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Entorno de Goiânia dispara e já é a 2ª região mais populosa do País

Wildes Barbosa
Senador Canedo registra o maior aumento relativo de população do País entre os municípios com mais de 100 mil habitantes: 84,3%

A região metropolitana de Goiânia (RMG) tem uma taxa média de crescimento anual de 1,49% nos últimos 12 anos, conforme aponta o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo a segunda do País entre as aglomerações com mais de 1 milhão de habitantes neste índice. A Grande Goiânia ficou atrás apenas da região de Florianópolis (SC), que teve o maior crescimento médio, com 2,47%. Entre 2010 e o ano passado, um total de 307.526 pessoas a mais passaram a habitar a capital goiana e as demais 19 cidades do entorno, uma alta de 14,14%. O crescimento da região se deu principalmente nas cidades menores, especialmente Senador Canedo, Goianira e Abadia de Goiás.

Para se ter uma ideia, a taxa de crescimento médio anual de Goiânia verificada pelo IBGE é de 0,83%, o menor índice de toda a RMG. Senador Canedo, por exemplo, teve um crescimento médio de 5,23%, o que gerou o maior aumento relativo de população do País entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, com variação de 84,3% entre os censos de 2010 e 2022. No geral de todos os municípios, no entanto, duas cidades da RMG estão entre as quatro do Brasil com maior crescimento populacional relativo.

A quarta colocação é de Goianira, cuja população mais que dobrou nos últimos 12 anos, com aumento de 111,2%. A taxa de crescimento médio anual na cidade foi de 6,43%. Mas a maior alta é a de Abadia, cuja população cresceu 177,6% no período, e o município teve taxa média de 8,88%. A cidade, neste período, ainda foi a que teve o maior aumento proporcional de domicílios no País, com 197,5%. Abadia, em 2010, tinha 2,6 mil moradias e no ano passado o Censo verificou 7,9 mil domicílios.

Em toda a RMG, chama a atenção o aumento semelhante, em números absolutos, de população e domicílios, com 302.514, uma alta de 38,49%. Atualmente, a região conta com 2.480.667 habitantes para 1.088.458 domicílios, ou seja, são 2,27 moradores por residência, sendo que em 2010 essa relação era de 2.173.141 pessoas e 785.944 habitações, o que chega a um índice de 2,76. Para a arquiteta e urbanista Maria Ester de Souza, a oferta de moradia mais barata na última década nas cidades metropolitanas é o principal motivo para o crescimento das cidades menores da região.

“O tema moradia é o que decide o caminho da pessoa e ela vai para o mais barato, seja por falta de infraestrutura ou pelo o que a pessoa consegue pagar. O mais seguro ou o mais tranquilo é o mais caro”, avalia Maria Ester. Ela conta que o aumento dos domicílios, especialmente em Goianira e Abadia de Goiás, se dá por incremento do programa Minha Casa Minha Vida que ocorreu no período verificado pelo Censo 2022. A situação é diferente em relação a Senador Canedo, cuja explicação passa pela proximidade às regiões Sul e Leste de Goiânia e a oferta de imóveis mais baratos. Para a urbanista, o crescimento do município não pode ser visto apenas por acontecimentos locais. “É um dado de região, não é municipal. Esse crescimento, mesmo em outras cidades, é encabeçado por Goiânia, envolve a migração e o crescimento da região metropolitana”, explica.

O prefeito de Senador Canedo, Fernando Pellozo (UB), atribui o desenvolvimento da cidade a várias razões. “Na curta história dela, a capacidade econômica acabou sendo o fator chave para o crescimento populacional. Além de ser uma cidade acolhedora, ela fica praticamente a 20 km de Goiânia, e desde a implantação do polo petroquímico, conseguiu atrair a atenção de muitas indústrias e, em especial, de uma população mais jovem. Para um território relativamente novo, com 34 anos, teve uma ascensão grande e rápida”, afirma.

