A faxineira que trabalhava na casa de Monique Medeiros e de seu namorado, o vereador Jairo Souza Santos Júnior, conhecido como Dr. Jairinho, afirmou à polícia que a mãe costumava dar ao filho Henry Borel, morto no início de março aos 4 anos, remédio para ansiedade três vezes ao dia, além de xarope de maracujá.
Leila Rosângela Mattos, 57, conhecida como Rose, disse que o menino tomava o medicamento porque, segundo Monique lhe contou, não dormia direito e passava muito tempo acordado. A funcionária acrescentou que a criança "chorava o tempo todo e vomitava de vez em quando" e que o casal também tomava muitos remédios, mas ela não sabe o por quê.
A empregada doméstica prestou depoimento pela segunda vez nesta quarta-feira (14), após os investigadores extraírem mensagens do celular de Monique que indicam que a criança já havia sofrido agressões pelo padrasto antes de morrer, em 12 de fevereiro. A conversa mostrou que Rosângela estava no apartamento naquele dia.
Ela atestou aos policiais que havia fatos a acrescentar ao seu primeiro depoimento, em 23 de março, no qual havia dito que nunca vira nada de anormal na relação da família, e confirmou os acontecimentos que já haviam sido narrados pela babá Thayná Ferreira, 25, na segunda-feira (12).
Ela diz que era uma sexta-feira de Carnaval quando viu Jairinho chegar por volta das 15h15 em casa e Henry correr e pular no colo do vereador para abraçá-lo. Ela estranhou o comportamento e comentou sobre ele com Thayná, que chegou a ligar para Monique para avisá-la sobre o abraço.
O padrasto, então, chamou o menino para o quarto do casal dizendo que ia lhe mostrar algo e eles ficaram ali por cerca de dez minutos, ainda segundo o relato de Rosângela. Enquanto isso, a babá demonstrou preocupação, ficou indo e voltando da cozinha para a sala e comentou que Monique não queria que os dois ficassem sozinhos.
Nesse período, a faxineira contou que foi ao quarto ao lado duas vezes para guardar roupas no armário. Na segunda vez, viu a porta aberta e o menino correndo imediatamente para o colo de Thayná, que estava sentada no sofá da sala. Ela afirmou ter observado que Henry estava com "cara de apavorado" e, depois, que estava mancando.
Jairinho, então, foi sair do apartamento e chamou o garoto para que lhe cumprimentasse com a mão, mas "Henry não quis ir 'bater na mão' de Jairinho, então, Thayná levou Henry em seu colo até Jairinho para que Henry, então, batesse a mão na mão de Jairinho, o que foi feito", diz Rosângela no depoimento.
Ela presenciou quando a criança afirma que havia caído da cama, que o seu joelho estava doendo e quando pediu que Thayná não penteasse seu cabelo porque estava com dor na cabeça. A babá afirmou que não queria ficar sozinha no apartamento com Henry, os três desceram juntos e, de lá, a empregada foi embora para casa. Ela chegou a ligar mais tarde, mas depois não tocou mais no assunto.
Dois dias depois desse acontecimento, no domingo de Carnaval, Rosângela falou com Monique, que estava viajando, para perguntar quando deveria ir trabalhar. A mãe do menino lhe disse que quase voltou de viagem no sábado porque "Henry teve um surto com Jairinho" e que "foi a maior discussão", mas que conseguiu acalmá-lo e, portanto, ficaria até segunda-feira.
Rosângela disse que não informou sobre esses fatos em seu primeiro depoimento porque não se recordava dos acontecimentos. Questionada, também respondeu que, quando se encontrou com o então advogado do casal, André França Barreto, ninguém lhe orientou sobre o que deveria falar em uma entrevista a uma emissora de TV.
Em seu segundo depoimento, a babá disse que havia sido induzida a mentir por Monique, pelo advogado André França Barreto e pela irmã de Jairinho, Thalita Fernandes. No escritório, Barreto teria dito que, "por acreditar em Deus, ela tinha que falar 'para o mundo' o quão pessoas boas eram o casal".
Outro depoimento prestado recentemente foi o de uma cabeleireira que atendeu Monique em um shopping na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, em 12 de fevereiro, no momento das supostas agressões ao menino.
Ela contou que, durante chamada de vídeo com o filho, ele perguntou: "Mãe, eu te atrapalho? O tio disse que eu te atrapalho" e a mãe respondeu que "não, de forma alguma". A funcionária do salão de beleza disse que Henry chorava manhoso e pediu que a mãe voltasse para casa.
Agitada, Monique fez ou recebeu nova chamada telefônica, e começou a conversa dizendo: "Você nunca mais fale que meu filho me atrapalha, porque ele não me atrapalha em nada", ainda segundo o relato da cabeleireira.
Ela também teria dito que ele não iria dispensar a babá. "Se ela for embora, eu vou embora junto, porque ela cuida muito bem do meu filho. Ela não fez fofoca nenhuma, quem me contou foi ele". Em seguida, Monique continuou, segundo a cabeleireira: "Quebra, pode quebrar tudo mesmo, você já está acostumado a fazer isso".
ENTENDA O CASO
Henry passou o fim de semana anterior à sua morte com o pai, que o deixou no condomínio da mãe e do namorado na noite do dia 7 de março, um domingo, sem lesões aparentes. Na madrugada do dia 8, Monique e Jairinho levaram o garoto às pressas para o hospital, onde ele já chegou morto.
Um exame de necropsia concluiu que as causas do óbito foram "hemorragia interna" e "laceração hepática" (lesão no fígado), produzidas por uma "ação contundente" (violenta). Ele tinha no total 23 lesões e hematomas pelo corpo.
Em depoimento, a mãe afirmou que estava assistindo a uma série com o namorado em outro quarto e despertou de madrugada com a TV ligada. Acordou Jairinho, que havia tomado remédios para dormir, e foi até o quarto do casal onde Henry estava dormindo. Chegando lá, teria visto o menino caído no chão, com os olhos revirados, as mãos e pés gelados e sem respirar.
A polícia mais de 20 pessoas durante as investigações, entre elas uma ex-namorada do vereador que o acusou de agressões contra ela e sua filha, na época criança, a psicóloga do menino e as pediatras que o atenderam. Mais de dez celulares foram apreendidos em diferentes endereços ligados à família da criança e à babá.
Após o conhecimento das mensagens trocadas entre Thayná e Monique, os policiais pediram a prisão temporária do casal, que foi aceita pela Justiça. Com essa medida, a Folha apurou que a polícia também quer que testemunhas criem coragem para relatar o que viram.