O número de pessoas na fila de espera para transplantes em Goiás aumentou. Em julho deste ano, eram 2.023 à espera por um rim, córnea ou fígado. No mesmo período de 2022, eram 1.653, um crescimento de 22,38%. No Brasil, a fila conta com mais de 65 mil pessoas à espera de órgãos, um dos maiores números dos últimos 25 anos.
A tendência de aumento registrada em julho se repetiu nos outros seis primeiros meses do ano, sendo que a maior variação foi registrada em janeiro. No primeiro mês de 2022, 1.411 aguardam por órgãos em Goiás. No mesmo período de 2023, eram 1.857, um crescimento de 31,60%. No restante dos meses, a variação ficou entre 22% e 27%.
No Brasil, a doação de órgãos só é autorizada em caso de morte encefálica. “Representam menos de 3% das mortes. Temos um dos padrões mais rigorosos do mundo para chegar a esse diagnóstico. Todo o processo é muito seguro. Muita gente confunde a morte encefálica com o coma. São coisas distintas”, enfatiza Katiuscia Freitas, gerente de Transplantes da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO).
A maior parte da fila de espera em Goiás é formada por pessoas que precisam de doação de córnea. Em julho de 2023 eram 1.599. Em contrapartida, apenas 467 córneas foram captadas entre janeiro e julho deste ano, sendo que 122 eram impróprias. “É um número que precisamos melhorar”, aponta Katiuscia. No caso das córneas, além daqueles que tiveram morte encefálica, os doadores podem ser pessoas que tiveram morte por parada cardíaca e tenham entre 2 e 80 anos.
Katiuscia chama atenção para o baixo número de doações de órgãos feitas em agosto deste ano, em Goiás. “Foram só três. A nossa média tem sido de oito por mês”, afirma. A expectativa dela é que a chegada do Setembro Verde, mês voltado ao incentivo à doação de órgãos e tecidos, melhore os números. “Ano passado, foi muito positivo. Até setembro, a média era de cinco doações por mês. Em outubro, novembro e dezembro subiu para 11”, destaca.
Transplantes
A partir de 2017, o número de transplantes em Goiás começou a apresentar queda, puxado justamente pela redução de transplantes de córnea. Em 2020, o cenário se agravou por conta da pandemia de Covid-19. Desde 2021, o número voltou a crescer, mas ainda não atingiu o patamar pré-pandemia. “É algo que vimos acontecer no País todo”, aponta Katiuscia. Em Goiás, apesar do aumento da fila de espera nos primeiros sete meses de 2023, no mesmo período, o número de órgãos captados cresceu 51,85% e o de transplantes 48,13% (veja quadro).
No último domingo, o Hospital Albert Einstein confirmou que o apresentador Fausto Silva, de 73 anos, terá de passar por um transplante cardíaco. No momento, 386 pessoas estão à espera de um coração no País. Atualmente, somente médicos credenciados fazem a inclusão de um paciente no Sistema Nacional de Transplantes (SNT). O lugar da pessoa na fila depende de uma combinação de gravidade, compatibilidade e tempo de espera. Quem regula a fila, independentemente se paciente é da rede pública ou privada, é o Sistema Único de Saúde (SUS).
Goiás faz transplante de rim, córnea, fígado e medula óssea. “O Ministério da Saúde já autorizou o início do transplante de pâncreas. Os pacientes serão encaminhados para serem avaliados no Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG). Por isso, ainda não existe fila aqui”, explica a gerente de Transplantes de Goiás.
Em relação às pessoas que precisam de transplante de coração ou pulmão, a Central Estadual de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos de Goiás (CNCDO-GO) faz o agendamento para elas serem consultadas e acompanhadas em centros de tratamento de referência em outras unidades da federação. No caso do transplante de coração, é o Distrito Federal e São Paulo. No caso do transplante de pulmão, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Recusas
No Brasil, a captação de órgãos só pode ser realizada após a autorização familiar. Equipes especializadas são treinadas para fazerem o acompanhamento dos casos de morte encefálica e a abordagem às famílias. No caso da doação de córneas, equipes com expertise na captação estão presentes em hospitais e nas unidades do Instituto Médico Legal (IML) e do Serviço de Verificação de Óbito (SVO). Caso não exista receptor no estado ou seja um órgão que o transplante não é feito em Goiás, ele é disponibilizado para a Central Nacional de Transplantes (CNT).
Katiuscia destaca que o principal desafio é fazer com que as pessoas conversem sobre a morte. “Não é um assunto fácil, mas necessário expressar seu desejo para a família. A doação de órgãos salva vidas”, diz. Em Goiás, foram 125 recusas familiares feitas de janeiro a julho deste ano, o que representa 63,45% das famílias entrevistadas.
Os três principais motivos para a recusa familiar foram: integridade do corpo (31,2%), a pessoa não ser doadora em vida (27,2%) e a demora no processo (17,6%). “É importante esclarecer que o corpo não fica deformado. É uma cirurgia como qualquer outra. Fica apenas uma cicatriz. Não existe necessidade de velar em caixão fechado ou nada do tipo. Atualmente, pedimos para as famílias goianas 24 horas para realizar o procedimento”, finaliza Katiuscia.