O médico Leonardo Pereira Alves Filho, ex-namorado da advogada Amanda Partata, se pronunciou pela primeira vez após prestar depoimento na delegacia na tarde desta terça-feira (26). Ele disse nunca ter imaginado tamanha brutalidade por parte da ex-namorada, suspeita de envenenar o pai e a avó dele durante um café da manhã, em Goiânia.
"Tem sido tudo muito rápido, muita surpresa negativa pra gente. A gente nunca imaginava qualquer coisa justificasse tamanha brutalidade. E a gente tá vivendo nosso luto. Tem sido muito difícil", disse o médico.
Além de Leonardo Filho, a irmã dele Maria Paula e a mãe Elaine também prestaram depoimento. Eles entraram na delegacia por volta das 10h e saíram às 13h50. A ex-namorada do médico foi presa temporariamente na noite de quarta (20) e passou pela audiência na quinta (21). À polícia, Amanda negou que tenha cometido o crime.
Em nota, os advogados de Amanda Partata disseram que aguardam o desenrolar das investigações antes de comentarem sobre as acusações. Eles contestam a legalidade da prisão e destacam que a advogada se apresentou voluntariamente à delegacia, entregou documentos e informou à polícia sobre sua localização e estado de saúde.
Envenenamento
A Polícia Científica descartou na manhã desta terça-feira (26) que a advogada Amanda Partata Mortoza, de 31 anos, tenha usado pesticida para envenenar o ex-sogro e a mãe dele envenenados durante um café da manhã. Porém, outras substâncias estão sendo testadas, já que a tese de envenenamento foi mantida pela característica do crime.
"Já foi feita essa pesquisa pelos 300 pesticidas e já foi descartada essa hipótese. Até o carbamato, né, que é o chumbinho, que era uma das vias, ele já foi descartado. Continua a nossa investigação pericial em busca de outras substâncias que possam ter causado essa morte dessas duas pessoas. Continua nessa tese [ do envenenamento]", explicou o chefe da Divisão de Comunicação da Polícia Científica, Olegário Augusto.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Carlos Alfama, ainda que a perícia não encontre veneno, a certeza que a morte foi envenenamento se mantém.
"Ela pode ter envenenado dentro do copo. Foram 3h na casa. Pode ter lavado o copo ou ter levado pra casa. O que leva a crer que foi envenenamento é que descartou as infecções e intoxicação", ressaltou o delegado.
A família de Leonardo Pereira Alves, de 58, e Luzia Tereza Alves, de 86, mãe dele, que morreram envenenados, presta depoimento nesta terça-feira (26), na Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), em Goiânia.
Crime
A advogada Amanda Partata, presa na quarta-feira (20) suspeita de envenenar o pai e a avó do ex-namorado, teria matado a família por se sentir rejeitada e não aceitar o fim da relação. As informações sobre o caso foram divulgadas pelo delegado da Polícia Civil (PC), Carlos Alfama.
"Na minha percepção, a motivação do crime é o sentimento de rejeição que ela teve no término do relacionamento. Porque as ameaças começaram no momento em que a relação estava indo por água abaixo”, disse o delegado.
O caso aconteceu no dia 17 de dezembro. Imagens de câmeras de segurança mostram que a advogada comprou a comida e as bebidas que levaria para a casa das vítimas, mas antes passou no hotel em que estava hospedada, em Goiânia. Ela chegou a tirar uma foto no dia do crime, enquanto estava sentada ao lado da mesa de café da manhã da família (veja acima).
No sábado (24), a Justiça negou o pedido de liberdade feito pela defesa da advogada. O desembargador Silvânio Divino de Alvarenga, no plantão da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) não concordou com o argumento de que a decisão que levou a suspeita a prisão no dia 20 não estaria bem fundamentada. No documento, o desembargador diz que Amanda “possui um total desprezo para com a vida humana”.
Em nota, a defesa de Amanda Partata informou que aguarda os desdobramentos das investigações para se manifestar quanto ao teor das acusações, que o trâmite é sigiloso e que considera a prisão ilegal (veja a nota na íntegra ao fim do texto).
Investigação
A princípio, surgiram rumores de que as vítimas teriam passado mal após comerem uma sobremesa de uma doceria bastante conhecida na capital. A possibilidade, no entanto, foi descartada pela polícia. Em coletiva de imprensa realizada na quinta-feira (21), o delegado Carlos Alfama confirmou o envenenamento e a autoria do crime.
A investigação também apontou que Amanda se apresentava como psicóloga nas redes sociais. Em sua biografia no Instagram, a investigada diz ser “psicóloga, terapeuta cognitivo comportamental, advogada aposentada, leitora, viajante e mãe”.
De fato, Amanda cursou Direito na Universidade Luterana do Brasil e tem registro junto à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). No entanto, quanto a informação sobre ser psicóloga e terapeuta, o Conselho Regional de Psicologia de Goiás informou, em nota, que a investigada não tem registro profissional ativo como psicóloga cadastrado no banco de dados do Conselho, e reiterou que “para o exercício legal da profissão de Psicóloga, todos os profissionais são obrigados a manter o registro junto ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) e ao Conselho Regional da região onde realiza o exercício profissional”.
Nota da defesa de Amanda Partata
“Os advogados que representam a Senhora Amanda Partata informam que aguardam os desdobramentos das investigações, cujo trâmite é sigiloso, para se manifestar quanto ao teor das imputações declinadas pela Autoridade Policial.
Quanto à prisão da Senhora Amanda Partata consideramos que se efetivou de forma ilegal na medida em que realizada no período noturno em hospital onde se encontrava internada sob cuidados médicos.
Destaque-se, ainda, que a Senhora Amanda Partata compareceu voluntariamente à Delegacia de Investigação de Homicídios, entregou objetos e documentos e, por intermédio de seus advogados, deu plena ciência à Autoridade Policial da sua localização e estado de saúde.
As medidas judiciais para preservação e restabelecimento da legalidade serão adotadas oportunamente.”