O funcionamento da Feira Hippie, na Região de Central de Goiânia, às sextas-feiras é motivo de discussão entre os atores que compõem o cenário comercial da área. A Associação da Feira Hippie argumenta que o funcionamento às sextas é imprescindível para a sobrevivência dos comerciantes. Em contrapartida, outros feirantes e comerciantes apontam que a operação da feira neste dia impacta nas atividades comerciais da região.
Atualmente, a Feira Hippie tem a autorização da Prefeitura para funcionar apenas aos sábados e domingos. Entretanto, a liberação para o funcionamento às sextas já aconteceu em outras ocasiões como, por exemplo, os períodos anteriores ao Natal de 2022 e o Carnaval de 2023. A justificativa da Prefeitura é impulsionar a economia devido às vendas anteriores aos feriados.
O presidente da Associação da Feira Hippie, Waldivino da Silva, explica que o funcionamento da feira às sextas é essencial, pois o dia representa em torno de metade do faturamento dos feirantes, já que nesse dia ainda é possível atender aos compradores atacadistas que chegam à região em caravanas, que costumam deixar o local às sextas.
Após o período de liberação para o funcionamento às sextas no início deste ano, Waldivino relata que a associação enviou um documento para a Prefeitura manifestando o interesse dos feirantes a manterem a feira operando nesse dia. “Ficamos funcionando às sextas de abril até o início deste mês” diz. Entretanto, na última quarta-feira (12), Silva afirma que recebeu uma notificação do poder público suspendendo a feira às sextas.
No dia seguinte, os feirantes promoveram uma manifestação pelo funcionamento às sextas e contra a possibilidade de ser feito um sorteio para definir o local dos profissionais na Praça do Trabalhador, local para o qual eles voltaram em abril, depois de três anos e dez meses do início das obras de revitalização. Na data, a praça foi tomada por veículos das forças de segurança que impediram os montadores de iniciarem os procedimentos para a montagem da feira.
Silva afirma que foi marcada uma reunião com representantes da Prefeitura para discutir o assunto. “Será no dia 14 de agosto. Até lá, vamos respeitar. Não vamos montar às sextas. Porém, precisamos que a Prefeitura entenda nossa necessidade”, argumenta o presidente da associação.
Problemas
A presidente da Associação dos Feirantes da Feira da Madrugada, Patrícia Mendes, afirma que a grande complicação em relação ao funcionamento da Feira Hippie às sextas está no horário em que a feira é montada às quintas. “Não tenho nada contra a Feira Hippie trabalhar às sextas. O problema é o horário que eles montam. Os feirantes (da Feira da Madrugada) trabalham até às 22 horas. Eles começam a montar (a Feira Hippie) por volta de 5 horas, quando ainda estamos aqui. Como a gente faz para trabalhar? Toda semana acontece conflitos”, diz.
Ao Daqui, empresários da Região da 44 afirmaram que o funcionamento da Feira Hippie às sextas afeta as atividades comerciais da região, mas destacaram que caso a feira fosse atrativa o suficiente para os compradores atacadistas, as caravanas ficariam na região até sábado. “Isso acontecia antigamente”, pontuou um deles, que preferiu não se identificar. Os empresários consideram que a presença das caravanas na região até os sábados seria positiva para outros empreendimentos como, por exemplo, o setor hoteleiro.
Na avaliação dos comerciantes, os feirantes que compõem a Feira Hippie não conseguiram se adaptar a uma nova modalidade de vendas praticada por uma grande parte dos compradores atacadistas: as vendas online. A dificuldade de contatar feirantes pelo WhatsApp e redes sociais é um dos motivos apontados pelos comerciantes para afastamento dos compradores atacadistas da Feira Hippie.
Os empresários apontam ainda que o funcionamento às sextas faria com que a região tivesse feiras funcionando praticamente todos os dias. “É complicado. Dessa forma, que comerciante vai querer manter as portas abertas pagando impostos e salários? Eles falam que a sexta é o melhor dia. Se é esse o caso, então porque não abrem mão do domingo?”, questionou um empresário que também não quis se identificar.
Entretanto, o presidente da Associação d a Feira Hippie afirma que deixar de funcionar no domingo não é uma opção viável. “Por mais que não tenhamos um grande volume de vendas, o domingo é a alma da feira. Além disso, funcionamos apenas até a hora do almoço”, destaca Waldivino.
Prefeitura
Na edição do Daqui publicada nesta segunda-feira (16), o titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Diogo Franco, argumentou que a pasta tem procurado uma solução pacífica sobre a questão junto aos trabalhadores da Feira Hippie, mas com o foco no funcionamento nas sextas anteriores a feriados.
A matéria também apontou que os feirantes que atuam na Feira Hippie terão um mês para fazer a revalidação da autorização que possuem junto à Prefeitura. Nesta quarta-feira (19), a reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa da Sedec para comentar o assunto, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Funcionamento
O último decreto que dispôs sobre o funcionamento da Feira Hippie foi o Decreto nº 132, de 17 de janeiro de 2023. O documento determina que a montagem das bancas ocorra após às 20 horas das sextas e que feira funcione das 6 horas de sábado às 15 horas de domingo. O decreto foi o que permitiu o funcionamento às sextas apenas entre os dias 20 de janeiro e 20 de fevereiro de 2023.
Por se tratar de matéria de gestão administrativa, a regulamentação do funcionamento das feiras é responsabilidade do Poder Executivo. Dessa forma, decretos são suficientes para promover a alteração das regras de funcionamento das feiras, de acordo com a oportunidade, conveniência e interesse público.