Segundo o gestor, a maioria dos novos habitantes vêm da região Nordeste do estado, assim como da capital. “Eles vêm atraídos pela qualidade de vida, pela proximidade com Goiânia, pelo custo mais acessível, pelas ofertas de emprego”, relata. Presidente da Associação dos Desenvolvedores Urbanos do Estado de Goiás (ADU-GO), João Victor Araújo concorda que a expansão em Senador Canedo tem explicação pelo crescimento econômico da cidade, mas não nega a influência da capital. “Hoje faz parte da região nobre de Goiânia, perto de shopping, estádio, centro cultural, saída para o aeroporto. Era natural a ida dos loteamentos para Senador Canedo”, diz.

Araújo ressalta que na cidade há crescimento de moradias de médio e alto porte, ao citar os condomínios fechados que se propagaram no município, na divisa com Goiânia. “A tendência para os próximos anos é que isso continue”, afirma. O superintendente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), Felipe Melazzo, lembra que o Censo 2022 é resultado das políticas públicas iniciadas há 10 ou 15 anos. “A gente já vinha acompanhando esse movimento porque nas cidades do entorno a legislação para abrir novos loteamentos era mais acessível. Desde o Plano Diretor de 2007 Goiânia já tinha mais restrições”, conta.

Ele acredita que isso é o que ocorre com a ida de diversos condomínios no eixo Senador Canedo e Bela Vista, na saída de Goiânia. “Não consegue mais áreas na capital, nem em Aparecida de Goiânia e nem em Trindade. Esse é um dos fatores, mas não é o único.” Sobre Goianira e Abadia, Araújo entende que o crescimento se deu mesmo em razão das moradias mais econômicas, ou seja, de habitação social, no que ele ainda acrescentou a cidade de Aragoiânia. (Colaborou João Pedro Santos, estagiário do GJC em convênio com a UFG)

Censo mostra necessidade de Plano Diretor Metropolitano

A arquiteta e urbanista, Maria Ester de Souza, acredita que os números expostos pelo Censo 2022 escancaram o quanto é necessária a finalização do Plano Diretor Metropolitano (PDM). “O Plano Diretor de Goiânia (aprovado em 2022) se referiu a um estudo do município, com dados da cidade. Nós temos um Plano Metropolitano que está arquivado, mas temos essa possibilidade de encaminhá-lo agora, com esses novos números”, diz. 

O Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana (PDIRM) começou a ser traçado em 2013, em uma parceria do Estado de Goiás com a Universidade Federal de Goiás (UFG) com o objetivo de diagnosticar os problemas de toda a região e traçar soluções conjuntas para os municípios e o governo estadual. Entre 2016 e 2018, o projeto básico foi elaborado, mas, desde então, o convênio foi descontinuado e o projeto está parado. 

Para Maria Ester, o crescimento populacional e de domicílios nas cidades metropolitanas, encabeçado por Goiânia, demonstra que já não é possível traçar as políticas públicas apenas municipais. 

O superintendente da Ademi-GO, Felipe Melazzo, concorda que o poder público já não consegue fazer a gestão de Goiânia sem pensar na região metropolitana. “Tanto que as saídas da capital estão sempre cheias, que são as pessoas indo para as casas todos os dias. Há uma necessidade de acompanhar esse futuro próximo nas legislações”, diz. Ele cita, por exemplo, a necessidade da Prefeitura de Goiânia dar andamento na sanção das leis complementares ao Plano Diretor de Goiânia, sobretudo na que se refere às habitações de interesse social (HIS). Segundo ele, essa legislação vai possibilitar um avanço na construção de moradias mais baratas em todas as regiões da capital. Ele ressalta que deve ser levada em consideração a redução do número de moradores por domicílio, o que, para ele, é demonstrado no aumento de oferta de apartamentos compactos na capital, por exemplo. Melazzo considera ainda que o futuro da RMG vai depender justamente de como cada município, sobretudo Goiânia, vai agir com os incentivos à moradia e mesmo desenvolvimento econômico. 

João Victor Araújo, presidente da Associação dos Desenvolvedores Urbanos do Estado de Goiás (ADU-GO), concorda e reforça que a capital pode ser a nova indutora dos empreendimentos de médio e baixo padrão. Ele também aposta no crescimento de Hidrolândia nos próximos anos, devido a oferta de área e localização privilegiada.

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