Geral

Férias acendem alerta para golpe do aluguel de temporada

Wesley Costa
Fernanda Fernandes Silva iniciou negociação em rede social e finalizou contratação via WhatsApp, mas era golpe

Junto com o crescimento da procura por casas de temporada, hotéis e pousadas em cidades turísticas de Goiás, no período de férias, aumenta também o risco dos golpes do aluguel de temporada, alertam autoridades. Delegados de polícia detalharam ao Daqui como funciona a fraude.

Proprietária de um restaurante e ao mesmo tempo atuando como enfermeira, Fernanda Fernandes Silva, de 43 anos, estava ansiosa para passar o Natal e o ano-novo descansando em Pirenópolis. Entretanto, a moradora de Aparecida de Goiânia teve uma surpresa amarga na noite do dia 23 de dezembro, quando chegou à cidade turística. “Fui até o endereço informado e a casa realmente existia. Perguntei para um vizinho sobre a dona, que tinha conversado comigo, e ele disse: sinto muito te informar, mas você caiu em um golpe”, lembra.

Fernanda encontrou o imóvel pelo market place de uma rede social. Ao todo, ela pagou R$ 3 mil para ficar hospedada no lugar entre 23 e 25 de dezembro e entre 29 de dezembro e 1º de janeiro. “Pesquisei por várias casas e falei com várias pessoas. Eliminei as que me ofereceram pagamento via PIX justamente porque queria algo mais seguro. O que me motivou a alugar essa casa foram as fotos muito reais e o pagamento via boleto bancário”, pontua a empresária.

Em novembro, depois de conversar por WhatsApp com a mulher que publicou o anúncio, Fernanda pagou o primeiro boleto do aluguel, um sinal de 300 reais. Depois, pagou mais três boletos. O primeiro foi de R$ 1,2 mil, o segundo de 800 reais e o terceiro de 600 reais. Na última sexta-feira (23), estava tudo pronto para ela, o marido, os dois filhos e os pais dela irem passar o Natal em Pirenópolis.

“Enchi meu carro com comida, além de produtos de higiene e limpeza. Sai daqui (Aparecida de Goiânia) por volta de 20 horas. Cheguei lá, com meus pais idosos no carro, às 22 horas. Quando soube do golpe, fiquei sem chão”, conta Fernanda. A casa que ela achava que tinha alugado realmente existe. Entretanto, o proprietário não é a mulher que conversava com Fernanda. A golpista utiliza as fotos do imóvel verdadeiro para poder aplicar golpes em turistas. “O vizinho da casa disse que mais ou menos umas dez pessoas já foram até lá na mesma situação que eu”, relata a empresária.

No dia 23, Fernanda foi até a delegacia da cidade e registrou o caso. Para não deixar de comemorar o Natal, partiu com os pais rumo a Brasília, onde familiares moram. “Não é pelo dinheiro, porque Deus me dá ele de volta. É pelo desconforto de estragar o Natal e o ano-novo. Meus filhos, dois adolescentes, choraram. Não temos para onde ir no Réveillon. Fora a vergonha que a gente fica de cair em um golpe desse”, desabafa.

Estratégia

O delegado titular de Pirenópolis, Tibério Martins Cardoso, esclarece que esse tipo de golpe é frequente no município e que a incidência aumenta durante a alta temporada. Entretanto, os registros nas cidades turísticas não são volumosos, já que, pela lei, esse tipo de crime deve ser investigado e julgado nas cidades onde as vítimas residem. “Nós ficamos sabendo que os crimes estão sempre acontecendo porque sempre estamos conversando com os donos de pousadas”, diz.

