Ex-funcionários da drogaria Santa Marta fizeram um protesto em frente à filial da empresa, na Avenida Assis Chateaubriand, no Setor Oeste, em Goiânia, nesta sexta-feira (16). Os trabalhadores foram demitidos no início de março e, desde então, esperam o pagamento dos direitos trabalhistas. Eles alegam que ainda não receberam o acerto das verbas rescisórias e até mesmo o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) não foi pago em alguns meses de 2021, 2022 e 2023. A empresa pediu recuperação judicial.
Edeberger Cavalcanti, farmacêutico na drogaria desde 2016, conversou com a reportagem e diz que a empresa agiu “com má fé”.
No ato da demissão, ninguém nos disse que a empresa entraria com um pedido de recuperação judicial. Fomos pegos desprevenidos, contou.
O trabalhador foi demitido no dia 1º de março. O documento de aviso prévio assinado informa que, após realização do exame médico demissional, o ex-funcionário receberia os valores previstos por lei.
Segundo ele, foi informado que tudo seria pago dentro de 10 dias úteis. A reportagem teve acesso aos prints de conversas entre o funcionário e o departamento financeiro da empresa do dia 13 de março. Na ocasião, a Santa Marta afirma que os salários dos últimos três meses foram pagos com atraso e que o Carnaval causou um “desastre nas vendas”. Sobre o acerto, foi informado que no dia seguinte teriam uma reunião com o Sindicato dos Farmacêuticos de Goiás e Sindicato dos Empregados no Comércio Varejista e Atacadista de Produtos Farmacêuticos de Goiás para busca de soluções.
O farmacêutico diz que a empresa não conseguiu fechar nenhum acordo com os sindicatos. “A única coisa que disseram é que eles dariam baixa na nossa carteira de trabalho para que pudéssemos solicitar o seguro-desemprego e sacar o FGTS. O meu tem 11 meses de atraso”. Edeberger diz que a empresa não pagou o FGTS dos meses de dezembro/2021, janeiro, fevereiro, março, abril, setembro, outubro, novembro e dezembro de 2022; e janeiro e fevereiro de 2023.
O trabalhador diz que foi após essa reunião que os ex-funcionários ficaram sabendo que a empresa entraria com o pedido de recuperação judicial. Esse é o segundo pedido da empresa. Entre os anos de 2010 e 2014 ela havia passado por um processo semelhante. A empresa alega ter um passivo atual de R$ 93,1 milhões, resultante de prejuízos acumulados desde o início da pandemia. As dificuldades da empresa já levaram ao desligamento de 350 funcionários e ao fechamento de 23 lojas em Goiás e no Distrito Federal.
A reportagem mostrou que especialistas afirmam não ser comum pedidos de recuperação judicial tão próximos. Para o advogado especialista em Recuperação Judicial, Victor Rodrigo de Elias, esse segundo pedido pode desagradar eventuais credores que estavam incluídos no primeiro plano de recuperação e que também estão neste novo plano, dificultando sua aceitação. Já os trabalhadores demitidos terão de ingressar com ações na Justiça do Trabalho para terem seus créditos habilitados no plano de recuperação judicial.
Edeberger diz que a diretoria da empresa chegou a perguntar aos funcionários sobre quem teria interesse em ser desligado da empresa de forma voluntária. “Os funcionários perguntaram: ‘se eu der meu nome, receberei todos os meus direitos? E os gerentes disseram que sim. Agora, funcionários com mais de 15 anos de empresa estão na rua, com uma mão na frente e outra atrás”, diz.
A reportagem pediu um posicionamento para a drogaria Santa Marta sobre as reivindicações dos trabalhadores. Confira a íntegra:
Prioridade da Santa Marta são as pessoas
Santa Marta respeita o direito de manifestação dos ex-colaboradores e compreende o momento difícil por que estão passando. A empresa lembra a todos que o cuidado com as pessoas é um forte valor ao longo de seus 50 anos de história, e que isso inclui todos os seus colaboradores e ex-colaboradores.
Todos os colaboradores desligados da empresa estão com os salários pagos em dia e eles já podem dar entrada no saque do FGTS e ao seguro desemprego. As verbas rescisórias estão inseridas no processo de recuperação judicial. Isto representa segurança para eles, pois o pagamento aos trabalhadores é uma prioridade dentro do processo.
Acreditamos que levar informação com transparência é uma medida imprescindível para que todos se tranquilizem. Por isso, antes mesmo do processo de recuperação judicial ser homologado, a Santa Marta buscou o sindicato antecipadamente para prestar todos os esclarecimentos acerca da recuperação judicial que seria protocolada com objetivo de que eles pudessem informar os trabalhadores e evitar ruídos de comunicação.
Um Serviço de Atendimento ao Colaborador está sendo ativado para atender as dúvidas dos colaboradores desligados, que pode ser acessado pelos telefones (62) 3239 4137 ou 3239 4269.
A Santa Marta comunica também que não é necessário ingressar com reclamatória trabalhista para receber os créditos (rescisão trabalhista), os quais já estão devidamente reconhecidos na lista de credores da recuperação judicial. Recomenda, ainda, que os trabalhadores demitidos busquem maiores informações junto ao departamento jurídico de seu respectivo sindicato.
Apesar dessa situação adversa, 45 lojas continuarão abertas em Goiás e no Distrito Federal, atendendo ao público. A maioria dos postos de trabalho será mantida, um total de 540 trabalhadores que seguirão conosco.
A empresa espera retomar o crescimento em breve: já elaborou todo o plano de operação com o tamanho e formato que deverá passar a operar, e nos próximos 90 dias, concluirá toda a reestruturação.