Sabe aquela história dos filmes norte-americanos em que os adolescentes precisam se desdobrar para conseguir uma vaga na universidade? Pois é. Um goiano de 18 anos acabou de conseguir a oportunidade de estudar em uma das mais tradicionais universidades dos Estados Unidos e precisou passar por todo aquele processo, mas à distância. João Victor Ataides Marques foi aceito com uma bolsa no valor aproximado de R$ 1 milhão na New York University (NYU) e no currículo, além de muito estudo, ele contou com cursos de dança, música, projetos sociais, trabalhos voluntários, entre outros.
O próprio João Victor admite que já assistiu a diversos filmes com este enredo e que sempre sonhou com esse momento. Ele não apenas sonhou, mas se esforçou para que o sim da NYU chegasse. Nascido em Goiânia, foi morar ainda criança com os pais em Matrinchã e voltou para a capital no final do ensino fundamental. Por ter interesse em estudar inglês, ele passou a se dedicar a ler e ouvir e aprendeu o idioma praticamente sozinho. Depois ele fez um curso rápido de um ano para aperfeiçoamento e hoje em dia ele até compõe músicas em inglês.
Ele estudou em escolas públicas no interior e quando voltou para a capital, fez do sétimo ano até o primeiro ano do ensino médio no Colégio da Polícia Militar Polivalente Vasco dos Reis. Depois ele conseguiu uma bolsa parcial no Colégio Cope, mas mesmo com o benefício, o custo ficava alto para seus pais. Ele então foi convidado para estudar no Colégio Expressão, em Aparecida, também com bolsa parcial. “Em cada um desses lugares eu tive ótimos professores e incentivadores, que me ajudaram muito até chegar aqui (na aprovação da NYU).”
Processo
Em 2019, aos 15 anos, participou de uma feira em Brasília onde conheceu mais de perto a realidade de quem estuda fora do país. “Eu fiquei animado e me dediquei. Achei que passaria de primeira. Mas não foi bem assim.” Durante o curso de inglês, ele conta que conheceu Lucas De Nillo, que é um consultor e orientador de estudantes que buscam vagas fora do Brasil. “Foi importante para colocar os pés no chão e entender como chegar ao que é um sonho no início, mas que pode virar realidade.” João Victor já havia tentado a vaga em 2020 e tinha recebido resposta negativa.
Ele conta que sempre quis estudar na NYU, mas quando fez a primeira tentativa este universidade não disponibilizava bolsas para alunos estrangeiros. “As vagas foram abertas em dezembro do ano passado para estudantes que demonstrassem necessidade.” Ele detalha que apresentou sua aplicação sem um foco específico em esporte, cultura, artes, por exemplo. No currículo, ele colocou os cursos de dança, música, inglês, projetos sociais que participou, assim como um projeto chamado CRC Project, que criou com nove amigos, que tem como objetivo divulgar cultura, folclore e educação.
Nos Estados Unidos, o estudante não precisa escolher o curso ao entrar na universidade. João Victor vai iniciar com estudos diversos, mas quer focar em estudos para discutir como o ser humano atua e transforma seu ambiente. No futuro, ele não descarta estudar psicologia, inspirado pela mãe, Thaís Susana, que é psicóloga. “Somos muito próximos e não nego que penso em fazer psicologia. Mas o leque de opções é muito grande, pode ser que mude no processo. Mas quero me dedicar a essa área, de entender e discutir o ser humano e a educação.”
Boas notícias
O estudante, que terminou o ensino médio aos 16 anos, não havia feito o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) porque acreditava que seria aprovado na seleção norte-americana na primeira tentativa. “Eu só fiz o Enem no ano seguinte e consegui uma vaga para Serviço Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro.” Ele ficou feliz e a família começou a acostumar com a ideia da mudança. Ele se organizou e chegou ao Rio de Janeiro no dia 26 de março deste ano. “Como as aulas começavam no dia 11 de abril, fui antes para me organizar e adaptar à nova cidade.”
Mas quatro dias depois de chegar ao Rio como morador, ele recebeu um e-mail da NYU. A emoção e a ansiedade foram tão grandes que ele não teve coragem de abrir o documento naquele momento. “Da primeira vez, eu abri logo, junto com a família e tive a resposta negativa. Fiquei na lista de espera das universidades de Colúmbia e de Chicago. Dessa vez eu decidi esperar e ler quando estivesse tranquilo.” E quando abriu, quatro horas depois, ele mal podia acreditar. “Estava sozinho, sorri, gritei, liguei para meus pais. Foi uma alegria sem fim.” Mas ele conta que, antes, verificou cada detalhe do e-mail para confirmar que ele mesmo era o selecionado. “Foi difícil acreditar!”
A viagem para o Rio só serviu para amenizar o coração dos pais com a separação. Ele decidiu que iria para os EUA, voltou para Goiás e só divulgou a informação depois de confirmar a bolsa. Os pais do estudante precisaram fazer um depósito de matrícula. Com a confirmação do processo, ele contou para os amigos e toda a família. Não demorou para que o caso viralizasse e fosse divulgado em jornais e na internet. Ele diz saber que a “fama” é momentânea, mas sua intenção em contar sua história é incentivar outros estudantes a buscarem oportunidades como esta. “Existe muita informação errada, as pessoas pensam que é um sonho inatingível, mas eu estou aqui para mostrar que é possível.”
Viagem
João Victor nunca esteve nos Estados Unidos. “Eu já vou para morar. É até engraçado porque eu nunca viajei para fora do Brasil. Tinha ido para o Rio de Janeiro recentemente e minha família ficou daquele jeito. Meus pais e a minha avó, que é meu xodó, estavam se acostumando com a ideia quando veio a aceitação da NYU. Mas estão todos felizes e me dando muito apoio.” Além da mãe, ele diz que o apoio do pai, Gidean Marques e do irmão de 15 anos, Gidean Lucas, tem sido fundamental para afastar a ansiedade e aquela “pontinha de medo” que ele considera inevitável.
O estudante vai para Nova York em agosto e as aulas começam em setembro. A bolsa que ele conseguiu custeia moradia, alimentação, os cursos e materiais que forem necessários para o estudo. A bolsa não cobre seguro saúde, que é obrigatório, visto e passagens. Outro custo que ele também terá com a universidade gira em torno de U$ 5 mil. “Quero buscar alternativas de trabalho no campus, abrir consultorias e buscar todo apoio possível para conseguir me manter nos EUA pelo tempo que for necessário para conseguir me manter e concluir o curso.
Ao final do curso, João Victor planeja voltar para o Brasil. Mas antes, quer conhecer alguns lugares do mundo. “Eu não vejo limite. Eu quero conhecer lugares e culturas. Quero estudar muito e voltar para o Brasil com um projeto educacional interessante, que ajude as pessoas a se desenvolverem. Quero inspirar pessoas a discutir educação e a importância das ciências humanas para o desenvolvimento.” No caminho até lá, ele espera contar com a ajuda da comunidade brasileira que está em Nova York. “Já tenho contatos de colegas que estão lá e tenho certeza que será uma experiência incrível.”