Um estudo publicado na edição da revista "Science" desta quinta (14) diz que a epidemia de zika pode estar a caminho do fim e acabar de vez em três anos.
Os resultados se baseiam nos dados obtidos até então de transmissibilidade e de ciclo da doença -o período de infecção dura cerca de 11 dias e pode não apresentar nenhum sinal ou sintoma.
O fato de muita gente pegar a doença, que pode ser transmitida também por via sexual e transfusão sanguínea, além da picada de mosquitos aedes, pode favorecer o aparecimento do fenômeno "imunidade de rebanho".
Na Polinésia Francesa, por exemplo, que teve um surto do vírus entre 2013 e 2014, estima-se que 66% da população tenha sido infectada.
Com boa parte das pessoas apresentando anticorpos antizika (e é possível que qualquer brasileiro tenha tido a doença), essa imunidade de rebanho funcionaria como um escudo, dificultando que mesmo pessoas que nunca tiveram o vírus o adquiram.
Esse argumento é o mesmo explorado por algumas pessoas de movimentos antivacina, comuns nos EUA mas que também existem no Brasil. O problema é que, além de sempre haver algum risco de contágio, quando muitas pessoas confiam apenas na imunidade do rebanho, abrindo mão da própria proteção, as infecções podem encontrar caminhos e se restabelecerem.
O esperado é que a próxima grande epidemia de zika afete a região ocorra em dez anos, por causa da nova geração de pessoas que vai nascer e que ainda não estariam imunizadas contra o vírus.
Para reverter esse cenário, uma possibilidade é o uso de vacinas antizika, ainda em desenvolvimento. Com a pressão resultante do surgimento de casos de microcefalia e outra más-formações em fetos de mães que tiveram zika, é bastante provável que nos próximos anos -ou seja, antes da provável próxima grande epidemia- as vacinas já estejam disponíveis.
Por outro lado, os autores do trabalho destacam a imprevisibilidade do surto -mesmo tratando-se de um vírus conhecido há 70 anos.
Um desses fatores de imprevisibilidade pode ser o fenômeno El Niño, que bagunça o clima no mundo, aumentando, por exemplo, a temperatura e a quantidade de chuvas na porção sul da América do Sul.
"A escalada do vírus da zika após longo período como uma doença de aparente pequena importância mostra quão pouco nós realmente entendemos sobre a distribuição global de flavivírus [família de vírus que abrange os vírus da zika e da dengue] e outras doenças transmitidas por vetores", escrevem os autores.
As chances de permanência (endemia) da zika dependem também da capacidade de o vírus sobreviver em animais que não o homem -estudos brasileiros em macacos mostraram que esse ciclo silvestre é factível no país.
Mesmo com a dificuldade de prever pandemias, os autores dizem que é possível melhorar a velocidade para detectar doenças e dar uma resposta a elas.