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Em Goiás, pelo menos 240 escolas particulares fecharam na pandemia

Wildes Barbosa
Educandário Paranaíba, no Centro de Goiânia: escola tradicional fechou as portas por motivos familiares

Ao menos 240 escolas particulares de Goiás foram fechadas desde o início da pandemia de Covid-19. Os dados mostram que até 2019 as novas unidades eram mais que o dobro das que encerravam as atividades ano a ano. Diante da crise de saúde que afetou o mundo, o quadro se inverteu. Na avaliação de representantes das escolas, mesmo com uma ligeira melhora, as dificuldades ainda persistem, com dívidas acumuladas que podem forçar ainda mais baixas.

De acordo com dados da Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg), 68 unidades foram fechadas em 2019, 92 em 2020 e 109 em 2021. As estatísticas abrangem os ensinos Infantil, Fundamental e Médio.

A presidente da Associação das Instituições Particulares de Ensino de Goiás (Aipeg), Eula Wamir, diz que o atual momento é de retomada. A definição não significa a recomposição do equilíbrio das finanças, mas um curto fôlego, explica. “Houve perdas financeiras por parte das famílias, de forma que muitas delas migraram para a rede pública”, cita Eula. Influenciando um resultado ainda mais severo, grande parte dos alunos da educação infantil, etapa não obrigatória, não retornou para as escolas mesmo após a liberação pela retomada. “Essas crianças estão em casa”, diz Eula.

O Sindicato dos Estabelecimentos das Escolas Particulares de Goiânia (Sepe-GO) estima que o estado tenha cerca de mil unidades particulares de educação. No último levantamento, realizado pela entidade em agosto do ano passado, cerca de 30% das unidades haviam sido fechadas. Na época, o presidente do Sepe, Flávio Roberto, destacou que levantamento detalhado seria feito, mas o mesmo ainda não está disponível.

O setor de educação foi um dos últimos a retomar as atividades presenciais, só tendo passado a frente do setor de eventos. Entre as liberações e restrições, as unidades buscaram se adaptar, com adoção de atividades remotas. O modelo não foi suficiente para reter as matrículas no patamar necessário para manter as contas equilibradas. Diante de sucessivas reclamações, porém, a área não recebeu socorro financeiro, diz Eula.

Inversão

A tendência anterior à pandemia era de abertura de mais que o dobro de unidades que eram fechadas. Em 2019, por exemplo, foram fechadas 68 escolas, mas outras 176 foram abertas, um saldo positivo de 108. Em 2020 a margem foi reduzida abruptamente, com 92 fechamentos e 102 inaugurações. Em 2021 foram 136 aberturas contra 109 fechamentos. Neste ano, porém, o quadro se inverteu, com mais encerramentos de atividades que a abertura de novos negócios: 39 fechamentos contra 25 inaugurações.

Com dívidas e volta tímida, perspectivas são incertas 

As perspectivas para os próximos meses ainda são incertas. Para manter os negócios, grande parte dos gestores precisou de empréstimos bancários. “As escolas que estão abertas sofrem com os impactos dos empréstimos, que foram necessários para cumprir com a folha de pagamento”, explica a presidente da Aipeg, Eula Wamir. A única ação governamental que alcançou a área foi a possibilidade de redução das jornadas de trabalho dos funcionários.

“Essa medida do Governo Federal manteve a estabilidade do colaborador. Quando retornamos, não estávamos com um grande número de alunos. Isso acabou impactando em desligamentos e indenizações”, diz Eula sobre os gastos com verbas trabalhistas.

“Não houve auxílios por parte dos municípios ou do Estado. A rede privada de educação não recebeu nenhum tipo de incentivo”, observa. Segundo Eula, os impactos foram sentidos em todos os municípios. “Nas escolas pequenas, que já estavam com dificuldades financeiras, esses problemas só foram aumentados com o advento da pandemia.”

Em Goiânia, o número de fechamentos também passou a ser maior que o de aberturas. Em 2019, 57 unidades foram abertas e 25 fechadas. Em 2020 os números quase se equipararam, com 34 encerramentos e 31 inaugurações. Em 2021 houve uma recuperação tímida, com 48 aberturas e 30 fechamentos. Nos primeiros quatro meses deste ano, 12 escolas foram fechadas e 9 abertas. O Sepe diz que escolas da capital chegaram a perder 40% dos alunos.

Entre as unidades fechadas na capital está o Educandário Paranaíba, localizado na Avenida Paranaíba, no Setor Central. A unidade foi fundada na década de 1970. O fechamento, conforme explica uma ex-colaboradora, se deu antes que os problemas financeiros pudessem ser sentidos. A decisão do proprietário, porém, teria sido influenciada pelos baixos rendimentos observados ao longo dos últimos anos, mas sem que houvesse desequilíbrio.

“Hoje as escolas que sobreviveram estão tendo que ajustar suas mensalidades de acordo com as realidades das famílias, porque precisam manter essas matrículas. Porém os gestores também precisam fazer o estudo dos impactos disso. Hoje tudo aumentou. Atualmente, para poder cumprir com os protocolos de biossegurança, com as necessidades funcionais e administrativas, tudo o que era preço ‘x’ hoje é ‘y’”, diz sobre os desafios que ainda devem acompanhar as unidades. 

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