Um levantamento da Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO) junto aos municípios goianos revelou, em números, os motivos da estagnação da vacinação contra a Covid-19 entre os adultos que vivem em Goiás. Por meio de questionários, 63% das pessoas que ainda não receberam qualquer dose das vacinas se recusam a tomá-las; 31% querem escolher o laboratório fabricante e 6% têm outros motivos.
De acordo com a SES-GO, 376 mil moradores do estado com mais de 18 anos ainda não procuraram um posto de vacinação. Segundo as respostas dos municípios à secretaria, 236,8 mil deles estão nos grupos do que se recusam a tomar as vacinas. Os dados foram obtidos por amostragem e busca ativa dos moradores pelas prefeituras.
Com esta resistência por parte da população, a cobertura da primeira dose patina: conforme do Portal Covid-19, da SES, até a tarde desta terça-feira (26), 71,5% dos adultos haviam recebido a primeira dose (45,8% completaram o calendário vacinal).
Apesar de considerar que os números são mais altos, por causa da demora de abastecimento dos dados por parte dos municípios, a superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, admite que o estado pode ter se aproximado de um teto da vacinação. “A tendência é não mudar muito a (cobertura de) D1”, diz. D1 é como os técnicos se referem à primeria dose das vacinas contra a Covid-19.
Em Goiânia, a vacinação de adultos também dá sinais de que atingiu um teto. Na manhã desta terça, 84% da população adulta havia recebido a primeira dose, patamar que vem se mantendo há cerca de um mês. Enquanto isso, 58% dos adultos da capital receberam as duas doses, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
Pesquisa
A estudante Giovanna Rodrigues de Oliveira, de 23 anos, é uma das pessoas que recusam a vacina. Casada e mãe de um menino de 2 anos, ela diz que a opção foi tomada com base em pesquisas pessoais. “Eu pesquiso sobre a vacina. Como a vacina tem um caráter experimental, não tem 100% de eficácia e não impede de pegar a doença, optei por não vacinar”, afirma.
Giovanna cita supostos efeitos colaterais atribuídos à vacina. “Se eu tomar, estou assumindo o risco de ter os efeitos colaterais. Vários estudos já mostram os efeitos colaterais”, diz. A estudante acredita, ainda, que está mais segura por já ter tido a doença.
Flúvia Amorin explica que este tipo de entendimento é equivocado. Segundo a superintendente de Vigilância em Saúde da SES, somente a vacinação completa, mesmo por quem teve o coronavírus, é capaz de conferir um grau maior de proteção. E que os efeitos colaterais já observados não são graves, em sua maioria. “Pior que a reação (à vacina) é a doença”, afirma.
Os resultados positivos da imunização, conforme Flúvia, estão na curva de mortes pela Covid-19 em Goiás. Em 15 de março deste ano, pior dia da pandemia no estado, morreram 173 pessoas em decorrência do coronavírus Sars-CoV-2. A média diária das últimas quatro semanas, de acordo com a superintendente, foi de 15 mortes. (Colaborou: Joyce Vilela Merhin, estagiária do convênio GJC/PUC-GO)
SES-GO espera maior cobertura
Com menos da metade da população com o ciclo de vacinação completo contra a Covid-19, as autoridades de Saúde evitam discutir, por exemplo, a flexibilização do uso de máscara, mesmo em ambientes abertos. De acordo com o secretário de Estado de Saúde, Ismael Alexandrino, para abrir mão do equipamento de segurança, é necessário alcançar 80% da população com duas doses. “Geralmente, as mesmas pessoas que não querem se vacinar são as que não querem usar máscaras. (A flexibilização) está nas mãos delas”, afirma.
De acordo com a superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, no ritmo atual de imunização o patamar de 80% de cobertura completa deve ser atingido somente em dezembro. “Locais que desobrigaram o uso de máscaras antes da hora, como o Reino Unido, agora estão voltando atrás”, lembra.
Goiânia e Aparecida de Goiânia, os dois maiores municípios do estado, ainda não discutem a possibilidade de liberar o uso de máscara, nem mesmo em ambientes abertos, como parques.
Os dados do Portal Covid-19 mostram que, em outubro, o número de pessoas que tomaram a segunda dose, 441 mil, foi menor que em setembro (509 mil) e agosto (1,1 milhão).
Para Flúvia Amorim, isso ocorre por causa do prazo entre as doses.
Uma das alternativas usadas em outros estados para convencer os retardatários a se vacinarem é o chamado passaporte sanitário. O tema chegou a ser debatido em Aparecida de Goiânia, mas a discussão esfriou com a melhoria dos indicadores sanitários.
Para o secretário estadual Ismael Alexandrino, o assunto tornou-se tabu. “Eventos e shoppings, por exemplo, poderiam exigir a vacinação para acesso, tenha esse nome de passaporte ou não”, acredita. Não há, porém, intenção do estado, neste momento, impor o documento - mesmo porque os municípios terão autonomia.