Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum de Segurança Pública, apontam que Goiás é o estado que registrou o maior crescimento no crime de homicídio doloso contra a população LGBTQIA+ no Brasil entre os anos de 2020 e 2021. A variação foi de 375%, já que foram registrados 19 casos em 2021 e, em 2020, foram quatro.
Lesão corporal dolosa e estupro contra LGBTQIA+ também subiram vertiginosamente. Em 2020, os registros por lesão corporal eram de 141 casos, enquanto em 2021 o número saltou para 368. Já estupro pulou de 10, em 2020, para 27, em 2021. Um aumento de 170%.
De acordo com o delegado Joaquim Adorno, do Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), da Polícia Civil, o crescimento dos casos de intolerância foram percebidos na especializada.
"Hoje a média é de mais de 20 inquéritos por mês. Já em relação à comunidade LGBTQIA+, são mais de 10 desses inquéritos apenas na região metropolitana. Fora os casos de homofobia e transfobia que a gente não consegue registrar por não haver provas", comentou.
Segundo o investigador, os casos são emblemáticos. Dentre as situações, ele citou um em que um casal de jovens lésbicas foi abordado por um homem em um restaurante. O suspeito as ameaçou de morte caso se beijassem na frente dos filhos, que estavam no local.
"A polícia foi chamada, mas o homem fugiu. Ele está sendo indiciado conforme a lei", contou o delegado.
Em outra situação, duas mulheres casadas usavam a academia do prédio em que moram, quando um sujeito as ameaçou por estarem usando o mesmo espaço que ele. "As pessoas deram vazão à sua intolerância. Estão mais corajosas de expor sua 'opinião'", afirmou.
Investigação especializada
Ele explicou que, em média, a punição para casos relacionados à intolerância vai de 1 a 3 anos de prisão, fora os agravantes. "Nós concluímos recentemente um inquérito em que uma mulher evangélica tentou furar o olho de um homem trans. São casos absurdos de violência gratuita. Simplesmente pelo fato de a pessoa ser LGBTQIA+", revelou Adorno.
O delegado informou que a Geacri existe desde agosto de 2021 e que a criação do grupo especializado contribuiu para ter mais detalhes sobre estatísticas, a qualificação e identificação dos crimes.
"Esses crimes já existiam, mas as pessoas não se sentiam motivadas a denunciar, por conta do próprio sistema. Por viverem em uma sociedade intolerante, as vítimas não acreditavam que teriam algum resultado. Já com a criação do Geacri, houve estímulo para essas denúncias", disse.
Há apenas um ano trabalhando com casos desse tipo, Adorno afirmou que ainda fica impressionado com tanto ódio. "Não sei de onde vem tanto ódio, sem motivos, gratuitos. Não gostam por simplesmente não gostar da pessoa", afirmou.
Segundo ele, os crimes mais registrados pelo grupo são injúria racial contra LGBTQIA+ (homofobia), crime de opinião negativa em relação ao outro e de mera conduta. Quando se torna homicídio vai direto para a Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), então não há registros dessa modalidade no Geacri.
Ao POPULAR, Adorno reforçou que "há um espaço da defesa da dignidade humana" e que as pessoas precisam denunciar os crimes. "Quando se denuncia, a vítima recebe o aporte de uma rede. Ela sente que não está sozinha".