.