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Goiás pode perder mais de 300 mil vacinas contra a Covid pela baixa procura

Wildes Barbosa
Vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan

O governo estadual teme que doses da Coronavac que vencem no final de setembro sejam desperdiçadas por conta da baixa adesão da população à vacinação contra a Covid-19. Há cerca de um mês e meio, a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) enviou 346 mil doses da Coronavac para as cidades goianas. O quantitativo é suficiente para aplicar a primeira dose e parte da segunda dose nas 209 mil crianças com idade entre 3 e 4 anos do estado, que são o público-alvo. Entretanto, até agora, apenas 21,5 mil (12%) procuraram pela primeira dose e 1,7 mil (1,1%) pela segunda.

A superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, alerta para o fato de que não se sabe quando novas doses de Coronavac serão enviadas pelo governo federal. No momento, o imunizante é o único liberado para ser administrado em crianças com 3 e 4 anos. “Não podemos garantir quando novas doses irão chegar. Caso essas crianças não se vacinem agora e essas doses sejam perdidas, elas (crianças) correm o risco de ficar sem o acesso à vacina por um tempo.”

Recentemente, a Pfizer pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para incluir a faixa etária de 6 meses a 4 anos de idade na indicação da sua vacina contra Covid-19, a Comirnaty.

Entretanto, até que saia uma decisão, crianças com menos de 3 anos ainda não estão liberadas para se vacinarem contra a doença, e aquelas com 3 e 4 anos só podem se vacinar apenas com a Coronavac.

Apesar de existir a Pfizer pediátrica, a Coronavac também pode ser administrada como primeira e segunda dose nas demais crianças. Adolescentes e adultos também podem receber o imunizante na primeira e segunda etapa do ciclo vacinal. Além disso, ele também serve como possibilidade de reforço para adolescentes e gestantes, mas o número não é expressivo.

Flúvia diz que como as 346 mil doses de Coronavac já foram todas distribuídas para os municípios, no momento não é possível precisar quantas já foram usadas. As doses do imunizante foram enviadas para as cidades goianas tendo como público-alvo as crianças com 3 e 4 anos. A vacinação desta faixa teve início há 40 dias.

Entretanto, mesmo em um cenário hipotético onde todas as 53,7 mil primeiras doses aplicadas em julho e agosto e as 25 mil segundas doses aplicadas em julho (considerando o intervalo de 28 dias entre as doses) façam parte desse lote da Coronavac, elas representam apenas 22% das 346 mil distribuídas entre os municípios do estado. Até 2021, uma dose da Coronavac custava ao Ministério da Saúde 10 dólares (em torno de R$ 51 na cotação atual), o que faz com que o lote valha cerca de R$ 17,7 milhões.

Desperdício

“Vamos ter certeza absoluta sobre as quantidade no final do mês. Os municípios são obrigados a nos relatarem caso tenham que fazer o descarte de uma dose por qualquer motivo que seja. Temos que considerar também que vão existir perdas técnicas, o que é normal. É claro que nosso desejo é que nenhuma dose seja desperdiçada. Esse é o nosso cenário ideal”, esclarece Flúvia.

A superintendente destaca que, desde o início da pandemia, Goiás nunca registrou nenhuma perda de vacina relacionada à data de validade. “Sempre conseguimos fazer esse controle. Entretanto, a adesão está cada vez menor, o que dificulta o trabalho. Era para termos pelo menos 50% das crianças com 3 e 4 anos vacinadas com a primeira dose. A nossa realidade está aquém (12%)”, esclarece.

Porém, mesmo que seja necessário jogar fora um quantitativo de doses de vacina, Flúvia explica que o estado não é punido por isso. “Isso já aconteceu com outros municípios e estados brasileiros. Não afeta nosso cronograma de recebimento em nada. Entretanto, é preciso lembrar que estamos falando de crianças que podem ter complicações na saúde por conta de uma doença para a qual já existe uma vacina comprovadamente eficaz.”

Saúde estuda estratégias

Para evitar que milhares de doses de Coronavac, imunizante contra a Covid-19, sejam desperdiçadas, a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), tem mantido um diálogo com os secretários municipais de Saúde. “Eles têm relato que a adesão está baixa. Entretanto, temos ressaltado a importância de mais do que nunca eles reforçarem em suas cidades a importância da vacinação e de trabalharem ativamente na campanha, fazendo a busca ativa da população que ainda não se vacinou”, explica Flúvia Amorim, superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO.

Flúvia diz que a SES-GO também pede para que os municípios informem caso os estoques estejam muitos baixos. “Assim, podemos fazer o manejo junto a uma outra cidade que tenha um estoque maior. Dessa forma, vamos diminuindo nossas perdas. Temos quase 30 dias até o vencimento dessas doses. Ainda temos um tempo para trabalhar e evitar que essas doses sejam jogadas fora”, destaca. Flúvia pontua que a vacinação do público com idade entre 3 e 4 anos é mais complicada, já que não pode ser feita nas escolas. “Elas têm que estar acompanhadas dos pais. Mesmo assim, é possível.”

De acordo com ela, estratégias como o Dia D da campanha de multivacinação de crianças e adolescentes até 15 anos, que aconteceu no último dia 20, têm sido eficazes e são um exemplo de como fazer a cobertura vacinal aumentar. No dia 12 de agosto, apenas 5,8% das crianças com 3 e 4 anos tinham recebido a primeira dose do imunizante contra a Covid-19. Atualmente, o número aumentou para 12%. “Com o Dia D, além de aumentar a cobertura de outras vacinas, também aumentamos a da Covid-19. Ainda estamos discutindo a possibilidade de promover outros eventos do tipo nas próximas semanas’, adianta a superintendente.

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