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Escolas da rede estadual têm até oito casos de violência por dia

Aloisio Mauricio/Fotoarena/Folhapress
Vigília em frente a Escola Estadual Thomazia Montoro na Vila Sônia, em São Paulo, onde houve ataque nesta segunda-feira (27)

Em todos os dias deste mês de março a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) recebeu entre seis a oito chamados em razão de crises no ambiente escolar. Em todo o ano de 2022 foram 104. No topo da lista de situações de insegurança estão desavenças entre alunos de torcidas rivais e ameaças de massacre. O monitoramento e o acompanhamento do problema é realizado pela pasta dentro de uma perspectiva ampla, analisando todos os aspectos de vulnerabilidade. “A população vincula casos como o que ocorreu em São Paulo esta semana somente à questão da segurança, mas é preciso considerar que estamos lidando com o ser humano”, afirma Jaqueline Cornet, chefe do Núcleo de Saúde do Servidor e do Estudante da Seduc.

Na segunda-feira (27), quando o Brasil foi surpreendido com o ataque de um estudante de 13 anos numa escola pública da capital paulista, matando uma professora e ferindo outras cinco pessoas, em Goiás a Seduc precisou lidar com uma crise. No Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) José de Faria, no município de Edéia, dois alunos brigaram na quadra da escola exigindo a intervenção da equipe gestora da unidade. Ninguém ficou ferido e os pais foram acionados, conforme orienta o Protocolo de Segurança Escolar, criado pela Seduc em 2019.

“Hoje meu telefone tocou sem parar”, disse à reportagem nesta terça-feira (28) o gerente de Segurança Escolar da pasta, major Marcelo Cunha. Ele explica que escolas de municípios do Entorno do Distrito Federal, de Goiânia e de Aparecida de Goiânia realizam o maior número de chamadas para a sua gerência. “Na capital, são em média duas por dia e não somente de unidades da periferia. Agora, temos também uma preocupação especial com o município de Goianira, onde houve uma explosão demográfica. Com ela vem outras consequências e vai desaguar nas escolas”

O major Marcelo Cunha explica que as chamadas das escolas solicitando ajuda estão relacionadas a dois tipos de situação. A primeira tem vínculo com torcidas organizadas. “O adolescente posta em sua rede social uma foto com a camisa do seu time e os rivais combinam para aguardá-lo na porta da escola”, detalha. O outro caso, mais preocupante, são as ameaças de massacre. “Elas podem ser reais por bullying ou porque o menor tem posicionamento extremista e convive com pessoas racistas.” Todas as vezes que ocorre uma chamada, a gerência de Segurança da Seduc aciona o Batalhão Escolar da Polícia Militar.

“Muitas vezes as ameaças ocorrem em vésperas de feriados ou de finais de semana com o objetivo de suspensão das aulas, mas não descartamos nenhuma delas. E nos preocupa mais quando identificamos que o menor faz parte de alguma gangue.” Nesta terça-feira (28), segundo o major, foi necessário atender a diretora de uma unidade escolar do Jardim Cerrado onde houve ameaça de um massacre. “Nós visitamos as escolas de acordo com a demanda e procuramos identificar os fatores que podem levar à criminalidade, como os portões abertos após a entrada dos alunos”, diz o major Cunha.

Caminho

“Os pais usam a escola, que é um lugar de ensino e aprendizagem, como depósito de adolescentes. Eles delegam à escola a missão de educar”, reclama o gerente de Segurança da Seduc. O major Cunha diz que sente falta da parceria dos pais com a escola e por isso busca uma contrapartida no Ministério Público e com os conselheiros tutelares. Segundo ele, antes da pandemia da Covid-19, o número de chamadas para a Seduc com relatos de clima de insegurança era menor. “Com a convivência em casa, vieram as brigas do casal e isso reflete nos filhos e deságua na escola.”

Trabalho para construir uma cultura de paz

Pedagoga e psicóloga, Jaqueline Cornet, chefe do Núcleo de Saúde da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), ressalta que é preciso unificar as questões educacional e emocional. “A estrutura familiar, o adoecimento mental e o comprometimento que a pandemia da Covid-19 trouxe. Não podemos trabalhar tudo isso de forma desconectada. A pandemia trouxe um boom de problemas para a rede pública de educação. Precisamos trabalhar não pensando somente em punir, mas também para planejar e construir uma cultura de paz, de cura e de aprimoramento. Eu não conformo com a violência, por isso fazemos um trabalho preventivo e posterior aos eventos, dando acolhimento à comunidade escolar ”
 
O Protocolo de Segurança Escolar capacita os integrantes da rede a ficarem atentos a possíveis sinais de vulnerabilidade. Quando isso ocorre, são deslocadas equipes de Segurança e de Saúde para a escola. “Estamos há três dias trabalhando em um município onde uma unidade sinalizou que um aluno planejava um massacre. Fomos investigar se o aluno era violento ou se tratava de algum comprometimento mental. Em parceria com a rede de proteção, fazemos rodas de conversas com professores, alunos e pais”, detalha Jaqueline Cornet. O aluno em questão, ela explica, está sendo assistido pela rede de apoio e foi encaminhado para um tratamento de saúde mental em Goiânia.

A psicóloga reforça que fatalidades sempre vão ocorrer. “Se existe gente, existe problema. Uma família desestruturada, resulta numa escola e numa sociedade desestruturadas.” O Núcleo de Saúde da Seduc espera contar em breve com pelo menos 83 psicólogos que serão distribuídos por todas as regionais de educação para trabalhar de forma preventiva com a comunidade escolar. “Precisamos lembrar que os servidores também são oriundos de famílias que têm fraquezas. Todos estão fragilizados: servidores, pais e alunos.”
 
Jaqueline Cornet diz que seu núcleo trabalha de acordo com um mapa de vulnerabilidades. “Há um determinado município com diversas situações de automutilação e suicídios. Fico atenta onde precisamos avançar. Muitas vezes a localidade não possui uma rede de proteção para assistir o aluno de forma adequada.” Os casos extremos, como citou a psicóloga, estão mais relacionados à crises de identidade, à não aceitação familiar e às divergências que surgem em razão disso. “Muitas vezes o jovem não é aceito pela família, pelos colegas, pela igreja que frequenta e pela comunidade de uma forma geral.” 

O Protocolo de Segurança Escolar está disponível no site da secretaria na internet. São orientadas condutas para os mais diversos casos.

Protocolo de Segurança unifica o atendimento 

Em julho de 2019, em parceria com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) lançou o Protocolo de Segurança Escolar para auxiliar toda a comunidade escolar na tomada de decisões diante de uma crise. O documento, desenvolvido pela Superintendência de Segurança Escolar e Colégio Militar da Seduc, não somente orienta os responsáveis pelas unidades escolares a elaborar um plano de emergência, mas também a desenvolver ações para manter a cultura de paz nas escolas.
 
O Proseg tem seis capítulos: Conceitos, Violência, Indisciplina e Ato Infracional, Medidas Preventivas, Práticas da Cidadania e Ações Preventivas, Conduta dos Servidores. Ou seja, todos os integrantes da comunidade escolar têm um papel a ser exercido para que qualquer tipo de violência, como o bullying, seja combatido. O protocolo está disponível no site da Seduc. 

No ano passado, a Gerência de Segurança da Seduc realizou quatro lives sobre o protocolo, direcionadas à comunidade vinculada à rede estadual de ensino. Cerca de 25 mil pessoas tiveram acesso às explicações que continuam disponíveis no YouTube. Este ano, haverá uma nova programação.

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