Geral

Goiás pode chegar a 42°C na terceira onda de calor

Fábio Lima
Trabalhador da construção civil em obra na Avenida T-4, em Goiânia: estado enfrenta a 3ª onda de calor seguida

Uma terceira onda de calor pelo terceiro mês seguido começou em grande parte da América do Sul, com cinco estados brasileiros, incluindo Goiás. Desde setembro, por pelo menos cinco dias, a população goiana tem passado por temperaturas que chegam a pelo menos 5°C acima do que a média para o mesmo período. A nova onda de calor em território goiano iniciou nesta sexta-feira (10) e deve durar, pelo menos até o dia 15, mas já há análises de meteorologistas que apontam a continuidade da situação até o dia 20 deste mês. Desta vez, as temperaturas devem chegar a mais de 39°C, com destaque para Aragarças, na região Oeste, onde a previsão é que se tenha até 42°C.

A ocorrência da onda de calor já estava sendo prevista em razão da dificuldade da chegada das frentes frias no centro do continente, já que um sistema de alta pressão se estabeleceu na região. Esse sistema força as massas de ar quente a permanecerem no local, como se tivesse criado um domo. Além disso, cada vez que as correntes sobem da superfície para a atmosfera elas são forçadas a descerem, de modo comprimido e mais quentes, o que eleva a temperatura. A situação atípica é a continuidade e a recorrência dos eventos climáticos considerados extremos.

Meteorologista do Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais do Cerrado (Cempa), da Universidade Federal de Goiás (UFG), Angel Domínguez Chovert explica que o aumento de eventos extremos é resultado das mudanças climáticas. “Isso era previsto. São estudos feitos já há muitos anos, mas a sociedade só percebe quando acontece. Que haveria o aumento de eventos extremos era previsto, só não sabia quais seriam e quais intensidades”, diz. Ele afirma que os pesquisadores em todo o mundo ainda tentam entender o novo padrão das massas de ar na atmosfera, que foram alteradas ao longo dos anos com as mudanças climáticas.

Porém, ele diz ainda que não é possível dizer que a existência de três ondas de calor em seguida seja algo inédito, mas que, de fato, não é algo de fácil acontecimento. “Existe sim a probabilidade de uma onda de calor, mas três seguidas e tão intensas não é algo que acontece normalmente”, avalia. Coordenadora do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em Goiás, Elizabete Alves Ferreira corrobora que a existência das ondas de calor são mais esporádicas. “O que vivenciamos normalmente é o veranico até janeiro, mas agora o que aconteceu foi essa onda de calor. Até tivemos chuvas, mas foram poucas e não foram persistentes”, afirma.

Elizabete não descarta que as chuvas ocorram até mesmo durante a onda de calor, com possibilidade de que isso possa acontecer neste domingo (12), especialmente após o pico da temperatura, por volta das 15h. “A alta pressão fica 10 quilômetros acima da superfície, ocorre a chuva dentro disso, mas ela afasta as frentes frias e as temperaturas continuam altas”, diz. Isso se refere à sensação das pessoas de que nem mesmo as chuvas destes períodos conseguem refrescar o ambiente. Chovert lembra que as chuvas foram irregulares e localizadas, diferente do que era o esperado para o período do ano.

Para a coordenadora do Inmet, o que traz a gravidade da onda de calor aos seres humanos e animais é a persistência das altas temperaturas que chegam a ficar por mais de 7 dias. Os estudos do Inmet apontam que a onda de calor deve prevalecer até o dia 20 deste mês, enquanto que os modelos do Cempa resultam em um prazo até o dia 15. A diferença ocorre pelo tipo de modelo utilizado para realizar os estudos que apontam a previsão do tempo de acordo com cada órgão.

De toda forma, no geral, os meteorologistas explicam que para findar com a onda de calor é necessária uma frente fria forte o suficiente para dissipar a alta pressão e o que tem ocorrido é que os sistemas frontais têm sido fracos. Isso não quer dizer, no entanto, que haverá uma onda de frio após a forte onda de calor. “Não, é só uma frente fria que vá abaixar a temperatura mesmo. Até porque ela passa pela Argentina, Uruguai, região Sul do Brasil até chegar aqui, já sem força. Não é estabelecido que se tenha essa onda depois”, diz Chovert.

Verão pode frear aquecimento 

O gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim, conta que as ondas de calor são diagnosticadas a partir da previsão do tempo, de modo que não é possível identificar se elas vão ocorrer em longo prazo. No entanto, para dezembro, já está previsto que as temperaturas continuem elevadas e acima da média. Porém, em teoria, aposta-se que a mudança da estação do ano de primavera para verão, especialmente com a chegada das chuvas mais prolongadas características dessa época, possa evitar a formação de outro sistema de alta pressão e, logo, uma nova onda de calor.

“Na semana passada é que começamos a ver que haveria uma parada nas chuvas. Tivemos muitas tempestades de outubro a novembro, até com cidades em estado de calamidade, como em São Simão. E aí vimos que daria essa parada e percebemos que poderia ter uma onda de calor”, diz Amorim. Ele confirma que a previsão para dezembro se mantém com temperaturas elevadas e, então, vai depender que a teoria se torne prática com a mudança da estação para evitar uma quarta onda de calor seguida na América do Sul, incluindo Goiás.

Dessa forma, não é possível dizer também que as ondas de calor vão ser um padrão a se perpetuar para os próximos anos. “É algo bem atípico. Tinha aumento de temperatura todo ano, com o veranico, mas não assim. É atípico”, diz Amorim. Ele ainda explica que o surgimento desse evento extremo se dá como consequência ainda do El Niño, que é o fenômeno natural, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico. “Ele já é um passo, aí vem o sistema com alta pressão, com bloqueio atmosférico, com baixa chance de chuva e sol direto na superfície e complementa”, diz.

Em Goiás, Amorim informa que as regiões Oeste e Norte são aquelas que deverão chegar às maiores temperaturas previstas para o estado, em torno de 42ºC. Na capital, a tendência é que a temperatura mais alta chegue à 39ºC. “Tem estudos apontando aí que pode passar dos 40ºC, 41ºC, mas eu estou mais conservador com essa onda de novembro”, diz. Ele argumenta que para configurar que se trata da onda de calor é necessário acompanhar os cenários e ir confirmando se de fato a temperatura foi ao menos 5ºC acima da média daquele período e se isso ocorreu por mais de cinco dias. “Mas fazem isso por modelo numérico e aí podem apontar cenários”, explica.

A onda de calor mais forte até o momento em Goiás foi a de setembro onde o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) verificou que os termômetros chegaram a 39,6ºC na segunda quinzena do mês. Na onda de calor de outubro a média foi de 38,7ºC, e a tendência é que a onda iniciada nesta sexta-feira (10) chegue ao mesmo patamar verificado em setembro passado. O Inmet emitiu um alerta sobre a chegada da onda de calor, informando se tratar de grande perigo. Ao todo, 203 municípios goianos foram citados no relatório do instituto como inseridos dentro da doma de calor, ou seja, que passarão por temperaturas mais elevadas.

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