Em um ano de pandemia várias situações vêm mexendo com todos, principalmente com os profissionais que atuam na linha de frente do combate ao coronavírus (Sars-CoV-2).
Na última segunda-feira (15) um carregamento de oxigênio chegou ao Hospital Municipal Antônio Batista da Silva, em Bela Vista de Goiás, na região metropolitana de Goiânia, quando faltava apenas oito minutos para que o oxigênio da unidade acabasse.
Os cilindros e o motorista, que ficaram presos no bloqueio de manifestantes na BR-153, na capital, foram recebidos com palmas e orações, tudo foi registrado em vídeo.
A unidade estava com 11 pacientes com Covid-19 internados na enfermaria e respirando com o auxílio de oxigênio.
A diretora da unidade, Deusmaria Aparecida Batista, conhecida como Deusinha, conta que tudo começou por volta das 7 horas. Um funcionário, que estava de férias, mas que possui experiência com oxigênio pediu às colegas que estavam na unidade para tirar fotos dos relógios e enviar para ele.
Com as imagens ele foi monitorando o consumo de produto e quando constatou que os cilindros não aguentariam até a chegada do novo carregamento previsto para as 10h da manhã avisou a diretora, que foi para o hospital. “Graças a Deus minha equipe é comprometida. De primeiro de março para cá estamos usando 18 balas (cilindro) por dia. Antes era um ou dois pacientes, agora são 10, 11.”
Ao receber a informação, o chefe das ambulâncias do hospital foi até o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e pegou dois cilindros emprestados e arrumou mais dois em um hospital. “No domingo a tarde chegou um carregamento. Recebemos carregamentos semanais.”
Enquanto participava de uma reunião, por vídeo conferência, juntamente com um médico e uma enfermeira da unidade e representantes políticos os dispositivos do oxigênio começaram a apitar, sinal que informa que o produto está acabando. Os três abandonaram a reunião. Cilindros das ambulâncias foram retirados e levados para o hospital e assim a unidade conseguiu manter o fornecimento por mais uma hora.
No meio dessa manobra, uma funcionária do hospital contou que o motorista do novo carregamento tinha acabado de enviar um vídeo mostrando que estava parado no bloqueio de manifestantes em um trecho da BR-153 e não estava conseguindo sair. Mais uma vez, a equipe, de acordo com Deusinha, se uniu.
Enquanto profissionais pegam cilindros espalhados em outros setores do hospital, um médico, com seu carro, e uma enfermeira foram até o município de Passa Quatro, onde pegaram dois cilindros emprestados. Senador Canedo também cedeu um cilindro. Todos os cilindros emprestados já foram devolvidos.
Um maqueiro ficou acompanhando o consumo e quando faltava 20 minutos comunicou a equipe e no mesmo momento o motorista do carregamento avisou que tinha conseguido furar o bloqueio e estava a caminho. “Ele furou o bloqueio, desviou pela contramão, mas chegou.”
Os cilindros chegaram quando faltava apenas oito minutos para acabar todo o oxigênio do hospital. “Pensa em uma cena de filme. Quando você pensa que não tem jeito, dá certo. Juntei todos os funcionários para agradecer a Deus por esse milagre,” desabafa Deusinha.
Reserva
O oxigênio utilizado no hospital é fornecido por uma empresa terceirizada e após a situação ocorrida na segunda, disponibilizou 24 cilindros, que ficaram na unidade. “Para não passarmos novamente por um sufoco como esse.”
Orações
Deusinha, que assumiu a direção da unidade em novembro de 2019, conta que toda a equipe, sem exceção, está abalada e tem buscado na fé um conforto. Nesta terça-feira (16), os profissionais às 15 horas foram para a porta do hospital rezar. A diretora explica que a iniciativa será repetida todos dos dias enquanto durar a pandemia. “Clamamos pelo poder divino. Estamos todos na mesma tempestade.”
Ontem o município registrou quatro mortes por Covid-19, dois pacientes estavam em Bela Vista e os outros dois internados em Goiânia.
