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Frente fria atuou para formação de ventania em Goiás

Wildes Barbosa
Parte do telhado e cadeira destruídos com queda de árvore em chácara

A ventania do fim de semana em Goiás tem relação com a combinação entre uma frente fria que avançou pelo Brasil e a umidade vinda da Região Amazônica, Norte do País.

O vento assustou alguns moradores, derrubou árvores, arrastou uma casa, entre outras consequências registradas.

Em Cristalina, as rajadas chegaram a até 57 km/h, por volta das 20h do domingo (20), conforme estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O fenômeno também aumentou a velocidade da movimentação do ar em Mineiros (41,7 km/h) e na Região Metropolitana de Goiânia.

Na capital, no início da manhã, a velocidade era de 5,7 km/h e começou a avançar desde então. Às 14h era de 22 km/h e uma hora depois chegou a 51,4 km/h. Desde então decaiu.

Na quarta-feira, a umidade vinda do Norte do País começou a passar por Goiás. Foi quando houve a nebulosidade que aumentou e persistiu por quinta (17) e sexta-feira (18).

No sábado (19), houve a influência de uma frente fria que vinha do Sul do País, passou por São Paulo, Minas Gerais e atuou diretamente no Mato Grosso do Sul. Ela não chegou a entrar em Goiás, mas influenciou o tempo ao interagir com a nebulosidade que aqui estava e fez a massa de ar seco perder força.

A nuvem de poeira estava aqui no sábado. “Quando você tem um período muito extenso de seca, o solo desagregado, você tem esta possibilidade. Quando avança uma frente fria, que pode vir a trazer chuva também”, afirma o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas no Estado de Goiás (Cimehgo), André Amorim.

Chefe do Inmet em Goiás, Elizabete Alves Ferreira afirma que as condições atuais são favoráveis para o que aconteceu aqui. “Em setembro, início de outubro, eleva bastante a temperatura e há baixa umidade relativa do ar. Esta condição é favorável para a chegada de uma instabilidade com a atuação de frente fria. Pode haver a ocorrência deste fenômeno.”

Até sábado, em Goiânia, havia 67 dias sem chuvas. Mas se desconsiderar uma modesta precipitação de abril, o período chegaria a quase 120 dias.

A combinação de fatores também provocou chuva em Goiás. Ela não foi uniforme. Em Mineiros, por exemplo, houve locais que o acumulado de sábado e domingo chegou a até 50 milímetros (mm). Em outro ponto no município, no entanto, não passou dos 14 mm.

Em Goiânia, a chuva caiu em algumas regiões no sábado e no domingo. Em Aragoiânia, uma família levou um grande susto e teve a área de convivência da sede da chácara destruída pela queda de uma árvore.

“A gente estava na mesa conversando. Começou a ventar, muito mesmo. Comentei com meu tio que estes ventos trazem chuvas muito fortes. Aí começou alguns estalos. Pensei que era algum cabo de energia. Quando olhei para trás, vi a árvore tombar e foi aquela correria”, conta a empresária Janaine Tavares.

Apesar do susto, ninguém se feriu. A destruição foi grande, mas Janaine conta que “aos poucos” a família pretende reorganizar a estrutura do espaço. “Foi tudo muito rápido (...) Olhando lá, pensei ‘como que eu pude correr aquela distância tão rápido?’”.

Em Goiânia, a Defesa Civil afirmou não ter recebido nenhum chamado relativo a ocorrência da ventania.

“Vimos alguns casos pela mídia. Foi uma situação bem atípica. Pegou o pessoal de surpresa”, resumiu o coordenador operacional da Defesa Civil, Anderson Marcos.

Para o próximo fim de semana a meteorologia prevê que uma nova frente fria possa influenciar o tempo em Goiás. Caso isto se confirme, novas áreas de instabilidades podem correr e, consequentemente, não estão descartados episódios de poeira e ventania.

O período atual está sob atuação do fenômeno El Niño. O mesmo, conforme nota técnica no Inpe, começou a se manifestar em junho.

O grau atual é considerado moderado, mas não está descartada a hipótese de isto mudar.

Para setembro as chuvas devem ficar ligeiramente acima da média histórica. Em outubro a previsão do Inmet é que fiquem um pouco abaixo do habitual.

Desarranjo

A chefe do Inmet observa que a ventania vista recentemente se enquadra nos fenômenos extremos. O DAQUI mostrou no último dia 12 mostrou que estas ocorrências tendem a ficar mais severas, frequentes e atípicas. As mudanças no comportamento do clima o tem feito perder o padrão habitual.

Uma análise do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) considera que no Brasil há locais que já aqueceram até 3°C. A análise considerou dados registrados entre os anos de 1961 e 2020.

“Em nível regional, o aquecimento é por vezes muito maior que a média global. E não só no Brasil, mas em várias outras partes do mundo, o que potencialmente amplifica os efeitos da mudança do clima”, afirmou o cientista climático Lincoln Alves na divulgação realizada pelo instituto.

O Centro-Oeste não é a região com as maiores elevações de temperatura, conforme o Inpe. Apesar disto, esta porção do País é apontada por estudo publicado na revista Communications Earth & Environment como uma das regiões mundiais mais suscetíveis a enfrentar as consequências da crise climática global.

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