Geral

Goiás abrirá 10 novos colégios militares nos próximos anos

Diomício Gomes
Fátima Gavioli, secretária de Educação de Goiás

O Governo de Goiás abrirá 10 novos colégios militares nos próximos anos. O anúncio foi feito pela secretária estadual de Educação, Fátima Gavioli, no Jackson Abrão Entrevista, na manhã desta segunda-feira (18). Atualmente, a rede conta com 82 unidades do tipo, número 43,8% superior as 57 que existiam no final de 2018, antes do início da gestão de Ronaldo Caiado (UB). O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) argumenta que o avanço não é necessariamente benéfico para a Educação.

A Secretaria de Estado de Educação de Goiás (Seduc) não detalhou a localização dos novos colégios. Essa decisão, que é feita em acordo com o Comando de Ensino da Polícia Militar (PM), deve ficar para o início do segundo semestre. Em dezembro de 2022, quando Goiás contava com 64 unidades do tipo, o Daqui noticiou que o estado teria 10 novos Colégios Estaduais da Polícia Militar de Goiás (CEPMGs) a partir de 2023, sendo que quatro seriam novas unidades e as outras seis, escolas cívico-militares que passariam por uma reestruturação. Na época, a vulnerabilidade social foi determinante para escolha dos locais onde as unidades iriam ficar.

Presidente do Sintego e deputada estadual, Bia de Lima conta que no início da gestão de Fátima, a secretária havia se comprometido com o sindicato a não aumentar o número de escolas militares. “Transformar uma escola em um colégio militar não quer dizer que, necessariamente, aquela será uma unidade de ensino melhor”, pondera.

O funcionamento dos colégios militares é envolto de polêmicas. Não são raras as notícias em que estudantes e responsáveis por eles denunciam a cobrança indevida de contribuições mensais nas unidades de ensino. O jornal mostrou casos do tipo em 2020 e 2022, por exemplo. Além disso, estudantes de alguns colégios militares de Goiás já tiveram que experimentar a prática de exercícios físicos no “estilo militar”.

No início de 2022, vídeos de alunos do CEPMG Colina Azul, em Aparecida de Goiânia, carregando telhas até o teto da unidade e reproduzindo palavras de idolatria ao diretor do colégio e ao governador do estado viralizaram nas redes sociais. “Supremo” e “magnífico” foram alguns dos termos usados pelos estudantes da unidade. Pais de alunos da instituição denunciaram a situação ao Ministério Público de Goiás (MP-GO) e o militar que dirigia o local foi afastado.

Em entrevista a Jackson Abrão, a titular da Seduc afastou as críticas de que os colégios militares engessam os estudantes. “A escola militar tem uma diretriz, um objeto, um projeto pedagógico que coloca a disciplina com um poder bem alto”, disse Fátima. Ela ainda destacou que os pais que matriculam os filhos em colégios militares precisam estar cientes do conteúdo do regimento deles. “Não adianta por o filho na escola militar e depois correr atrás de mim dizendo: ‘Olha, meu filho não vai fazer isso lá no colégio militar’. Leia o regimento”, frisou.

Uniformes

Reportagem publicada no dia 8 deste mês mostrou que o valor de R$ 970 que os deputados estaduais aprovaram para que o governo conceda a cada estudante dos ensinos fundamental e médio dos CEPMGs é 3,69 vezes maior que o usado para comprar um kit usado por alunos das outras escolas estaduais, que custa R$ 262,67. Os uniformes possuem quantidade de itens e modelos diferentes, assim como os materiais usados.

Em entrevista a Jackson Abrão, Fátima explicou como o Bolsa-uniforme surgiu. Segundo ela, inicialmente, os pais dos estudantes tinham que comprar os uniformes. Então, a primeira-dama Gracinha Caiado pediu para a secretária licitar os uniformes utilizando recursos do Fundo Protege Goiás, o que foi feito. Segundo Fátima, por conta das diversas especificidades do uniforme, surgiram reclamações. Então, ela procurou a primeira-dama e pediu que a Secretaria de Estado de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) cuidasse da aquisição dos uniformes.

“Em uma reunião com a participação de todos, inclusive minha, decidiram que tendo em vista a dificuldade de licitar e ter um uniforme com a qualidade que eles precisam, entendiam que era melhor repassar um dinheiro no cartão”, esclareceu Fátima. Entretanto, a presidente do Sintego argumenta que situações como essa criam distorções na rede. “O que percebemos é que esses colégios vão se convertendo em uma estrutura a parte da própria rede e não pode ser assim. Tem que dar as mesmas condições para todas as escolas. Não podem existir dois pesos e duas medidas”, frisa Bia.

Tempo integral

De acordo com ela, ao mesmo tempo que é fomentada a abertura de colégios militares, os alunos se sentem desestimulados a frequentar as escolas de tempo integral. “Não basta só converter uma escola para tempo integral no papel. É o que acontece em alguns casos. Qual o incentivo para o aluno ficar o dia inteiro na escola se ela não tem refeitório, condições de práticas esportivas diversas, aulas de artes, línguas, dentre outras coisas? Precisam do incentivo”, conta.

Fátima admitiu considerar o número de estudantes matriculados nas escolas de tempo integral como uma fragilidade da gestão. “Queria ter uma rede que realmente tivesse 50% dos alunos matriculados no tempo integral. Não dei conta disso. Acredita, Jackson? Que frustração para mim. A educação integral é maravilhosa, mas não estou conseguindo”, desabafou.

Ao contrário de Bia, Fátima creditou a problemática em torno dos Centros de Ensino em Período Integral (Cepis) a necessidade que muitos jovens têm de trabalhar para ajudar a complementar a renda doméstica. “Os pais tiram os filhos da escola de tempo integral para trabalhar, para ganharem R$ 200, R$ 300 e R$ 400. Tiram eles desse momento de cuidar da integralidade da sua educação, para depois ficarem condenados ao subemprego, talvez para sempre”, comentou. Para driblar a situação, a secretária estuda aumentar o incentivo financeiro repassado para os estudantes de tempo integral por meio da combinação de contrapartidas estaduais e recursos federais.

Secretária nega censura do livro Avesso da Pele

A secretária estadual de Educação, Fátima Gavioli, nega que o livro Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, tenha sido censurado em Goiás. A obra foi recolhida das escolas estaduais no início de março em meio a uma onda de críticas conservadoras ao conteúdo e linguagem do livro, que tem o racismo como tema central. “Não tem pilha de livro queimado”, destacou.

Ao todo, segundo a secretária, 15 exemplares foram recolhidos para uma análise pedagógica da obra, que deve ser concluída nesta semana. “A partir dessa leitura, vamos encaminhar o livro seja para centros de jovens e adultos, seja para lugares que nós temos exclusivamente ensino médio ou até para a universidade e faculdade”, esclareceu Fátima. De acordo com ela, o livro não será mantido nas unidades com estudantes na segunda fase do ensino fundamental. 

Fátima explicou que foram recebidas “milhares de mensagens” de pais da rede sobre o livro, principalmente relacionadas a descrição de uma cena de sexo entre um homem negro e a namorada, uma mulher branca, que está dentro de um contexto de fetichização dos corpos negros. Ela considerou a cena como de “sexo muito quente” e afirmou que o trecho foi mandado para o governador, para ela e para deputados com pedidos de socorro dos pais. Isso teria motivado o recolhimento da obra.

A explicação de Fátima diverge do que foi apresentado pela diretora pedagógica da Seduc, Alessandra de Almeida, em reportagem publicada em 7 de março. Segundo Alessandra, o que aconteceu em Goiás foi que ao receber o livro do Ministério da Educação, uma escola da rede estadual reclamou para a secretaria que a obra não estava adequada para as turmas do ensino médio. Essa reclamação teria motivado o recolhimento. Questionada pela reportagem, Fátima não explicou a divergência de versões. 

Em entrevista a Jackson, Fátima admitiu que não leu o livro, mas chegou a ver uma peça sobre ele em São Paulo no ano passado. Em relação a uma declaração do autor do livro, que considerou um absurdo a obra estar sendo usada para angariar votos, ela defendeu o governador Ronaldo Caiado, que também admitiu não ter lido a obra. “Talvez ele (autor do livro) tenha se excedido em pensar que a postura do governador era uma postura de pré-candidato. Não. Essa é a postura do governador Ronaldo Caiado no comportamento, no dia a dia e no reflexo daquilo que ele acredita”, avaliou.

Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI