O relato do filho da confeiteira Fabiana Matos Rodrigues, com informações sobre tudo o que ele viu no dia em que a mãe morreu após ser baleada por policiais militares, foi anexado ao processo judicial na semana passada. A ação dos PMs aconteceu em 2020, em Inhumas. O menino falou sobre a abordagem com uma assistente social do Tribunal de Justiça de Goiás.
"A polícia apareceu e não falou nada, apontou a arma e atirou no olho da minha mãe, e a [adolescente] pegou no coração. Depois, a polícia me pegou no carro e me levou para minha avó e eu fiquei triste", desabafou a criança.
A reportagem entrou em contato com a defesa dos policiais militares, às 15h40, mas não obteve retorno até a última atualização dessa matéria.
O menino contou como os militares chegaram ao carro em que eles estavam, na noite de 8 de outubro. Ele disse que a mãe estava dirigindo devagar numa descida quando a viatura da PM apareceu. Dois policiais se tornaram réus por homicídio.
"Eu vi minha mãe levar um tiro, meu coração acelerou. Eles não pediram para parar, não falou nada, não falou: 'Levanta a mão'. Só apareceu e atirou. O vidro estava aberto e ele atirou", detalhou.
A reportagem pediu nota para o comando da Polícia Militar, por e-mail, às 15h46, para saber se os militares continuam trabalhando nas ruas e aguarda resposta.
Abordagem
No dia da abordagem, a confeiteira foi baleada pelos policiais militares e morreu na frente do filho. Uma prima dela também estava no veículo, ficou ferida e sobreviveu. A família denunciou na época que era erro na ação dos militares.
A PM informou que, ao abordar o veículo da Fabiana, os policiais foram recebidos a tiros e houve confronto. O boletim da época conta que os militares encontraram um revólver e 5 kg de maconha com ela.
Ainda na época da ação, um tio da jovem, João Moreira disse que Fabiana poderia ter se assustado com a aproximação da viatura da PM por não ter carteira de habilitação.
"O carro era do pai dela. Ele emprestou para ela trabalhar. E ela, por não ter carteira, pode ter corrido", disse.
Ele denunciou, na época, que o material apreendido pela PM não pertencia às sobrinhas.
Pedido de indenização
A Defensoria Pública de Goiás (DPE-GO) pediu que o Estado seja condenado a pagar R$ 1 milhão ao Fundo Municipal da Criança e do Adolescente de Inhumas. Para o órgão, os depoimentos dos policiais foram contestados por provas técnicas e depoimento de testemunhas e vítimas, por isso, eles pedem o pagamento de danos morais coletivos.
A reportagem pediu nota para a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) por mensagem para saber se o Estado foi notificado e aguarda retorno.
Na ação civil pública, o defensor explicou que os depoimentos dos os agentes de segurança afirmaram que a condutora do veículo tentou atirar contra eles, que revidaram. No entanto, a DPE-GO disse que os depoimentos dos policiais foram contestados por provas técnicas e depoimento de testemunhas e vítimas.
O defensor afirmou que a dinâmica dos fatos está mais compatível com a “violência policial” do que com uma atuação que seria “justificável” por parte dos agentes. Ele ainda chamou a atuação de “violenta” e disse que a jovem, a adolescente e a criança foram “expostos à morte, ferimentos e traumas”.