Geral

Goiás chega a 10 mil mortes por Covid-19

Wildes Barbosa

Goiás chega ao patamar trágico de mais de 10 mil mortes por coronavírus sem sinais de melhoras. Até o final da tarde de ontem eram 10.148 óbitos confirmados.

Nos últimos 15 dias foram 1 mil pessoas que perderam a vida devido à Covid-19 no Estado, o que representa uma média de uma a cada 22 minutos, tempo aproximado de espera máxima permitida na fila do banco. Desde o início da pandemia, nunca tantos haviam morrido no Estado em um espaço de tempo tão curto. E tudo indica que o número é ainda maior, já que há atraso nas estatísticas de óbitos mais recentes.

As cenas registradas pela reportagem do DAQUI nas últimas semanas são de uma crise gravíssima em Goiás.

Pacientes graves amontoados no interior em leitos improvisados aguardando por vagas de UTI, corrida por oxigênio nas cidades menores, escassez de medicamento para sedar pacientes entubados, fila de carros funerários no cemitério, exaustão de coveiros, choro de profissionais de saúde e familiares de doentes ou mortos. Tudo isso em meio a insensatez de parte da população, que ainda subestima a pandemia.

Dimensionar a crise sanitária vivida no Estado é um desafio, tamanha a sua proporção. Se as mais de 10 mil vítimas da pandemia em Goiás fossem enterradas em uma mesma vala seria necessário um espaço maior que o de dois campos oficiais de futebol. A quantidade de mortos é o equivalente a toda a população do município turístico de Aruanã e mais que a população de 150 cidades goianas.

Entre os mais de dez mil mortos de Goiás está o prefeito eleito da capital, Maguito Vilela, de 71 anos, que não teve a chance de exercer a vontade do povo; está a médica recém-formada Amanda Tallita, de 30 anos; que não pode exercer a profissão após anos de estudo; está a cantora Cláudia Garcia, de 49 anos, impedida de fazer o show marcado para o dia seguinte; está a aposentada Idelma de Oliveira, de 72 anos, que não pode ter o direito de ter a assistência necessária, em um leito de UTI.

Dez mil mortos nos últimos 12 meses é mais que a quantidade de óbitos por câncer no Estado em 2019, ano com mais casos do tipo desde 1996, quando 6,8 mil tiveram tumores como causa da morte. Os mortos da pandemia em Goiás são mais numerosos que todas as vítimas do vírus da Aids em 25 anos, período em que 5,8 mil morreram no Estado. Mais numerosos que todas as mortes por dengue em Goiás.

Ritmo acelerado

As duas primeiras semanas de março de 2021 já são as piores desde o início da pandemia. Entre os dias 7 e 13 foram 521 óbitos por coronavírus. Na semana anterior foram 433 mortes. A terceira pior semana da pandemia até agora foi entre os dias 23 e 29 de agosto de 2020, pico da primeira onda.

Para se ter uma noção do aumento da velocidade de mortes, a pandemia em Goiás nunca demorou tão pouco tempo para avançar mais mil óbitos, como foi o caso dos últimos 15 dias. O mais próximo disso foi quando houve um intervalo de 17 dias para aumentar de 3 mil para 4 mil mortos, no final do mês de agosto de 2020.

O perfil da maior parte dos mortos pela pandemia em Goiás é de homens, idosos, pardos, com doenças do coração e/ou diabetes. Dos mais de 10 mil mortos, 58% eram do sexo masculino. Dos pacientes que tinham doenças preexistentes, a maior parte eram problemas cardíacos e diabetes. Quando a diferenciação é raça, 67% eram pardos ou negros.

Três de cada quatro óbitos por Covid-19 no Estado são de pessoas com 60 anos ou mais. No entanto, a proporção de mortos com idade entre 40 e 59 anos também é alta. Um a cada cinco mortos por coronavírus em Goiás pertenciam a essa faixa etária. Na última quarta-feira (17), o secretário municipal de Saúde de Goiânia, Durval Pedroso, alertou que a nova variante do coronavírus predominante na capital atinge pacientes mais jovens e de forma mais grave.

Os dados utilizados pela reportagem são da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). Eles são baseados na notificação de óbitos por Covid-19 por hospitais e municípios. Esses dados são distribuídos por data de ocorrência da morte e não pela data de divulgação ou notificação. Nem todas as notificações são completas com informações sobre comorbidades e raça.

Ao analisar esses parâmetros, a reportagem considerou apenas os óbitos com essas informações preenchidas.

Mais óbitos, mesmo com atraso de notificações

O recorde de mortes por coronavírus nas duas primeiras semanas de março acontece mesmo com o atraso na notificação desses óbitos. Municípios e hospitais nem sempre inserem com rapidez a informação sobre aquela morte por Covid-19 no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe). Com a atualização desses casos atrasados nos próximos dias, as estatísticas de março devem se revelar ainda mais letais.

Para se ter uma noção do atraso das notificações de mortes por coronavírus, no dia 11 de março se tinha conhecimento de 75 mortes por Covid-19 no dia 8 de março de 2021. Após a inserção de novos casos no sistema, no início da noite de ontem já eram 91 mortes no dia 8. 

“Há uma defasagem entre o evento (óbito) e a colocação dessa informação no portal. Por exemplo, na terça-feira eu vi que na semana epidemiológica 10 tinham 437 óbitos e que tinha passado do pico de agosto, mas hoje, na mesma semana 10, já temos agora 503”, explica o professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás (UFG). No ano passado, a biólogo da UFG, Thiago Rangel, calculou que cerca de 90% das mortes são notificadas em até 15 dias. 

Durante reunião nesta quinta-feira (18), da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), que é uma espécie instância estadual do Sistema Único de Saúde (SUS), o secretário estadual de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, alertou os gestores municipais sobre esses atrasos nas estatísticas. “Tem muito ‘delay’ de informação de óbito, casos, doses de vacina, leitos que foram abertos”, afirmou. 

 

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