Pela experiência de Cardoso, os golpistas costumam criar perfis e páginas falsas para anunciar vagas em pousadas e deixam à disposição links que direcionam os turistas para uma conversa por WhatsApp. “Usam uma engenharia social muito sofisticada. Conseguem convencer essas pessoas a fazerem o adiantamento das reservas. Quando chegam na cidade e procuram a pousada verdadeira, ficam sabendo que não há nenhuma reserva”, aponta. A mesma lógica se aplica às casas de veraneio. “Os golpistas estão copiando fotos dessas casas e agindo da mesma forma que fazem com os hotéis”, acrescenta.

O delegado titular do Grupo Especial de Investigações Criminais (Geic) de Caldas Novas, Tiago Ferrão, relata que na cidade o golpe costuma ocorrer por meio da venda de pacotes de viagem falsos. Segundo ele, muitas das vítimas são de Belo Horizonte e da região metropolitana da capital mineira. “Em algumas situações, até o motorista do ônibus é vítima. Já houve casos em que chegaram dois ou três ônibus lotados no hotel e (os turistas) viram que não tinham reserva, ou seja, que era um golpe, e até o motorista falou que não recebeu.”

Punição

O delegado titular de Pirenópolis explica que esses golpistas costumam integrar organizações criminosas que alugam contas de pessoas vulneráveis e que não possuem nenhuma restrição no nome. Eles pagam entre R$ 500 e R$ 1 mil pelo aluguel. “Os depósitos são todos enviados para essas contas de laranjas”, detalha Cardoso. Assim que os golpistas têm acesso ao dinheiro, eles começam a fazer depósitos sucessivos em outras contas. O intuito é dificultar a rastreabilidade do montante até que ele possa ser sacado.

Por meio de interceptações, as forças policiais conseguem localizar os criminosos. “Temos condições de rastrear, descobrir quem fez o saque e chegar nas pessoas que integram a organização criminosa, além dos laranjas”, afirma Cardoso. Os criminosos podem responder por estelionato digital, que prevê pena de reclusão de quatro a oito anos, e, dependendo do caso, até por organização criminosa.

Cuidado redobrado previne golpe

A atenção aos pequenos detalhes no momento de reservar casas de temporada, hotéis e pousadas é essencial para os turistas que querem evitar golpes financeiros. O delegado titular de Pirenópolis, Tibério Martins Cardoso, assinala que o primeiro ponto de desconfiança deve ser as negociações via WhatsApp. “As pousadas verdadeiras fazem todo o sistema de reserva via site. Tudo é gerenciado por um sistema”, aponta. 

O delegado pontua que Pirenópolis conta com uma Central de Atendimento ao Turista (CAT). “Todas as grandes pousadas de Pirenópolis estão cadastradas lá. Os visitantes podem pegar o telefone e endereço para entrar em contato (com as pousadas) e verificar se aquela oferta realmente está disponível”, diz. O mesmo vale para as casas de veraneio. É possível entrar em contato com o CAT pelo telefone (62) 3331-2633 e pelo site www.cat-pirenopolis.negocio.site. 

Em Caldas Novas, é possível obter informações com a Secretaria Municipal de Turismo e Eventos pelo telefone (64) 3454 3524. O delegado titular do Grupo Especial de Investigações Criminais (Geic) da cidade, Tiago Ferrão, destaca que é importante desconfiar de preços muito inferiores aos praticados pelo mercado. “Um valor muito abaixo já é um indício de um possível golpe”, enfatiza. 

Ferrão salienta que é fundamental ligar no hotel de interesse para verificar se a empresa que está oferecendo o pacote de viagem realmente presta aquele tipo de mediação e conferir valores. Também é oportuno se atentar aos sites falsos, que podem conter desde erros gramaticais até pequenas diferenças na grafia do nome da empresa.

O delegado ressalta a necessidade de prestar atenção ao beneficiário do pagamento. Se a empresa tem um CNPJ, é recomendável que o pagamento seja feito diretamente para o CNPJ ou então para o CPF do administrador legal ou sócio da empresa. Além disso, é importante consultar no site da Receita Federal se o CNPJ em questão está ativo e procurar referências em sites como Reclame Aqui.

Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI