Uma professora da rede estadual de Inhumas foi morta por um ex-aluno que alega vingança contra a educadora. Henrique Marcos Rodrigues de Oliveira, de 24 anos, invadiu a casa de Cleide Aparecida dos Santos, de 60 anos, durante a madrugada desta quarta-feira (24), quando assassinou a vítima com golpes de faca. Preso horas após o crime, o suspeito disse à polícia que a mulher tentava impedir que ele vendesse drogas nas proximidades da unidade de educação gerida por ela.
As desavenças teriam sido iniciadas anos após Henrique Marcos deixar o Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, unidade de ensino fundamental gerida por Cleide. A reportagem apurou que o homem foi aluno do local em 2014, quando conviveu com a educadora. Mesmo após a saída, no entanto, a convivência indireta foi mantida, já que a casa de Henrique fica a duas quadras do colégio. Uma familiar de Cleide diz que ela buscava aconselhar o jovem para que ele não seguisse traficando.
Os registros da ocorrência atendida pela Polícia Militar (PM) indicam que a invasão teria se dado por volta da 1h. Henrique teria invadido a casa encapuzado pulando uma janela. Além da educadora, um filho, de 20 anos, estava no local. No momento em que percebeu a invasão, Cleide pediu socorro. O filho, que tentou socorrer, também foi atingido por um golpe de faca no braço.
Após o ataque, Cleide chegou a ser socorrida. O Corpo de Bombeiros foi acionado e encaminhou a professora para uma unidade de saúde, mas ela não resistiu. O filho, que teve o braço cortado, foi encaminhado para um hospital da capital, mas após ter o ferimento suturado ganhou alta e retornou para Inhumas.
O jovem tem uma passagem por tráfico de drogas no início deste ano. Em fevereiro, a Polícia Civil cumpriu um mandado de buscas após uma denúncia que dizia que a casa dele funcionava como uma boca de fumo. No local foram apreendidos 200 gramas de maconha, balança de precisão, anotações sobre vendas de drogas, 837 reais em espécie e uma faca. Como réu primário, Henrique conseguiu direito a habeas corpus e saiu da cadeia após duas semanas.
Muito antes da prisão, ainda em meados do primeiro semestre do ano passado, a professora já não estava trabalhando na unidade próxima da casa de Henrique. Conforme o registro da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), Cleide estava atuando como professora assistente no Centro de Ensino em Período Integral Horácio Antônio de Paula, unidade que fica a mais de três quilômetros da casa do suspeito pelo assassinato e da escola em que o desafeto teria surgido.
Venda de drogas
Um morador da mesma rua de Henrique que falou à reportagem em condição de anonimato afirma que o vizinho já era conhecido do bairro pelo envolvimento com a venda de pequenas porções de drogas. “Foi preso pela primeira vez no início do ano, mas há anos já estava no crime”, acusa o vizinho, que diz não entender porque Henrique transformaria a professora em alvo. “Uma mulher da educação que todos conheciam”, diz.
Em uma rede social, Henrique fazia publicações sobre o gosto por corrida de bicicletas, já tendo sido campeão em um campeonato regional da cidade. Em um vídeo de um minuto e meio divulgado no ano passado, o homem falou sobre a importância de cuidar da saúde mental e manter uma vida tranquila. “Hoje em dia as coisas andam difíceis, mas devagar a gente chega lá”, disse.
Tristeza
Colegas de trabalho da educadora se dizem atônitos com o caso. A professora Livia Seabra, que trabalhou com Cleide no Colégio Presidente Castelo Branco, diz que a amiga era uma profissional apaixonada pela educação. Os registros mostram que a educadora dava aula pelo Estado havia mais de três décadas. “Ela sonhava em se aposentar, mas agora este momento não vai chegar”, lamenta Livia.
Para a professora Livia, Cleide pode ter pagado com a vida a busca incessante de mudar o outro. “Buscava mudar, colocar sonhos nos outros. Era uma paixão por um dos pilares da educação: a transformação”, diz.
“Cleide, a mãe fantástica, tinha uma relação maravilhosa com o filho, cuidava dos pais que hoje se encontram enfermos, conseguia se desdobrar. Agradeço porque ela deixou em mim a vontade de que a educação pública e de qualidade um dia deixe de ser utopia e passe a ser realidade”, complementa Livia.
Em nota, a Seduc expressou condolências à família da professora Cleide Aparecida dos Santos e classificou a morte como brutal. “Manifestamos nossos sentimentos aos filhos, parentes e amigos de Cleide Aparecida e rogamos para que Deus ampare a todos neste momento de dor e tristeza!”.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) também lamentou a morte. A ex-presidente da entidade, Bia de Lima, destacou em publicação que Cleide participou ativamente da busca por direitos da categoria.