A Polícia Civil de Goiás investiga se a morte de um funcionário público que poderia estar relacionada ao implante de facetas dentárias. O caso aconteceu em Goiânia e a morte foi registrada no último dia 18 de agosto. Ainda que não seja possível afirmar se há relação de causa, a situação alerta para os cuidados necessários relacionados às facetas dentárias. Quais são os riscos e o que deve ser levado em consideração na hora de optar pelo procedimento?
Para responder às principais dúvidas, a reportagem falou com Rafael Decurcio, presidente da Associação Brasileira de Odontologia – Seção Goiás (ABO Goiás). Rafael é autor do livro "Facetas: Lentes de Contato e Fragmentos Cerâmicos", da Editora Ponto. Ele diz que a expectativa é de que em aproximadamente oito anos, uma nova geração de pacientes encha os consultórios devido a procedimentos restauradores estéticos realizados sem indicação ou sem a devida orientação técnica.
Desgaste dos dentes
A ABO explica que os casos de execução e instalação de facetas cerâmicas ou lentes de contato sem desgaste são exceção técnica e devem cumprir uma série de requisitos biológicos e analíticos para a correta indicação. “Portanto, invariavelmente a instalação de lentes de contato ou facetas cerâmicas envolve o desgaste de estrutura dental com aspectos irreparáveis do ponto de vista histológico”, acrescenta.
Substituição deverá ser feita
O dentista pontua que não existem procedimentos restauradores que não precisarão de substituição futura. “De infiltração marginal pela falha dos procedimentos adesivos ao longo dos anos à adaptação funcional do sistema fisiológico (estruturas dentais e funcionamento) ao envelhecimento, as facetas cerâmicas falharão impondo sempre a remoção de mais estrutura dental para substituição das peças falhas.”
Perda óssea não é impeditiva
O dentista explica que a perda óssea, apenas, não é um impeditivo à execução de nenhum procedimento restaurador, incluindo as facetas, mas diz que é necessária a indicação. “Esse é um dos riscos à execução pela ausência de diagnóstico de Doenças Periodontais em atividade. Se houve controle a doença periodontal, de caráter crônico, com monitoramento das perdas ósseas, não haverá problemas na instalação da facetas cerâmicas (quando bem executadas)”, esclarece.
Quem não pode fazer?
Há duas situações claramente estabelecidas em que os pacientes não devem passar pelo procedimento:
- Pacientes com alto risco de infecção de tecidos duros (cárie e doença periodontal ativa)
- Pacientes com parafunção, comumente conhecida como Bruxismo
Idosos podem colocar facetas?
"O importante, para as fases adulta idosa e idosa (acima de 60 anos), é controlar o aumento deliberado do tamanho dos dentes tendo em vista uma mudança fisiológica inerente ao processo de envelhecimento podendo causar sintomatologia dolorosa muscular ou articular quando aumenta-se o comprimento dos dentes com facetas cerâmicas, sem o devido cuidado analítico", afirma.
Orientação individualizada
A ABO defende a necessidade dos pacientes receberam orientação individualizada a respeito das técnicas de higiene oral para controle de placa bacteriana. Além disso, pede que profissionais conscientizem pacientes sobre a necessidade de retornos periódicos para avaliação do quadro de saúde periodontal e controle de margens adesivas, evitando o agravamento de condições inflamatórias e infecciosas que, por ventura, surjam entre as consultas de manutenção. "Instalar 'lentes de contato' não significa o fim do processo. Aliás, é o começo devendo serem mantidas por profissional competente", diz Decurio.
Cuidado com número de seguidores
“A odontologia viveu, nessa última década, uma influência impactante do marketing virtual focado em captação de clientes. E um dos pontos mais nefastos deveu-se à ‘compra’ de seguidores no Instagram por vários profissionais com mudanças de posicionamento e postura, apresentando-se como um exemplo de sucesso profissional com imagens e vídeos bem roteirizados, incluindo estratégica e subliminarmente símbolos de riqueza ou algo do gênero. E eis aqui a receita do equívoco! Infelizmente, a população leiga faz uma conclusão equivocada de uma relação entre sucesso (aparente) e competência”, finaliza o presidente da ABO Goiás.