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Frigoríficos suspendem a compra de bois em Goiás

Algumas indústrias frigoríficas em Goiás suspenderam, temporariamente, a compra de bois, depois que foi anunciado um caso da doença da vaca louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina) no município de Marabá, no Pará. A decisão foi tomada por algumas unidades exportadoras de carne bovina para uma avaliação do comportamento do mercado nos próximos dias, diante da possibilidade de uma pressão sobre o preço da arroba do boi. 

As exportações de carne para a China, principal compradora, foram suspensas nesta quinta-feira (23), seguindo protocolo sanitário oficial. O caso da doença foi confirmado pela Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) e o animal foi abatido e incinerado. Mas a confirmação do tipo da doença ainda depende do resultado de exames que serão realizados em laboratório de referência no Canadá. 

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, disse que as características e sintomas avaliados indicam a possibilidade de uma ocorrência atípica da doença, que surge de forma espontânea no animal e não tem risco de disseminação ao rebanho e ao ser humano. Mas os impactos econômicos já começaram a ser sentidos no mercado. “Quando o mercado suspende suas exportações, cria um certo temor e isso balança um pouco o mercado da carne negativamente”, admite o ministro. 

O empresário Luiz Fernando Coelho, do Frigorífico Boa Vista, que exporta para vários países, informa que suspendeu as compras de bois diante das incertezas e possibilidade de oscilações do mercado. “Ainda não recebemos nenhum comunicado de suspensão por parte de nossos compradores e os abates continuam”, informa. Mesmo assim, a indústria preferiu suspender a compra de bois neste momento de compasso de espera no mercado, quando há uma tendência de recuo de preços.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados de Goiás (Sindicarne-GO), Leandro Stival, confirma que há um movimento de paralisação das compras, com a retirada de animais das escalas de produção, em alguns frigoríficos exportadores no estado. Um dos objetivos, segundo ele, é avaliar como o mercado deve responder a este cenário atual. “Algumas plantas que trabalham mais com exportação já falam em dar férias coletivas até verem como o mercado se comporta”, menciona.

Vale lembrar que somente a China responde por quase 60% ds exportações goianas de carne. Mas Leandro informa que outros países já anunciam a suspensão das compras até a divulgação dos resultados dos exames do animal no Pará. Ele alerta que, após todos os trâmites necessários, o Brasil terá de ter um bom diálogo diplomático para agilizar o desembargo. Em 2021, o Brasil deixou de exportar carne para a China por mais de 100 dias, quando o governo comunicou dois casos atípicos da doença registrados em Mato Grosso e Minas Gerais.

Pressão

O presidente do Sindicarne-GO lembra que algumas indústrias são mais afetadas porque trabalham mais com exportação, chegando a até 70% de vendas externas, além de atenderem mercados mais restritivos. “Com certeza, estas plantas reduzirão sua produção e já discutem a possibilidade de dar férias coletivas”, destaca.

Segundo Leandro, nesta semana, compradores atacadistas já saíram das compras, o que deve pressionar o preço da arroba do boi, cuja cotação média já estava em R$ 245 nesta quinta (23) em Goiás.

Para o presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), Gilberto Marques Neto, a notícia caiu como uma bomba sobre o setor. Ele critica que a notícia foi dada de forma precipitada, sem antes avaliar a veracidade da informação e a devida confirmação do diagnóstico. “Este não é um diagnóstico que pode ser feito por qualquer profissional e requer uma avaliação muito mais completa. Por isso, a divulgação do caso foi feita de forma precipitada”, avalia o pecuarista.

O presidente da SGPA acredita que falta ao País uma certa cautela com relação à divulgação de questões sanitárias, diante da preocupação de outros mercados. “Uma informação importante como esta acaba disseminada de forma equivocada por pessoas que não são do setor”, alerta Gilberto. Para ele, um caso isolado não pode comprometer a economia de um país inteiro, antes da completa finalização do diagnóstico.

Gilberto lembra que a divulgação deste caso da doença acontece num momento de baixa do ciclo pecuário, quando os preços de mercado e as receitas estão muito baixos, diante dos altos custos atuais de produção. Por isso, uma nova pressão sobre os preços poderia inviabilizar a produção. “Não posso ser leviano e fazer acusações com relação aos motivos da suspensão da compra de bois, mas isso não deixa de ser uma oportunidade para tentar baixar ainda mais o preço da arroba”, diz.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas no Estado (Sindiaçougue-GO), Sílvio Yassunaga, conta que os preços ainda estão estáveis. Ele lembra que o produto exportado para o mercado chinês é diferente do comercializado no mercado brasileiro. “Nem todo animal é destinado à exportação. Os que vão para a China já são preparados para este fim”, ressalta Yassunaga. Segundo ele, a arroba vem com tendência de queda desde o início de 2023 por causa do baixo consumo registrado nas festas de fim de ano, que resultou num estoque maior no mercado.

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