As crises econômicas que o Brasil enfrentou anos aumentaram o desemprego e fizeram com que muita gente partisse para o trabalho por conta própria. Um dos reflexos foi o crescimento das feiras especiais em Goiânia: entre janeiro de 2010 e o último dia 30 de abril, a Prefeitura da capital emitiu 3.203 autorizações para novos feirantes ingressarem em uma das 39 feiras especiais da capital. Como a estimativa é de que existam, hoje, cerca de 11 mil feirantes nestas feiras, houve um crescimento de 41% neste período. Porém, muitas bancas pertence à mesma família há décadas e passam de geração para geração como uma herança
É o caso da bacharel em Direito Letícia Mariane Pereira da Silva, cuja família possui uma banca na Feira Hippie desde ela começou a ser realizada. A mãe dela, Vânia de Fátima Souza Silva, recebeu a banca da avó de Letícia, que começou a trabalhar na feira quando ela ainda era na Praça Cívica. “Minha mãe não tinha com quem me deixar e me levava junto. Fui criada aqui, trabalhando com elas. Aprendi quase tudo que sei aqui. Foi muito bom”, orgulha-se Letícia, que tem outros parentes na feira. Hoje, a produção de moda feminina da família continua sendo vendida na banca, que completa as vendas on-line.
Porém, nos últimos dez anos, com a expansão do polo atacadista de moda na capital e o aumento do desemprego, muita gente foi em busca de novos espaços para trabalhar por conta própria nas feiras especiais. Vale lembrar que a taxa de desocupação saltou de 8,2% no 4º trimestre de 2018 para 12,4% no último trimestre do ano passado. Hoje, existem 834 mil trabalhadores por conta própria em Goiás, sendo 173 mil com CNPJ.
O presidente do Sindicato de Feirantes e Vendedores Ambulantes do Estado de Goiás (Sindifeirantes-GO), Wellington Mendanha, lembra que a Feira Hippie, que começou ainda na Praça Cívica e hoje está na Praça do Trabalhador, foi a pioneira entre as especiais na capital. “Lá, muitas bancas passaram de geração em geração na família”, destaca. Para solicitar um espaço, hoje, é preciso procurar a Prefeitura e se cadastrar para abrir um processo. Porém, ficou difícil conseguir vaga nas feiras mais disputadas.
É o caso da Feira Hippie, a mais tradicional de Goiânia, que hoje tem 5.700 feirantes distribuídos em 19 grandes quadras. O presidente da Associação de Feirantes da Feira Hippie, Waldivino da Silva, informa que os feirantes de lá pagam entre R$ 30 e R$ 60 pela montagem das bancas, além da taxa anual de cerca de R$ 300 para a Prefeitura. Em alguns casos, o feirante é o proprietário das ferragens. Em outros, o dono é o montador. “Se alguém não quiser mais, precisa dar baixa na Prefeitura, pois ela continuará gerando débitos”, alerta.
Espera
O diretor de Habilitação de Atividades Econômicas da Secretaria de Desenvolvimento e Economia Criativa da Prefeitura (Sedec), André Macalé, confirma que existem muitos processos abertos à espera de vagas nas feiras especiais mais movimentadas da capital, como as Feiras Hippie e da Lua. “Nestes últimos dez anos, com certeza todos os dias tivemos processos abertos”, acredita. Segundo ele, alguns pedidos aguardam desde 2018. “É um bom negócio, caso contrário a disputa por espaços não seria tão grande”, acredita Macalé.
Ele lembra que os pontos não podem ser comercializados. Quem desistir, precisa devolver à Prefeitura. Porém, já surgiram algumas denúncias de vendas e locação de pontos nas feiras especiais. André Macalé disse que a atual gestão municipal vai investir num projeto de organização das feiras de Goiânia, principalmente a Feira Hippie, assim que as obras da Praça do Trabalhador forem concluídas, o que pode resultar na abertura de novos espaços.
O feirante paga a taxa de sua atividade e a de uso do solo, segundo o presidente do Sindifeirante. Mas ele lembra que, nas feiras especiais, os feirantes ainda pagam pela locação das bancas, que são instaladas por montadores. O preço varia de R$ 25 a R$ 35 por feira, um valor considerado alto demais. “Isso é errado. O feirante deveria ter a opção de ser dono de sua banca e montá-la. Acho que falta fiscalização da Prefeitura”. O mesmo grupo cobra a taxa de energia.