Geral

Estacionar na esquina rende 14 multas por dia em Goiânia

Fábio Lima
Carro em esquina da rua 6, no setor Oeste: guia rebaixada foi obstruída

A fiscalização de trânsito de Goiânia registra, diariamente, uma média de 14 multas contra motoristas que estacionam em esquinas. A prática comum em diversos locais da cidade traz prejuízos para a visibilidade dos condutores em cruzamentos e pode causar acidentes. A análise de especialistas é de que a fiscalização ainda é falha e que os números reais podem ser bem maiores.

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece que estacionar a menos de cinco metros de uma esquina é ilegal, determinando multa e a retirada do veículo com guincho. Somente neste ano foram aplicadas 3.338 multas em razão desta infração específica, igualando, até o momento, a média diária do ano passado, que teve 5.312 registros. O valor atual da multa é de 131 reais, que também acarreta na perda de quatro pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Ao circular pelas ruas do Setor Bela Vista, região sul da cidade, é possível observar que apesar de ser uma prática proibida, dezenas de veículos se amontoam nos encontros de vias. O bairro foi o cenário de três acidentes de grande repercussão neste ano, sendo que dois deles acabaram com mortes. A avaliação de especialistas é de que a imprudência com sinalizações está por trás da maioria das ocorrências.

O secretário executivo da Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), Ciro Meireles, diz que a pasta vem realizando obras de reforço das sinalizações da região desde o ano passado. Nas esquinas foram feitas faixas zebradas para ressaltar a proibição. “No entanto, voltamos a ter problemas e esses veículos de fato têm atrapalhado a visibilidade”, diz Meireles, que informa que a SMM analisa possíveis novas intervenções.

O engenheiro civil Benjamim Kenedy, do Mova-se Fórum de Mobilidade, diz que o problema dos carros estacionados em esquinas seria decorrente de uma relação de comodidade entre os motoristas e a fiscalização. A avaliação de Kenedy é de que apesar das sinalizações, não há uma fiscalização efetiva e rigorosa. “Não adianta ter a lei escrita e não ser cumprida”, considera.

Para o engenheiro, caso a fiscalização fosse mais atenciosa, os números de multas seriam maiores que os atuais apresentados. “Moro no Setor Bueno. No momento desta entrevista estou olhando na rua e tem pelo menos três carros parados em esquinas que poderiam ser multados e até guinchados”, explica Benjamim Kenedy.

Fiscalização

O engenheiro de transporte e professor do Instituto Federal Goiano (IFG), Marcos Rothen, também diz que é necessário reforçar a fiscalização. Para a melhoria da questão, Rothen diz que é preciso ampliar o sistema de monitoramento. “Grande parte da fiscalização da capital é feita utilizando radares em locais determinados. É raro vermos uma fiscalização feita com agentes. Esta fiscalização deve estar presente, de forma alternada, em toda a cidade”, destaca.

O professor Marcos Rothen cobra, no entanto, que também é preciso haver consciência por parte dos condutores. “Temos de destacar que os motoristas daqui precisam se acostumar com o respeito às regras de trânsito. Só na capital temos mais de um milhão de habitantes. Se cada um fizer o que quer no trânsito, a situação vai ficando cada vez mais crítica e todos corremos riscos”, aponta.

Educação

O membro do Mova-se diz que é preciso se voltar para a base do problema, destacando que cabe ao poder público não só a parte punitiva, como também a educativa. “Estamos na nossa terceira geração de motoristas em Goiânia. Neste estágio era para termos uma consciência melhor e, no entanto não percebemos essa queda”, afirma.

“Fica claro que falta campanha (de educação). Ainda não temos um ensino de como é o trânsito nas escolas. Precisamos criar consciências críticas nos futuros motoristas. Se não tivermos consciência de que a Prefeitura faz a sua parte e o motorista deve fazer a parte dele cumprindo as leis de trânsito fica impossível”, pondera Benjamim Kenedy.

O secretário executivo da SMM diz que a pasta está atenta para os problemas da cidade. “A engenharia de trânsito funciona com análise contínua até sanar as questões. Entendemos que a maioria dos problemas se dá em função de imprudência, mas cabe a nós darmos respostas para a população”, aponta.

Infrações

No fim do primeiro semestre deste ano, a SMM divulgou um balanço mostrando que mais de 60% das infrações registradas na capital são de motoristas que dirigiam acima da velocidade permitida. Em segundo lugar está o desrespeito às faixas/pistas destinadas aos veículos do transporte público. Na terceira posição das infrações mais recorrentes está o avanço no sinal vermelho.

O levantamento mostra que na sequência estão justamente as multas aplicadas para motoristas que estacionam em local proibido. Completam a lista as paradas sobre faixa de pedestres na mudança de sinal, os veículos que estacionam na calçada/canteiro central, direção enquanto mexe no celular e irregularidades em estacionamentos rotativos.

Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI