Geral

Faixas de ônibus em Goiânia têm 189 multas por dia

Fábio Lima
Ônibus disputa espaço com carros na Avenida T-63: invasão do espaço exclusivo prejudica a velocidade do transporte coletivo

A cada dia deste ano, por pelo menos 189 vezes, motoristas em Goiânia ocuparam indevidamente a faixa preferencial para o transporte coletivo nos corredores Universitário, 85 ou T-63. Mesmo que se trate de uma multa considerada gravíssima, com valor de R$ 293,46, os condutores na capital insistem em desrespeitar as regras que priorizam os ônibus no tráfego da capital, o que redunda em maior dificuldade para exercer o trajeto coletivo em maior velocidade. É válido lembrar que esse número se dá mesmo diante de um menor volume de veículos nas ruas em decorrência dos decretos municipais que restringiram a movimentação para conter a pandemia de Covid-19.

A pior situação é no Corredor Universitário, trecho de apenas 2,5 quilômetros entre a Praça Cívica e a Praça da Bíblia, que neste ano registrou uma média de 107 multas por dia, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM) até o último 25 de abril. Ao todo, foram 12.249 infrações nas 95 faixas monitoradas por 35 radares. É o corredor com maior fiscalização eletrônica na capital, mas também o mais antigo, feito em 2012, o que deveria fazer com que fosse comum e natural a movimentação dos condutores na capital para evitar a ocupação indevida da faixa da direita.

Na capital, o número de radares nos corredores é equivalente às multas recebidas pelos condutores, o que demonstra a falta de educação no trânsito quanto ao respeito ao espaço dos ônibus. Enquanto o Corredor Universitário, com 35 radares, lidera no número de infrações, no Corredor 85, com 19 equipamentos, houve neste ano 6.205 multas flagradas, uma média de 54 por dia. Este é o corredor de maior extensão na capital, com 7,2 quilômetros projetados. Já na Avenida T-63, com 6,2 quilômetros e mesmo com um radar a mais em relação à Avenida 85, houve uma média neste ano e até o dia 25 de abril de 27 infrações flagradas e emitidas aos condutores a cada dia.

Para se ter uma ideia, em 2019, antes da pandemia de Covid-19, o volume de multas registradas nos corredores da capital foi de 263 em média por dia. Para o professor do Instituto Federal de Goiás (IFG) e engenheiro de trânsito Marcos Rothen, os números causam surpresa, “pois já passou um tempo significativo para que os motoristas se acostumarem com a sinalização, o que aparentemente não ocorreu”.

Para Rothen, uma causa possível é o descrédito que os motoristas de Goiânia têm com a fiscalização. “Para analisarmos os efeitos das multas é necessário um estudo que verifique se as pessoas estão pagando as multas e se ocorre a reincidência.” O professor cita estudo de alunos do IFG quanto ao comportamento dos motoristas nos semáforos com a fiscalização eletrônica, em que foi verificado respeito às regras.

Entendimento

“Assim também é possível concluir que parte dos motoristas ainda não entende a sinalização dos corredores. E como o objetivo da fiscalização é evitar as infrações e não a aplicação de multas, seria importante que os equipamentos de fiscalização fossem mais visíveis”, avalia o professor. Por outro lado, ele lembra que é importante verificar se os motoristas infratores estão sendo efetivamente punidos. “Em Goiânia é comum vermos motoristas e motociclistas infringindo deliberadamente as normas de trânsito. Passa-se a impressão que motoristas e motociclistas contam com a ineficiência da fiscalização e não têm o senso de cidadania.”

Para o presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), Domingos Sávio Afonso, no entanto, o entendimento é que a cidade já absorveu positivamente a questão dos corredores. “Eu diariamente ando pelo anel externo da Praça Cívica e é visível que o volume de veículos nas faixas da esquerda e do meio é muito maior, percebe-se claramente que a faixa da direita é menos usada. Isso ocorre na Avenida T-9 também, que é um corredor mas não tem fiscalização”, diz. Ele completa que a faixa da direita, preferencialmente dos ônibus, é utilizada sim, mas com menor frequência.


CMTC entende que sinalização é clara

Presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), Domingos Sávio Afonso discorda do professor do Instituto Federal de Goiás (IFG), Marcos Rothen, sobre a questão da sinalização dos corredores. Para Rothen, o alto quantitativo de multas por ocupação indevida das faixas preferenciais mostra que os motoristas ainda não entendem como funciona a regra do corredor. Já Sávio acredita que os corredores estão “muito bem sinalizados”. “As pessoas sabem como usam os corredores e há sinalização vertical e horizontal, mas há infratores contumazes na cidade”, diz Sávio.

Ele confirma sua posição sob o argumento de que infrações cometidas até mais que o uso das faixas preferenciais são a partir de regras bastante difundidas e que já são de domínio público e, nem por isso, deixam de liderar o ranking em Goiás. Pelos dados do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO), retirados do site do órgão, o uso da faixa exclusiva do transporte coletivo é uma das infrações mais cometidas na capital em 2021, atrás de excesso de velocidade, não uso do cinto de segurança e desrespeito à sinalização semafórica.

“Ninguém acha que precisa sinalizar melhor ou fazer campanha em relação a não poder passar pelo sinal vermelho, todo motorista sabe que não pode e mesmo assim está entre as infrações mais cometidas”, considera Sávio. Para ele, a melhoria nas faixas, com maior respeito dos motoristas em Goiânia com o espaço preferencial dos veículos do transporte coletivo se daria com a inserção de mais pontos de fiscalização.

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