Geral

Espera por ambulância pode chegar a 12 horas em Goiânia

Wildes Barbosa
Ambulâncias paradas: auditoria identifica irregularidades e governo federal pede devolução de R$ 11 milhões

Os usuários da rede municipal de saúde de Goiânia podem esperar por até 12 horas para serem transportados pelas ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Goiânia. É o que relatam servidores do serviço, que alegam sobrecarga de trabalho e quantidade reduzida de veículos para a atividade. Nesta sexta-feira (26), apenas oito das 17 ambulâncias do Samu de Goiânia estavam operando. Na quinta-feira (25), a TV Anhanguera mostrou com exclusividade que uma auditoria do Ministério da Saúde apontou diversas irregularidades no Samu de Goiânia.

Segundo um servidor do Samu que preferiu não se identificar, já aconteceu de existir demanda para 20 transportes, que se refere ao deslocamento de pacientes de uma unidade de saúde para outra, em uma única noite. “É completamente impossível. Cada transporte leva de duas a três horas. A média é de sete ambulâncias rodando por dia, sendo que a prioridade é para os acidentes e pacientes mais graves. Mesmo regulados, já com vagas em outras unidades, esses outros pacientes vão ficando”, diz.

Uma auditoria realizada pelo Ministério da Saúde entre janeiro de 2022 e junho de 2023 mostrou a possibilidade de uma fraude relacionada à operação das ambulâncias do Samu de Goiânia. A auditoria constatou que, durante esse período, sete ambulâncias ficaram paradas (veja quadro), mas tiveram a produção de outras unidades móveis lançadas como se fossem delas. Uma das ambulâncias que apresentou irregularidades é a Unidade de Suporte Avançado (USA) 04. Ela está parada há pelo menos dois anos. O valor recebido indevidamente por essa produção fantasma seria de R$ 2,1 milhões.

Além disso, a auditoria também constatou que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) não conseguiu comprovar que os recursos repassados ao município para o custeio do Samu de Goiânia foram utilizados para essa finalidade. O valor sem prestação de contas é de R$ 8,9 milhões. A auditoria responsabiliza o secretário de Saúde da época, Durval Pedroso, pela devolução do dinheiro. O governo federal também pede que os R$ 2,1 milhões sejam devolvidos, totalizando R$ 11 milhões. Além disso, a auditoria recomendou que o custeio das sete ambulâncias com irregularidades fosse suspenso.

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Quem trabalha no Samu de Goiânia não se espanta com as conclusões da auditoria. De acordo com servidores da saúde ouvidos pelo POPULAR, as más condições das ambulâncias são amplamente conhecidas pelos profissionais que atuam na SMS. “Elas vivem na manutenção”, comenta um deles. Reportagem da TV Anhanguera de outubro de 2023 mostrou que já naquele mês, apenas sete das 17 ambulâncias do Samu de Goiânia estavam funcionando.

Outras irregularidades

O contexto de poucas ambulâncias e alta demanda de trabalho gera adoecimento mental nos servidores do Samu. “Muitos quadros de depressão e ansiedade. Quem trabalha no Samu é porque ama, aqui é muito cansativo”, diz um servidor que preferiu não se identificar. Segundo ele, dificilmente existem períodos de intervalo. “Não dá tempo nem de almoçar”, conta. A quantidade insuficiente de servidores atuando na Central de Regulação e nas unidades móveis foi outro ponto de irregularidade levantado pela auditoria.

Uma outra servidora que preferiu o anonimato destaca que a situação atual acaba revoltando a população, que desconta nos servidores. “Temos sofrido retaliações por parte da população em muitas situações em que existe a demora no atendimento. Quando a equipe chega, é recebida com hostilidade, sendo que o servidor não tem nenhuma culpa pela pouca quantidade de ambulâncias rodando”, justifica.

A auditoria também apontou que a infraestrutura da Central de Regulação e das bases descentralizadas não estão compatíveis com os critérios definidos em lei. Além disso, foi constatado que as unidades móveis não estão supridas com os equipamentos, materiais e medicamentos obrigatórios.

Gestão

Em nota, a atual gestão da SMS comunicou que “primando pela transparência da gestão pública, abriu as portas para que a auditoria acontecesse de forma ampla” e que “a diretoria do Samu já se manifestou mediante a auditoria e está tomando todas as medidas necessárias para sanar as inconformidades apresentadas no relatório do Ministério da Saúde”.

Também em nota, Durval Pedroso, secretário de Saúde na época do caso, informou que a Prefeitura de Goiânia “não remeteu os documentos solicitados pela auditoria que, portanto, concluiu, face à falta de documentação, que considerável parte do dinheiro enviado para o Samu não teve a comprovação que chegou ao seu destino”.

Segundo Durval, apenas a folha de pagamento dos servidores do Samu já supera o recurso enviado pelo Ministério da Saúde mensalmente, sendo que o complemento parte dos recursos municipais e estaduais.

Ele destacou ainda que tem colaborado com todo o processo de auditoria e que no dia 8 de dezembro de 2023 solicitou à SMS cópia de todos os documentos necessários para os devidos esclarecimentos, mas que até agora não os recebeu. Ele enfatizou ainda que “as possíveis irregularidades, que aparentemente existiram de formas pontuais” serão esclarecidas.

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